Um exemplo elucidativo
Há uns dias atrás, ouvi o Sec. Estado da Saúde
explicar numa entrevista na RTP em que ponto estava o processo de mudança na
estratégia de testagem. Distinguiu dois planos.
O primeiro, traduziu-se na decisão de passar a testar
os contactos de novos infetados de um risco menor do que aquele pressuposto na
atual estratégia ( testar mais). Para isso, era necessário proceder a alguns ajustamentos
legais e modificar alguns funcionamentos padronizados das estruturas administrativas envolvidas. As
modificações legais seriam publicadas nessa noite. As medidas preparatórias
implicadas estavam a ser concretizadas.
O segundo plano implica que se passem a aplicar estratégias
de testagem que não se radiquem no aparecimento de novos casos; o que implica
selecionar as organizações em cujo âmbito decorrerão as testagens sistemáticas,
determinar as regras e a periodicidade. Envolvia diversos Ministérios e
diversos tipos de entidades, quer públicas quer privadas, o que implicava um processo
de participação múltipla naturalmente complexo, que estava em marcha.
Pouco depois, numa outra estação televisiva um
conhecido autarca do PS numa análise sobre toda esta problemática, sem qualquer
acrimónia antigovernamental, fez
diversas considerações sobre a questão acima referida em que mostrou
desconhecer por completo o que meia hora antes o Sec. Estado havia dito. Estava
em causa o alegado facto de o governo ter afirmado uma mudança de estratégia
para reforço da testagem e nada ter
acontecido até então. A sua reação foi cautelosa, mas revelou o desconhecimento que
referi.
Desde então, prosseguiu a campanha de diatribes por
causa dessa suposta incongruência, sem que ninguém parecesse conhecer o que o membro
do governo acima referido tinha dito na RTP. Partidos da oposição, comentadores
e jornalistas continuaram com o mesmo discurso como se nada tivesse sido dito
publicamente que os levasse, pelo menos a modelar o que tinam vindo a dizer.
E mantem-se essa nuvem insalubre de confusão que tem
como pressuposto implícito a ideia de
que tendo o governo decidido hoje uma mudança de estratégia, ela pudesse num
golpe de magia estar a ser posta em
prática amanhã. Sintomático. É evidentemente legítimo que se discuta o que o SE
disse sobre o caso, mas não é possível continuar a falar-se como se ele nada
tivesse dito.
Um sugestivo exemplo da nuvem de
superficialidade demagógica que paira no espaço público.
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