quarta-feira, 31 de julho de 2013

A MENTIRA TEM PERNA CURTA.

A ministra albuquerca recitou ontem na Assembleia da República um guião argumentativo cuidadosamente preparado por especialistas. O essencial da táctica seguida foi ocultar sob uma catadupa de considerações e informações técnicas o que estava realmente em causa. E o que estava realmente em causa, neste caso, quanto à ministra,  só indirectamente tinha a ver como a tarefa central da  Comissão Parlamentar. O que estava em causa no imediato era saber se a ministra tinha ou não mentido, sendo para esse efeito meramente instrumental o conteúdo do que disse.

Estava pois em causa  uma afirmação sua prestada na Comissão, através da qual expressamente disse que o anterior Governo não tinha dado qualquer informação sobre contratos "swaps” ao actual governo. Não foi uma afirmação desvalorizadora do tipo de informação recebida foi uma explícita alegação da sua completa ausência.

 Ora os próprios elementos factuais usados pela ministra na sua intervenção desmentem a veracidade dessa ausência. Ela adjectivou depreciativamente as informações recebidas, mas ao fazê-lo reconheceu implícita mas inequivocamente que as tinha recebido Tentar modular negativamente a qualidade da informação recebida, desvalorizando-a é, em si, um reconhecimento tácito de que, quando a ministra  alegou ausência de informação por parte do anterior governo, mentiu. Portanto, a alegadamente feliz prestação da ministra albuquerca na Comissão Parlamentar de ontem realmente não foi mais do que uma confissão, quiçá involuntária, de que realmente mentira aos deputados numa sessão anterior.


Aliás, se assim não fosse, não teria feito sentido um comunicado do ex-Ministro  Gaspar no qual, na sequência da mentira da ministra, se viu obrigado a vir a público desdizê-la, ao afirmar expressamente que ele próprio havia recebido informações sobre o assunto do anterior governo.

Apesar da grande lavagem mediática, sofregamente posta em prática pela máquina de propaganda do governo e pelos seus lacaios comunicacionais, ficou claro que na verdade a ministra mentiu. Todo o circo montado e toda a estratégia de ocultação desenvolvida servem para sublinhar o facto de não estarmos perante um deslize circunstancial próprio da inexperiência política de quem nele incorreu, mas perante uma mentira propositadamente dita para desacreditar falsamente um outro governo. Mostrando quão volátil é a sua ética, uma vez descoberta a albuquerca fugiu para diante, recusando-se a admitir a verdade da sua mentira e insistindo arrogantemente nas suas diatribes. O primeiro-ministro declarou-lhe apoio , mostrando assim quão hipócrita é o seu estender de mão ao PS, na conjuntura que atravessamos. De facto, estender melifluamente a mão a um partido e apoiar contra ele um comportamento tão rasteiro como o que a albuquerca teve não é uma linha política é uma hipocrisia militante. 

terça-feira, 30 de julho de 2013

PALHAÇOS ?


Um grupo de cidadãos, como acima se pode ver [entre os quais identifico um velho amigo], resolveu assistir a um debate  na Assembleia da República. Alguns deles, por misteriosas razões, resolveram reforçar o respectivo nariz com uma bola vermelha, semelhante às que alguns palhaços usam, por vezes, quando se divertem e nos divertem.

Uma revoada de polícias desabou de imediato sobre eles, arrancando-lhes os referidos apêndices. Apreciei a diligência dos "cívicos". Mas fiquei a pensar para com os meus botões.

Em que lei se basearam as policiais criaturas para tão celeremente arrancarem os suplementos de nariz a pacatos cidadãos ? Haverá nos parágrafos mais escondidos do regulamento da AR um preceito que proíba suplementos de nariz ? Todos os narizes, ou só os vermelhos? Só nas galerias ou também na sala do Plenário da AR ? Em caso afirmativo, a proibição estende-se ao Governo, ou apenas abrange os deputados ? Todo o Governo ou só os ministros mais histriónicos?

Interroguei-me também sobre o impulso enérgico que animou os polícias. Considerariam eles que uma tão inovadora forma de expressão só podia ser uma tentativa  de agressão ao Governo, o qual  para os policiais era o único  destinatário óbvio da imputação de palhaços?

É o que pode chamar efeito "boomerang", em termos simbólicos: ao atropelarem os direitos civis dos cidadãos com nariz vermelho, para defesa do Governo, os polícias mostraram que os únicos palhaços verosímeis presentes na AR eram os membros do Governo.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

PIXORDICES 30 - a falsa desmentira


O PAPA VISTO POR LEONARDO BOFF.


“Este é o papa da ruptura” : é o título de uma entrevista feita a Leonardo Boff teólogo brasileiro e um dos mais altos expoentes da teologia da libertação. Foi publicado no site da Deutsche Welle /Brasil . Foi feita antes da ida do papa ao Brasil, publicada no passado dia 22 de julho, podendo agora ser confrontada com o modo como a visita  decorreu. A entrevista é mais um elemento para nos ajudar a compreender se há algo de potencialmente novo na Igreja Católica na esteira deste Papa. No caso português, apesar da marca conservadora predominante na hierarquia católica, não se pode deixar de valorizar tudo o que lhe diga respeito, tão significativa é a percentagem de portugueses que são católicos.  Se o novo Papa conduzir realmente a Igreja Católica para dentro dos explorados e oprimidos, se a tornar amiga dos pobres e realmente inimiga da pobreza, muita coisa poderá mudar na paisagem político-social do nosso país.
 Num pequeno texto que antecede a entrevista, Boff  é apresentado como , “um dos principais críticos do conservadorismo católico”, referindo-se que ele  “elogia Francisco, afirmando que ele começou uma reforma do papado e pode dar início a uma dinastia de papas de países do Terceiro Mundo.”
E prossegue : O papa Francisco vai inaugurar uma nova era para a Igreja Católica durante a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. Essa é a convicção do teólogo Leonardo Boff, que em 1992 deixou todos os cargos na igreja, após ser censurado pelo Vaticano”.
E o texto de apresentação continua : Em entrevista à DW Brasil na sua casa em Petrópolis (RJ), o teólogo elogiou Francisco, afirmando que ele é o papa da ruptura. "Essa é a palavra que Bento 16 e João Paulo 2º mais temiam. Eles acreditavam que a igreja tinha que ter continuidade", avaliou Boff.
O teólogo, um dos expoentes da Teologia da Libertação, disse acreditar que Francisco vai falar sobre os recentes protestos no Brasil. "Ele fez uma declaração corajosa em Roma, dizendo que os políticos têm que escutar os jovens na rua; que a causa dos jovens é legítima, justa e que estaria em conformidade com o evangelho."


DW Brasil: No Rio de Janeiro, mais de um milhão de fiéis católicos vão se reunir e celebrar a fé durante a Jornada Mundial da Juventude. No século 21, o cristianismo ainda precisa da figura de um papa?
Leonardo Boff: Fundamentalmente não precisaria de um papa. A igreja poderia se organizar numa vasta rede de comunidades. Mas, à medida em que a igreja foi se transformando numa instituição e assumindo uma função política no Império Romano, ela assumiu também os símbolos do poder: o próprio nome "papa", que era exclusivo dos imperadores, e aquela capinha cheia de ouro, que só os imperadores podiam usar, mas que os papas todos usavam. Então, esse curso de uma igreja que tem uma função política dentro do Império Romano em decadência obrigava a igreja a ter um centro de referência. Francisco, quando ofereceram a ele aquela capinha, disse "O carnaval acabou, não quero isso".
Então, esse papa chegou para mudar?
Eu acho que esse é o papa da ruptura. Essa é a palavra que Bento 16 e João Paulo 2º mais temiam. Eles acreditavam que a igreja tinha que ter continuidade, portanto o Concílio Vaticano Segundo não poderia significar ruptura com o Primeiro. Mas não, agora há uma ruptura, a figura do papa não é mais a clássica, é outra. Francisco não começou com a reforma da cúria, começou com a reforma do papado.
O que você quer dizer com "reforma do papado"?
Na Europa vivem só 24% dos católicos. Na América Latina são 62%, e o restante está na África e na Ásia. Então hoje, o cristianismo é uma religião do Terceiro Mundo, que um dia teve origem no Primeiro Mundo. Acho que o papa Francisco vai criar uma dinastia de papas do Terceiro Mundo. Além disso, as nossas igrejas já não são mais igrejas de espelho, imitando as europeias; são igrejas fonte, criaram suas tradições, têm os seus mártires, seus mestres, suas formas de celebrar, têm suas teologias e profetas e figuras importantes, como dom Hélder Câmara e Óscar Romero. Essas igrejas estão dando vitalidade ao cristianismo.
Por que o senhor está tão otimista? Os problemas da Igreja Católica continuam: a exclusão dos divorciados, a discriminação dos homossexuais, a proibição de mulheres-sacerdotes...
O papa deu um exemplo claro. Ele soube que um pároco em Roma negou o batismo ao filho de uma mulher solteira. E o papa disse: "Esse padre está errado, porque não existe mãe solteira. Existe mãe e filho. E ela tem o direito de ver o filho batizado, porque a igreja tem que ter as portas abertas, pouco importa a condição moral da pessoa". E ele foi mais fundo ao dizer que não se pode inventar um oitavo sacramento, proibindo os fiéis que não se enquadrem na disciplina eclesiástica de participar da vida da igreja e dos sacramentos. Até agora, os temas de moral sexual, de moral familiar, de celibato e de homossexualidade eram proibidos de serem discutidos. Se um teólogo ou um padre discutisse esse assunto, era logo censurado. Agora, ele vai permitir a discussão.
No Brasil, nas últimas semanas, milhares de jovens foram às ruas protestar contra os políticos corruptos e os altos investimentos nos estádios de futebol. Qual é o recado que o papa vai dar aos jovens?
Ele fez uma declaração corajosa em Roma, dizendo que os políticos têm que escutar os jovens na rua; que a causa dos jovens é legítima, justa e que estaria em conformidade com o evangelho. Eu acho que ele vai fazer uma convocação crítica aos políticos, para que eles não sejam mais corruptos e passem a servir mais ao povo. E vai fazer um desafio aos jovens de continuar a transformação da sociedade, mas sem violência. E aí exclui todos esses vândalos que nos últimos dias mostraram uma violência absolutamente injustificável e estúpida.
O senhor disse que os programas sociais no Brasil "incluíram uma Argentina inteira na sociedade brasileira". Por que então as pessoas protestam contra o governo brasileiro?
Curiosamente, elas não são contra o PT, a Dilma ou o Lula. Elas mostram uma insatisfação geral com o Brasil que temos, que é um país com profundas desigualdades. São 5.000 famílias brasileiras que controlam 43% de toda a riqueza nacional. Além disso, o próprio PT atingiu o seu teto. Ou ele muda e refaz a sua relação orgânica com os movimentos sociais, ou ele se transforma num partido como os demais, que buscam o poder e acabam se corrompendo.
A classe média brasileira parece não estar gostando tanto dos programas de inclusão social do governo brasileiro. Ela foi deixada de lado?
Com Lula, os ricos ficaram mais ricos, e os pobres saíram da pobreza. Todo mundo ganhou. Eu creio que o governo do PT não fez só uma distribuição de renda, favorecendo os pobres, mas também fez uma redistribuição. Tirando de quem tem e passando para quem não tem. Só que ele não aplicou isso às grandes fortunas. Ele tirou da classe média, que ficou mais pobre.
O senhor acredita que os políticos vão atender ao recado do papa na Jornada Mundial da Juventude?
Eu acho que ele vai ser muito importante para a América Latina, porque o modo de ser dele vai reforçar as novas democracias, que nasceram na resistência aos militares e estão fazendo boas políticas sociais para os pobres, com inclusão. Então, ele tem uma função política importante. A Cristina Kirchner, que vivia em polêmica com ele, entendeu a lição e fez as pazes. Mas por quê? Porque o papa move multidões. Talvez ninguém no mundo hoje possa reunir um milhão de pessoas. Político nenhum, nem mesmo o Obama.
Mas a Igreja Católica perdeu poder e influência?
Institucionalmente, a igreja no Brasil está numa profunda crise. Pelo número de católicos, deveríamos ter 100 mil padres. Temos 17 mil. Criou-se um vazio, pelo qual entraram as igrejas pentecostais. E com razão. Como o povo é religioso, quem vem falar de Deus, ele [o povo] adere, porque indo para Deus, podemos somar sempre. Para batismo, casamento e enterro, é a Igreja Católica. Para saber o outro lado do mundo, ele vai para o espiritismo. Para as questões de sorte e amor, ele vai num centro de macumba. O povo não tem uma visão doutrinária, tem uma visão prática. É um supermercado religioso, com muitos produtos, e o povo vai se servindo.
Com Francisco, a Teologia da Libertação vai voltar?
Com este papa, ela vai ganhar visibilidade. Antes se dizia que a Teologia da Libertação era uma teologia marxista. Agora se diz que ela é uma teologia católica. Isso muda a atmosfera da igreja.
[Autoria: Astrid Prange, do Rio de Janeiro
Edição: Alexandre Schossler ]


sábado, 27 de julho de 2013

DUAS PERGUNTAS SIMPLES

Uns estão determinados a destruir-nos, outros acham que não há outra solução que não seja a nos destruir. Os primeiros estão certos que só eles são rigorosos nessa lúgubre coragem. Os segundos consideram-se longe da malvadez dos primeiros, cobertos de generosidade e estão convencidos que não são cúmplices da destruição.


1. Se houvesse banco de réus para o julgamento deste crime só lá tinham lugar os primeiros?

2. Porque razão há-de o PS vergar-se perante aqueles  o querem destruir, para poderem destruir o país mais tranquilamente ?

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O IMBECILÉRIO CONTRA A BOLÍVIA.


É preciso determinar com especificação púbica quem foi o imbecil que fez  juntar o nome de Portugal ao lamentável episódio internacional de servilismo aos USA, dirigido contra o Presidente da República da Bolívia.
Não está em causa a consistência  das motivações  invocadas, evidentemente fúteis e alheias ao interesse nacional, dado que são inequivocamente insuficientes para justificarem a proibição de sobrevoo  de Portugal pelo avião presidencial boliviano. Esconder o servilismo político em face dos USA numa alegação de vagas e indetetáveis “razões técnicas” é apenas um agravamento da rasteirice cometida, pelo cobardia política que revela.
Sendo uma das raras áreas da politica externa portuguesa  que o governo PSD/CDS não  destroçou , a valorização da amizade ibero-americana, especialmente importante na atual conjuntura de crise, foi varrida num momento de excesso de zelo gratuito e idiota. É uma metáfora sugestiva da ligeireza política “portocoelhista” que tem assombrado Portugal.
Que tudo isso tenha sucedido à notícia de que os USA espiavam a União Europeia é apenas  um acréscimo de ridículo.
Que um governo francês de esquerda tenha alinhado  no dislate em causa é mais um motivo de melancolia.

Ficamos com vontade de dizer: sejam gente ! Dêem  pelo menos a  impressão de alguma verticalidade.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

SUBTRAÍRAM O GASPAR !

A Albuquerca, uma shuopa de eleição, foi erguida até ao cume do inefável colectivo que tem no governo arcado com a pesada tarefa de destruir Portugal. O Zé Povo, teimoso,  e o fantasma do Dom Afonso, de toledana em punho, têm resistido, tornando as coisas ainda mais  difíceis e o mérito  do actual ingoverno  desportuguês mais inquestionável . Reconheçamos que a perda do mais rápido licenciado da história portuguesa, o apressado Relvas, veio tornar mais frágil a artilharia mediática dos referidos “muchachos”. Substituíram-no por um brilhante currículo ambulante, a abarrotar de títulos autênticos e certificados, autor de afirmações de transcendente profundidade, conquanto feridas pelo ligeiro senão de nenhum mortal lhes descobrir uma qualquer importância, ainda que ligeira. Por isso, quando o autómato Gaspar cometeu a desequação  de se demitir do ingoverno desportuguês um perigoso sopro lírico assombrou a serenidade numérica da Gasparlândia. Por uma vez na vida, o homem tão habituado a subtrair-nos o nosso dinheiro subtraiu-se a si próprio da arena pública. Consta que vai ocupar num grande banco internacional a chefia do departamento dos modelos errados,  mas com forte aptidão de gerar lucros aos banqueiros à custa dos cidadãos.
Vozes inconvenientes já disseram que a Albuquerca, coberta de condecorações  por negócios ruinosos, não conseguiu chegar tão alto como  o bichano Gaspar. Ele e mais ninguém roubou ao versátil Portas o lugar mais junto de Coelho. A Albuquerca ficará com a pasta das finanças mas um enorme degrau abaixo de Portas.Tragédias no copo de água que alegadamente nos governa.

Por mim, tudo isto vai fazendo com que  o atual ingoverno desportuguês  vá deixando de ser um tema de política, mesmo quando baixa, para se transformar num filme de humor. Porém,
 atendendo aos estragos que faz na vida das pessoas: de humor negro.