segunda-feira, 1 de março de 2021

Leituras criativas de uma sondagem

 

  Leituras criativas de uma  sondagem

1. A parte do complexo mediático dominante que mais ou menos ostensivamente partilha com a direita o seu modo de encarar a realidade teve hoje uma notícia que lhe deu um pequeno alento. Um barómetro de opinião da Aximage revelou uma descida de 2,3% em comparação com o mês anterior nas intenções de voto no PS. Soube-lhes a pouco, dada a furiosa campanha que desenvolveram contra o governo, em consonância com a vozearia histérica dos partidos da direita. Mas para empalidecer um pouco mais a  alegria da matilha mediática, o PSD, ao descer uns irritantes 0,1 % quedou-se nus modestos 26,5% que o mantêm bem longe do PS (37,6%). O CDS manteve uns agonizantes 0,8% e até o irresistível Chega, em vez de subir, desceu de 7,7%  para  6,5%.Foi necessário a IL para salvar a honra do convento, ao subir 2,2 % para chegar a 5,7%.  Só em conjunto a direita podia esconder o quão esquálidos eram estes resultados para os seus objetivos.

Na verdade, embora em relação ao barómetro do mês anterior no seu todo tivesse apenas  subido de uns pífios 0,9 %, a descida de 2,3% do PS permitiu-lhe ter em conjunto uma percentagem de preferências superior em 1,9%  à do PS.

Estranhamente, esta magra vantagem destituída de qualquer significado prático foi o grande aspeto que ridiculamente quiseram extrair da sondagem os vozeadores correntes. Esqueciam assim grosseiramente os 14, 8% dos  outros três partidos de esquerda considerados na sondagem ( BE-7,7; CDU -5,8; Livre- 1,3), bem como os 4% do PAN.

2. Este exercício estéril, de mero aproveitamento mistificatório de uma sondagem, tem como efeito banalizar politicamente um pouco mais os neofascistas do Chega, ao considerá-los em conjunto com a direita democrática. Talvez porque sem eles a direita democrática penaria nuns frágeis 33% que a colocariam ainda mais longe de um governo seu, afinal  com a mesma percentagem que tinham alcançado em 2019.

Na verdade, contra os 52,4% do conjunto da esquerda de que valem os 39,6% do conjunto da direita? Em termos de um possível governo - nada.

A não ser que queiram ressuscitar o fantasma apagado em 2015: o sonho de que o PS se tiver menos votos do que a direita a deixará formar governo e governar. Sonho tolo! Convençam-se de uma vez por todas: se quiserem formar um governo democrático  de direita conquistem uma maioria parlamentar de direita.

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