Leituras criativas de uma sondagem
1. A parte do complexo mediático dominante que mais
ou menos ostensivamente partilha com a direita o seu modo de encarar a
realidade teve hoje uma notícia que lhe deu um pequeno alento. Um barómetro de
opinião da Aximage revelou uma descida de 2,3% em comparação com o mês anterior
nas intenções de voto no PS. Soube-lhes a pouco, dada a furiosa campanha que
desenvolveram contra o governo, em consonância com a vozearia histérica dos
partidos da direita. Mas para empalidecer um pouco mais a alegria da matilha mediática, o PSD, ao descer
uns irritantes 0,1 % quedou-se nus modestos 26,5% que o mantêm bem longe do PS (37,6%).
O CDS manteve uns agonizantes 0,8% e até o irresistível Chega, em vez de subir,
desceu de 7,7% para 6,5%.Foi necessário a IL para salvar a honra
do convento, ao subir 2,2 % para chegar a 5,7%.
Só em conjunto a direita podia esconder o quão esquálidos eram estes
resultados para os seus objetivos.
Na verdade, embora em relação ao barómetro do mês
anterior no seu todo tivesse apenas subido de uns pífios 0,9 %, a descida de 2,3%
do PS permitiu-lhe ter em conjunto uma percentagem de preferências superior em
1,9% à do PS.
Estranhamente, esta magra vantagem destituída de
qualquer significado prático foi o grande aspeto que ridiculamente quiseram
extrair da sondagem os vozeadores correntes. Esqueciam assim grosseiramente os 14, 8% dos outros três partidos de esquerda considerados
na sondagem ( BE-7,7; CDU -5,8; Livre- 1,3), bem como os 4% do PAN.
2. Este exercício estéril, de mero aproveitamento
mistificatório de uma sondagem, tem como efeito banalizar politicamente um
pouco mais os neofascistas do Chega, ao considerá-los em conjunto com a direita
democrática. Talvez porque sem eles a direita democrática penaria nuns frágeis
33% que a colocariam ainda mais longe de um governo seu, afinal com a mesma percentagem que tinham alcançado
em 2019.
Na verdade, contra os 52,4% do conjunto da esquerda
de que valem os 39,6% do conjunto da direita? Em termos de um possível governo
- nada.
A não ser que queiram ressuscitar o fantasma apagado em 2015: o sonho de que o PS se tiver menos votos do que a direita a deixará formar governo e governar. Sonho tolo! Convençam-se de uma vez por todas: se quiserem formar um governo democrático de direita conquistem uma maioria parlamentar de direita.
Sem comentários:
Enviar um comentário