terça-feira, 29 de setembro de 2009

Eleições alemãs - o preço do bloco central

1. A infogravura acima apresentada, transcrita do site do semanário "Der Spiegel", mostra um sugestivo panorama dos resultados das eleições legislativas alemãs do passado dia 27 de Setembro. Venceu a coligação democrata-cristã, CDU/CSU, encabeçada pela srª Merkl, que se manteve assim à frente do governo alemão, embora abandonando os seus antigos parceiros sociais-democratas(SPD), pelos seus novos parceiros liberais (FDP).
Apesar de vencer as eleições, a CDU/CSU teve o seu pior resultado, desde 1949 (33,8%), enquanto o SPD teve o seu pior resultado de sempre (23%). Em contrapartida, os outros partidos, FDP (liberais-14,6%), Die Linke ( A Esquerda -11,9%) e Die Grünen ( Os Verdes - 10,7%), tiveram os seus melhores resultados de sempre.
Os dois partidos de direita somam agora 48,4%, enquanto os três partidos de esquerda somam 45,6 %, o que se traduz numa maioria parlamentar folgada da direita. Recorde-se que em 2005, o SPD, os Verdes e a aliança política que deu origem ao novo partido de esquerda, tinham em conjunto uma clara maioria parlamentar. A CDU/CSU foi então o partido mais votado, com uma pequeníssima vantagem sobre o SPD, o qual aceitou ser acólito da Srª Merkl numa grande coligação, recusando a hipótese de liderar um governo das três forças de esquerda então existentes.
O SPD tentou então congelar a possibilidade de afirmação de uma nova força política ( Die Linke) no panorama alemão, recusando coligar-se com ela. Não conseguiu. O novo partido ganhou vida, tendo vindo desde então a entrar para os parlamentos de diversos estados alemães e tendo atingido cerca de 12% nas recentes eleições. Nesta campanha o SPD insistiu na política de exclusão de qualquer aliança nacional com Die Linke, embora já tenha entrado em coligações com ele em governos estaduais. O SPD pagou um duro preço pela sua participação no bloco central alemão nestes últimos quatro anos: desceu 11,2%, enquanto que o seu parceiro(CDU/CSU) teve uma quebra modesta de 1,4 %.
A réplica alemã do "blairismo", o chamado "Novo Centro", continua assim a sua marcha lenta mas persistente, para o abismo.


2. Um dado elucidativo, que indicia uma mudança qualitativa no sistema político alemão, é a evolução da força eleitoral dos dois maiores partidos, desde 1976 até hoje ( veja-se a infografia, acima publicada). Como vimos, o contraponto à decadência evidenciada pelo gráfico é a conjugação dos resultados dos outros três partidos, cada um dos quais ficou, pela primeira vez acima dos dez por cento, somando todos eles 37,2 %.

Mas vale a pena sublinhar que a decadência do SPD, só parcialmente foi compensada pela subida dos outros dois partidos de esquerda: o SPD desceu 11,2%, mas os outros dois só subiram, no seu todo, 5,8 %. Ou seja, metade das perdas do SPD, foram perdas da esquerda como um todo.

Este exemplo, mostra como é uma ideia simplista e precipitada, pensar que o definhamento de uma força dentro da esquerda gera uma automática compensação, traduzida no reforço de outra ou outras forças de esquerda.

[ Clicando sobre as imagens, pode aumentá-las.]

Resultados das eleições legislativas



Estão ainda frescos os resultados das eleições legislativas do passado dia 27. Desta vez no essencial as sondagens não se enganaram.


O PS (36,6%) conseguiu uma diferença de 7,5 % para o PSD ( 29,1%). Na principal surpresa , em face das sondagens, o CDS atingiu o terceiro lugar com 10,5% com 21 deputados. O BE ( 9,8%)desmentiu a enorme maioria das sondagens e ficou atrás do CDS, embora tenha duplicado o número de deputados (16). O PCP (7,9%) ficou com a lanterna vermelha, com menos 2% do que o BE, mas apenas com um deputado a menos (15).


Se compararmos estes resultados com os da legislativas de 2005, verificamos que apenas o PS recuou em termos percentuais, 8,47 % (45,03 para 36,56). Todos os outros subiram: o BE- 3,50 % de (6,35 para 9,85); o CDS -3,22% ( 7,24 para 10,46); o PCP- 0,34% ( 7,54 para 7,88), o PSD - o,32 % ( 28,77 para 29,09).


Algumas observações podem ser feitas. A descida do PS é expressiva, significando a perda da maioria absoluta, mas não impede que ele continue a ser o partido mais votado, com uma larga vantagem sobre o PSD.


As subidas do PSD e do PCP, abaixo do meio ponto percentual dificilmente podem ser encaradas como politicamente positivas. Especialmente, no caso do PSD, que se batia pela vitória e continuou afinal abaixo da barreira dos trinta por cento, quase repetindo um resultado que há quatro anos fora considerado fruto de uma hipotética excepção Santana Lopes.


As subidas do BE e do CDS foram praticamente idênticas : o BE subiu umas décimas a mais, mas menos um deputado do que aquilo que subiu o CDS. Mas o CDS ficou com mais cindo deputados do que o BE, que lhe permitiram ser um interlocutor político autónomo em face do PS, algo que nem o BE nem o PCP conseguiram.


A direita no seu todo ( PSD+CDS) não ultrapassou a barreira dos 40%, mas o conjunto dos seus deputados supera os do PS, o que projecta uma complexidade acrescida no xadrez parlamentar.


Vale a pena lembrar que as significativas subidas do BE e do CDS, só são assim encaradas por estarmos perante pequenos partidos que apenas procuram alcançar posições de apoio ou de charneira. De facto 3,5% de subida não passariam de uma pequena oscilação positiva, se estivéssemos afalar de partidos que, situando-se acima dos 30%, aspiram com realismo a desempenhar funções governamnetais num prazo não muito dilatado. Por exemplo, o BE se subisse regularmente, sem um único desfalecimento, 3,5%, em cada uma das futuras eleições parlamentares, demoraria mais 25 anos a atingir a casa do 30%.


Abre-se agora um período político interessante, mas complexo. Já começaram as pressões. Alguns garnisés, pelo facto de terem crescido, já se comportam como galos.


À direcção do PS, recomenda-se serenidade, segurança de rumo, enraizamento no partido, fidelidade à identidade histórica do PS. Foi importante estarmos unidos no combate eleitoral. É importante que o continuemos. Seria péssimo que, conquistada a vitória, a direcção do partido caísse na tentação de o afunilar, reduzindo-o ao seu sector hegemónico.

sábado, 26 de setembro de 2009

O que vem à rede é peixe!


Não posso deixar de partilhar convosco uma das mais saborosas historietas da campanha, ocorrida no já referido jamício de encerramento da campanha laranja.

Remexeram, remexeram, remexeram na sua arca das surpresas, mas não conseguiram mais do que o desgastado dono da SIC (aliás, ferozmente corrido do poder pelos seus próprios companheiros, quando o destino amargo fez com que Sá Carneiro o deixasse sozinho).


Como se o seu passado tentasse ainda reerguer-se dentro de si próprio, julgou fazer um discurso feroz contra o PS, embora realmente apenas o tivesse conseguido arranhar de mansinho. Impelido pela bolha épica dos aplausos generosos, quis ser histórico, marcando um antes e um depois, em torno do que tinha para dizer de futurante e arrebatador.


Solene, convocou Obama para o seu discurso, sugerindo num impulso de humildade partidária a semelhança entre o Presidente dos USA e a luminosa Ferreira Leite. E a desorientada senhora lá voou nas asas do imprudente discurso até ás alturas de Obama.



E com ela voaram sem pudor os "bushistas" do PSD que o acompanharam energicamente , em espírito, em todas as guerras santas, que sorveram com beatitude tudo aquilo que Obama teve que combater, todas as sombras que Obama teve de afastar, alinhavam agora no delírio de se imaginarem obamas , esconjurando assim o tom cinzento que MFL imprimiu á campanha.


Balsemão não percebeu que as asas que levam Obama para a ousadia dos sonhos, a sua teimosia fecunda no apelo a uma nova ordem mundial, não servem a Ferreira Leite. Não servem porque com ela só são verdadeiramente compatíveis as grilhetas que a prendem ao passado, mais facilmente carpindo a falta de Bush, do que celebrando a esperança de Obama.


Mas para o PSD a hipocrisia política não tem limites. Ontem, com Bush, hoje, com Obama, amanhã com qualquer um que julguem dar-lhes popularidade e render-lhes votos.


É a política de Verdade, versão PSD...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O naufrágio da ética política?



Ouvi há minutos na rádio o desesperado apelo final ao voto no jamício de encerramento da campanha eleitoral do PSD.


A Drª Ferreira Leite apelou directamente ao voto útil no PSD para varrer Sócrates. E disse, especificamente, que era um desperdício votar-se no PP, mas também, pasme-se, no BE. E assim apelou aos presumíveis eleitores no PP para que votassem no PSD. Compreende-se. Aliás, a combater isso anda o Dr. Paulo Portas de feira em feira há mais de um mês. Mas a desesperada senhora achou que esse campo era escasso e alargou a sua ambição, pedindo aos presumíveis eleitores do BE que votassem PSD.


Se a incoerência matasse a Srª, desta vez, não escapava.


Num dia, o iluminado Pacheco ribomba contra um hipotético governo PS/BE, proibindo o PR de permitir tal heresia. De facto, nesse momento o BE era apenas uma colecção de desqualificados sem legitimidade para ascenderem a um governo, tivessem os votos que tivessem.


No dia seguinte, os potenciais apoiantes do BE convertem-se em almejados confrades, convidados a somar os seus votos aos dos adeptos do PSD numa cruzada conjunta. Num dia excomungam-nos sem piedade; no dia seguinte, assediam-nos sem vergonha.


Entrámos no campo da asfixia mental...

Antes que o galo cante!


Acabo de ler no site do Público a pequena nota informativa que abaixo transcrevo:


Francisco Louçã afirmou esta tarde que associar o Bloco de Esquerda (BE) à extrema-esquerda é uma “tentativa” de rebaixar o partido, acusando os “pequenos sectores de extrema-direita” da Assembleia da República de colar essa “etiqueta” aos bloquistas”.

Não pude deixar de me lembrar da célebre frase histórica ouvida por Pedro:

" Antes que o galo cante me renegarás três vezes !"

Comparação entre sondagens.


Este quadro comparativo de sondagens divulgadas durante o corrente mês de Setembro foi , com a devida vénia, reproduzido, a partir do excelente blog de referência em matéria de sondagens, "Margens de Erro".
Olhando-o, verifica-se que as tendências observadas em sondagens a que nos referimos neste blog ("O Grande Zoo") se mantêm.

O PS ganha vantagem ao PSD; o BE firma-se como terceiro partido; o PP parece querer fugir ao quinto lugar. A direita no seu todo continua estacionada nos arredores dos 40%.
Mesmo a prudência que nos é aconselhada pelo que ocorreu nas eleições europeias, em matéria de sondagens, não impede que consideremos que uma vitória do PSD seria uma grande surpresa. Igual surpresa constituiria que o PS chegasse à maioria absoluta.

Alérgicos à democracia



José Pacheco Pereira apareceu na “Quadratura do Círculo” amarelento de raiva, talvez, por estar fortemente desconfiado de que o povo português não o vai acompanhar, no próximo domingo, como gostaria, nos seus ódios e nos seus amores. É humano.

Mas já é um tanto excessivo, insistir, através de vagas insinuações, na realidade das inventonas hostis ao PS já hoje objectivamente reduzidas, ao que no fundo sempre foram, manobras sujas, desencadeadas ou aproveitadas pela falta de escrúpulos democráticos do PSD.

Ultrapassou , no entanto, todos os limites, quando sustentou expressamente que o Presidente da República podia e devia recusar um governo PS/BE, mesmo que legitimado pela vontade dos eleitores, só pelo facto de a partir da sua opinião política pessoal não o achar aceitável.

Essa não é uma solução governativa que tenha a minha simpatia. Nenhum dos dois partidos referidos manifestou vontade de seguir por essa via. Mas, à luz da nossa Constituição, o PR não pode aceitar ou recusar soluções governativas ao sabor das sua opções político-ideológicas pessoais. Ele tem que ter em conta "os resultados eleitorais" e, após audiência dos partidos com representação parlamentar, deve conformar-se com a relação de forças, gerada pela vontade popular democraticamente expressa em eleições. O PS e o BE podem recusar coligar-se numa solução governamental, mesmo que a aritmética parlamentar o permita, mas se isso não acontecesse o Presidente da República não tem poderes nem legitimidade constitucional e política para frustrar essa coligação, por decisão própria. Tentar fazê-lo, seria o equivalente a um golpe de estado constitucional, rompendo, aliás, compromissos claramente assumidos por si, quando se apresentou ao sufrágio dos portugueses.

Vejam, pois, como estala o verniz democrático do PSD, pela mão de um dos padrinhos do dislate estratégico baptizado pela célebre expressão: “asfixia democrática”. Esse rosário de histórias da “carochinha” alicerçadas em meros boatos ou em deduções alucinadas, onde avultavam os hipotéticos queixumes de patrões perseguidos, mas onde não se vislumbrou uma única decisão judicial que condenasse o Governo ou o PS, por prática ilegal de um qualquer acto de “asfixia democrática”. No entanto, mesmo que não fossem meros frutos de desesperada fantasia, seriam seguramente brincadeiras de crianças comparadas com a defesa feita por Pacheco Pereira de colocar num campo de concentração político dez por cento dos eleitores portugueses e de reduzir a liberdade política do maior partido político português aos limites julgados aceitáveis por ele próprio e que ele acha que deveriam ser certificados pelo PR.

Sublinhando esta deriva, acabo de ver na blogosfera que o Marajá do Funchal, chefe local de um PSD sui generis, não se ficou atrás de JPP e já trovejou do alto da sua ilha a conhecida diatribe contra a hipotética entrada dos “comunistas” na área do poder pela mão do PS. Esse exemplo de "desasfixia" democrática, tão caro à exigente Manuela Ferreira Leite, que é AJJ, acompanhou essa ilustração exemplar de apego à democracia com um rol de insultos a Sócrates e ao PS que, se isso fosse possível, converteriam a campanha feita no Continente numa discussão entre "anjos".

Ou seja, para os grandes asfixiados democráticos da actual cena política o suprassumo do oxigénio da democracia é a condenação a uma perpétua exclusão da chamada área do poder de partidos que representam entre 15 e 20 % dos eleitores portugueses. A vontade dos eleitores que conta é, portanto, a dos que lhes são favoráveis, mesmo que sejam uma minoria. A legalidade democrática é para tal gente um simples ónus que se pode relativizar ao sabor das circunstâncias.

Fica assim claro que Pacheco Pereira, Alberto João Jardim, Manuela Ferreira Leite e o PSD que se identifica com as posições citadas, estão longe de ser vítimas de uma simples sombra de asfixia democrático. Na verdade, é a democracia que os faz sentir asfixiados.

Concluo, chamando a atenção a quem se identifica com o BE e com o PCP, para o modo como esta gente encara os seus direitos políticos, para o tipo de gente com que se misturaram nos ataques ao PS, para o modo como os tratariam estes “amigos” se o PS não existisse.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Apanhados ou ofendidos?



Divulguei o texto acima reproduzido no Grande Zoo, no passado dia 17 de Setembro, tendo sublinhado, no respectivo comentário, que ele reflecte uma posição ideológica da qual se aproximam as posições de Manuela Ferreira Leite.

Foi este mesmo texto que José Junqueiro leu no Comício do PS, realizado ontem em Viseu. Não sei se quem mo enviou também o enviou a ele, ou se o conheceu a partir do meu blog. O que sei é que a reacção de fingida indignação do PSD, ao que se passou em Viseu, subentendendo que JJ conotou MFL expressa e directamente com o salazarismo, ou é precipitada ou é uma simples cortina de fumo para esconder um real embaraço.

De facto, como a Televisão mostrou, JJunqueiro leu o texto de Salazar sem dizer quem era o seu autor. Os participantes no Comício julgaram que ele era um texto de MFL e apuparam-no. Foi então que JJ revelou que, ao contrário do que pareceram julgar, o texto não fora escrito ou dito por MFl, já que fora escrito em 1928, não se lembrando ele quem era então o chefe de governo seu autor.

Ou seja, tendo sido lido um texto de Salazar, escrito em 1928, os participantes no comício do PS, espontaneamente identificaram-no como sendo de autoria da actual leader do PSD. Aliás, qualquer leitor encontrará óbvia proximidadee entre o texto de Salazar e vários aspectos do discurso de MFL. Esta realidade é incontornável e objectiva, não traduzindo nenhuma imputação caluniosa a MFL. Revela uma das raízes ideológicas do seu discurso, através de uma evidência objectiva.

É pois despropositado dizer-se que JJ tenha afirmado ou sugerido que uma vitória do PSD representaria o regresso ao salazarismo. Não o disse, pelo que não faz qualquer sentido lutar-se contra o que ele não disse.

De facto, o que está em causa é a evidência de uma deriva direitista do discurso de MFL e da sua pobreza ideológica, bem como da inconsistência da sua cultura política e do conservadorismo da sua atitude ideológica, cujo código genético assim se revela.

Matilha de Sombras


Ficaram com um tique de proprietários do país, quando lhes foi dado fruir uma década de poder político. Depois, dispersaram-se, preparando um regresso. Conseguiram-no relativamente, mas apenas para um alto poder, por vezes demasiado alto, talvez mais simbólico do que real. Mas, no fundo comportam-se ainda como se fossem os "donos da bola".

Uma inesperada curva da política pareceu abrir-lhes de novo a porta do paraíso. E, assim, embriagados pelo despontar brusco de uma hipótese de regresso ao poder, quando pouco antes molengavam, cumprindo calendário, sob a égide de uma das mais cinzentas sombras da sua década de glória, explodiram sofregamente em todas as direcções, numa girândola de inventonas, mentiras, calúnias e dislates.

Plantaram histórias mirabolantes de escutas e espiões. Vestiram apressadamente fatos melífluos de vítimas aflitas. Multiplicaram insinuações e não resistiram à voragem de se embrulharem em mentiras, cada vez mais improváveis; náufragos de si próprios cada vez mais desesperados. A sombra cansada do cavaquismo, porta voz do momento, na sua rabugice mais cinzenta, não hesitou em incendiar de acusações malévolas os adversários políticos mais directos, movida pela impulsiva tentação de fulminar quem a embaraça.

Mas, à simples e plebeia verdade, laica e honesta, bastou espreguiçar-se, de surpresa, para fazer em estilhaços a máscara de virtude que o PSD pusera a si próprio em milhares de cartazes que nos assombram por esse país fora. A enorme VERDADE de Manuela Ferreira Leite, proclamada ao mundo por mil trombetas, transformou-se num cortejo de pequenas mentiras. E a cólera dos “anjos da vingança” do PSD, as suas diatribes plenas de virtude esfumaram-se, como a brisa envergonhada que se descobre nua.

E foi assim que a enorme VERDADE ambulante, que tem assolado o país, se esvaziou sem remédio pelas bocas incautas dos que mais a proclamavam. Não era afinal uma GRANDE VERDADE ÉPICA, asfixiada pela mentira, que procurava irromper pelas ruas do nosso país. Era apenas um prosaico rosário de pequenas mentiras, simples percevejos políticos degradantes e sujos.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Palavras de DILMA


Dilma Rousseff desempenha no Brasil o cargo de Chefe da Casa Civil do Presidente Lula, o que é equivalente ao que é em Portugal o papel de um primeiro-ministro, sem prejuízo das diferenças entre os dois sistemas. Ela deu, recentemente, uma entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, cujos aspectos principais vamos transcrever.

Sublinhe-se que tudo aponta para que, nas eleições de 2010, venha a ser a candidata à Presidência da República com o apoio do PT, partido a que aliás pertence. Contando com um forte apoio do Presidente Lula, é encarada como continuadora da sua política.

Eis, com a devida vénia, a transcrição do que disse ao jornal brasileiro Folha de S.Paulo:

FOLHA - O ex-presidente FHC disse que é preciso fazer um país mais aberto, não ter uma pessoa só que manda, porque hoje parece que o Brasil depende de um homem só. O que a sra. acha?

DILMA ROUSSEFF - A quem ele está se referindo?
FOLHA - Ao presidente Lula.
DILMA - Se você acha isso, eu não tenho certeza. Se tem um presidente democrático, é o presidente Lula. Agora, ele jamais abrirá mão de suas obrigações. Entre as obrigações está mandar algumas coisas. Por exemplo, fazer o Bolsa Família. Ele mandou que não fizéssemos aventura nenhuma com a taxa de inflação.
FOLHA - A declaração de FHC embute a análise de que no governo Lula houve uma maior intervenção na economia, nas estatais, na vida das empresas.
DILMA - Tinha gente torcendo para ficarmos de braços cruzados na crise. Diziam: "o governo Lula sempre deu certo, mas nunca enfrentou uma crise internacional". Apareceu a maior crise dos últimos tempos, que estamos superando. Eu acho que quem defendia que o mercado solucionava tudo, o mercado provê, é capaz de legislar e garantir, está contra a corrente e contra a realidade. O que se viu no mundo nos últimos tempos é que a tese do Estado mínimo é uma tese falida, ninguém aplica, só os tupiniquins. Nós somos extremamente a favor do Estado que induz o crescimento, o desenvolvimento, que planeja.
FOLHA - Pela declaração do ex-presidente, a sra. avalia que eles não teriam seguido a mesma receita de vocês nessa crise?
DILMA - Eu não gosto de polemizar com um presidente, porque ele tem outro patamar. Agora, os que apostam e ficam numa discussão, que, além de enfadonha, é estéril, de que há uma oposição entre iniciativa privada e governo, gostam de discussão fundamentalista. É primário ficar nessa discussão de que o governo, para não ser chamado de intervencionista, seja um governo omisso, de braços cruzados, que não se interessa por resolver as questões da pobreza nem do desenvolvimento econômico.

FOLHA - Essa maior interferência do governo não levou a uma visão estatizante da economia e a um discurso eleitoreiro, como no pré-sal?
DILMA - As acusações são eleitoreiro, estatizante, intervencionista e nacionalista. Tem algumas que a gente aceita. Nacionalista a gente aceita. Esse país não pode ter vergonha mais de ser patriota. Eu não vi um americano ter vergonha de ser patriota, nunca vi um francês. Que história é essa de nacionalista ser xingamento?

FOLHA - Nacionalista vocês aceitam. E estatizante?
DILMA - Se é o aumento da capacidade de planejar o país, de ter parcerias com o setor privado, de o Estado ter se tornado o indutor do desenvolvimento, concordo.
FOLHA - Intervencionista?
DILMA - Não somos.

FOLHA - Mas eleitoreiro?
DILMA - Não. Sabemos que quem não tem projeto vai achar tudo eleitoreiro.
FOLHA - Quando o presidente pressiona um dirigente de empresa privada, como Roger Agnelli, da Vale, não é uma ingerência indevida?
DILMA - Você acha certo exportar minério de ferro e importar produtos siderúrgicos? Ela é uma empresa privada delicada. Porque ela está explorando recursos naturais do Brasil. Você não pode sair por aí explorando os recursos naturais e não devolver nada. O presidente ficou chocado com empresas que demitiram bastante na crise sem ter consideração pelos empregos do país.
FOLHA - Isso representa prejuízo para uma empresa privada.
DILMA - Não se trata de prejuízo, se trata do tamanho do lucro, a mesma coisa da Petrobras. O que vale para a Petrobras vale para a Vale. A preocupação com a riqueza nacional é uma obrigação do governo. Eu não acho que o presidente foi lá interferir na Vale. O presidente manifestou, assim como muitas vezes os empresários manifestam, seu descontentamento, e não implica uma interferência, a gente tem de democraticamente aceitar as observações, ser capaz inclusive de aprender com críticas. Por que o presidente não pode falar?

FOLHA - A sra. acha que uma empresa privada tem de abrir mão de uma parte do lucro...
DILMA - Não estou discutindo isso. Estou discutindo é que ela, assim como a Petrobras, nem sempre pode. Se a Petrobras quiser o lucro dela só, vai fazer uma coisa monotônica.

FOLHA - O presidente pensou em tirar o Agnelli da Vale?
DILMA - Que eu saiba não. Ele não tem poder para isso. Como você disse, é uma empresa privada. O que ele fez foi externar seu descontentamento com a forma que demitiram gente. Ele não fez só para a Vale. Eu acho interessante essa história, os empresários podem falar o que quiserem que é democrático, o presidente não pode dar uma opiniãozinha que é intervencionista. Isso, diríamos assim, não é justo.

FOLHA - Durante o governo houve um grande processo de fusões de empresas no Brasil. Deu-se por um estímulo direto do governo Lula?
DILMA - São sinais dos tempos. Não tem nada de artificial. Ninguém falou "eu vou ali criar uma empresa fortíssima". As empresas estavam maduras. As que não se fundiram aqui compraram coisas lá fora.

FOLHA - A sra. defende um Banco Central independente, por lei?
DILMA - Não acho que seja necessário isso. Não vejo nenhum motivo para criar esse tipo de problema agora no Brasil, abrir esse tipo de discussão.

Comício do PS no Porto





Comício do PS no Porto, ontem, domingo, à tarde. Um enorme comício numa grande praça. Aqui ficam quatro breves relances, obtidos a partir de um modesto telemóvel. Pelo menos hoje à noite, as estações de televisão que eu vi esconderam este comício, mas estavam lá. Porquê? Quem pretende asfixiar quem?

domingo, 20 de setembro de 2009

Asfixia democrática ou asfixiados pela democracia?


1. Ontem, em Coimbra, à entrada do comício do PS um pequeno grupo de manifestantes rodeava dois cartazes hostis ao PS, radicados nas reivindicações dos enfermeiros. É um facto lamentável, com alguns precedentes, embora raros. Durante muitos anos, após a estabilização da democracia, funcionou uma regra de conduta cívica por todos respeitada, que não permitia que se perturbassem comícios ou quaisquer actividades políticas públicas de qualquer partido, com manifestações hostis. É uma regra de elementar deontologia democrática e um afloramento mínimo de uma ética de convivência cívica. Não pretendo aqui sequer discutir a legalidade dessas realizações sem prévia autorização, porque entendo que este problema tem muito maior relevância ético-política do que jurídica.

Confesso que me irritei. Provavelmente com muitos dos inúmeros socialistas que estavam próximos da pequena manifestação aconteceu o mesmo. Continuo a considerar uma lamentável provocação qualquer manifestação deste tipo, junto de eventos politico-partidários.


Mas não posso deixar de sublinhar que durante as horas em que ali estiveram, rodeados de socialistas, ninguém correu com o pequeno grupo ou o molestou. Que eu tivesse conhecimento nada lhes aconteceu, enquanto ali estiveram. A comunicação social nem considerou isso notícia. E, desta vez, acho que teve razão. Todos acham natural que junto a um comício do PS, mesmo uma manifestação ética e deontologicamente questionável possa decorrer sem que os socialistas exerçam qualquer tentativa de correr com os provocadores. Também acho isso natural e reconheço que os meus camaradas com naturalidade projectaram assim com clareza uma das características identificadoras do PS, a tolerância e o respeito pelos que não pensam como nós.


Provavelmente, os manifestantes não eram mais do que apoiantes de outros partidos tentando perturbar a actividade legítima de um outro, embrulhados de uma circunstância profissional assim instrumentalizada. Mas, nem isso fez com que os socialistas perdessem a cabeça.

É a este partido que os pajens políticos continentais do trauliteiro das ilhas acusam de ser o autor perverso de uma asfixia democrática.

2. É também curioso que esses, que agora se fingem preocupados com um fantasma que eles próprios inventaram, se tenham sentido desasfixiados, durante o salazarismo. Realmente, não os encontrámos do lado dos que então resistiram à asfixia democrática, realmente existente, quando garrotava o povo português, talvez porque faziam parte da quadrilha dos seus fautores ou com ela se conformavam.

Arautos hipócritas de uma verdade imaginada, acabaram por apostar na sistemática mentira como estratégia aflita de quem se sente perdido num naufrágio de ideias, para onde se deixaram arrastar pela sofreguidão do poder.

É o regresso da direita caceteira, no fundo, alérgica à democracia, cujo código genético mais fundo repousa na memória do Sr. Dom Miguel e do seu afilhado do século seguinte, o Doutor Salazar. É a sombra do que há de pior no nosso passado colectivo que ameaça, uma vez mais, cair sobre nós. Ou menos dramaticamente, é a desorientação da direita a fazê-la esquecer o verniz da sua alegada modernidade, para a precipitar na arca sombria da sua mais funda identidade histórica.

3. Aliás, se por um momento concedêssemos ao fantasma da asfixia democrática o estatuto de um juízo discutível, facilmente poderíamos demonstrar o seu absurdo.
De facto, vivendo nós num Estado de Direito sob a égide de uma Constituição que todos aceitam como garante explícita de todos os direitos humanos, qualquer comportamento do Estado que configure agressão dos direitos políticos, cívicos, sociais e económicos dos cidadãos há-de encontrar pela frente uma norma ou um mecanismo que o sancione. Por isso, qualquer órgão do poder político, que pretenda asfixiar qualquer cidadão ou qualquer entidade, estará, desde logo, sob a alçada dos mecanismos de defesa da legalidade democrática.

Ora, não se conhecem processos visando o Governo que invoquem a existência dos pressupostos de facto de uma asfixia democrática verdadeiramente palpável. Quando muito podem citar-se eventos dispersos trazidos ao combate político, cuja discussão evidenciou , precisamente, o contrário de qualquer asfixia.

Aliás, MFL não cita como asfixiados as centenas de milhar de portugueses que o sistema capitalista pela sua própria natureza atirou para a pobreza e a exclusão, mas não se esquece de trovejar em nome de dois ou três ricaços que se queixam de que o Estado não lhes deu as benesses que almejavam; ou em nome de dois ou três militantes laranja que se julgavam com direito a eternizar-se nos lugares em que o compadrio laranja os colocou. Mas mesmo no caso dos militantes laranja furiosos com os privilégios perdidos, ou dos empresários indignados pelos subsídios que não alcançaram, é sempre possível recorrer aos tribunais, se realmente por parte do Estado houver práticas ilegais que configurariam uma asfixia democrática se de facto existissem. Tudo balelas para construir uma teia de invenções que desse base a um possível nominalismo de campanha que trouxesse para o palco mediático o fantasma de uma asfixia democrática.

4. De facto, para a direita que MFL, paradigmaticamente
representa, o que a asfixia é a democracia, principalmente quando ela dita o seu afastamento do poder. Essa direita majestática e parasitária considera-se detentora de um direito divino ao exercício do poder. Quando fica muito longe dele começa a faltar-lhe o ar, quando sente que esse afastamento se pode prolongar muito sente-se asfixiada.

Por isso, subliminarmente, quando julga praticar a manhosa exploração de uma propaganda insultuosa a Dr.ª Ferreira Leite está afinal a exprimir o que no mais fundo da alma lhe provoca falta de ar: a democracia. Assim , por detrás do tosco ataque ao PS o que é real é esse incómodo profundo da direita por não ser poder, essa alergia atávica à democracia que apenas tende a suportar como um ónus, mas com a qual enche a boca para ocultar o pouco caso que realmente faz dela.

Pois é sentem-se asfixiados com a democracia? São alérgicos aos cravos de Abril ? Sonham com o poder eterno? Paciência. Mas estejam descansados a nossa democracia é tanto para ser fruída por nós como por vós. Não exclui ninguém Não esperem, no entanto, que vos peçam desculpa por sentirem falta de ar numa democracia.

Habituem-se.

sábado, 19 de setembro de 2009

Última Hora!


Acabo de assistir em directo pela TV à adesão da Dr.ª Verdades Ferreira Leite ao "Clube dos Mentirosos". A enraivecida senhora foi mostrada a vociferar ao microfone, num repasto laranja, regougando que não admitia que o director do “Público” tivesse sido escutado.

Ora, nem na sua mais infeliz prestação o inefável Fernandes se queixou de que foi escutado por quem quer que seja. De facto, o referido inefável apenas intuiu, argutamente, que, se houve fuga de informação no seu jornal, isso só podia resultar de intrusão informática, a qual, como se fosse um oráculo dos nossos dias, assegurou que viera do SIS.

Perante o risco de verem a credibilidade do seu “jornal” esmorecer ainda mais, os donos já anunciaram hoje que não foi ainda encontrada qualquer evidência de que tenha havido qualquer intrusão no sistema informático.

Ora, como até o inefável Fernandes pode compreender, não tendo havido intrusão, não pode ter havido um intruso, e não tendo havido um intruso a sua acusação contra o SIS é objectivamente uma irresponsável difamação caluniosa.

E se nem a alegada intrusão informática alcançou um pingo de credibilidade, muito menos pode invocar-se uma escuta que nem o próprio Fernandes invocou.

Mas nada disso perturbou a vociferação caluniosa da MFL, que assim mostra bem como a sua enorme verdade de campanha é apenas um artifício de propaganda, que nem sequer impediu a sua fogosa adesão ao “Clube dos Mentirosos”.

Sondagem da Intercampus para a TVI


Foi hoje difundida mais uma sondagem, feita para a TVI pela Intercampus.

Eis os números:

PS: 32,9%
PSD: 29,7%
BE: 12%
CDU: 9,2%
CDS-PP: 7%

OBN: 9,2%

O panorama também não é diferente do que é projectado pelo conjunto das sondagens anteriores. As tendências mantêm-se, mas não apagam a incerteza do resultado.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A sondagem da Eurosondagem


Ontem, tinha colocado aqui uma infografia que hoje verifiquei que estava errada nos números referentes ao PSD ( segundo os dados divulgados hoje o PSD teria 31,6 e não 32,5). Aliás, verifiquei que num dos sites das entidades difusoras da sondagem , no texto está o número aqui divulgado e numa infografia os números que divulguei ontem. A origem do erro do blog a que recorri deve ter estado nessa página . Os dados originários da Eurosondagem foram hoje retirados da página do Expresso, tinham sido ontem obtidos do site da SIC.

Continuo a poder dizer , como ontem, que o essencial não se afasta dos resultados das anteriores, embora o PS e o PSD sejam colocados em posições menos próximas do que ontem, mas ainda mais próximas do mostram outras sondagens. O terceiro lugar do BE continua menos claro.

Sem desconsiderar as posições relativas que a sondagem revela, ela não desmente o facto de continuar incerto o resultado do próximo dia 27.

Uma outra sondagem


Numa sondagem divulgada hoje pelo CM, feita pela Aximage, com trabalhos de campo realizados entre 14 e 17 Setembro, foram apresentados os seguintes resultados:

PS: 36,1%
PSD: 29,7%
BE: 10%
CDS-PP: 7,6%
CDU: 7,5%

OBN: 4,8%
Indecisos: 4,3%
Abstenção: 35,7%

No blog Margens de Erro, sendo tratados os indecisos como abstencionistas (o que não é feito na sondagem), é apresentada a seguinte versão dos resultados da mesma sondagem:

PS: 37,7%
PSD: 31,0%
BE: 10,4%
CDS-PP: 7,9%
CDU: 7,8%

OBN: 5,0%


Se compararmos esta sondagem com a que ontem divulgámos (CESOPE), verificamos uma relativa proximidade dos resultados, mantendo-se o conjunto da direita abaixo dos 40%, ou seja, longe do Governo. A proximidade dos resultados suigere prudência, já que não desapareceu a hipótese de uma inversão das tend~encias detectadas na comparação dos resultados das diversas sondagens.
Apesar disso, nota-se um ligeiro ganho de consistência da vantagem do PS , em face do PSD, o CDS parece querer deixar o último lugar à CDU e o BE teria uma grande e desagradável surpresa se não fosse o terceiro partido.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Mais uma sondagem


Mais uma sondagem, realizada pela pelo CESOP da Universidade Católica, para o Jornal de Notícias/Diário de Notícias/RTP/Antena 1.
Eis os resultados:

PS - 38%


PSD - 32%


BE - 12%


CDU - 7%


CDS - 7%


A sondagem foi realizada durante os dias 11 e 14 de Setembro, ou seja, no período pré e pós-debate entre José Sócrates e Ferreira Leite, que se realizou no sábado, dia 12. Comparando-a com uma outra levada a cabo pela mesma entidade, na semana passada, verifica-se que o PS sobe um ponto, o PSD desce três, o Bloco de Esquerda sobe um , a CDU desce um e o CDS-PP sobe um ponto.


Se compararmos com o sentido geral das sondagens feitas até aqui, que referimos numa postagem anterior, verificamos que a vantagem do PS parece ganhar consistência, traduzindo, de algum modo, o ambiente político gerado, no qual se destacou a combinação entre uma MFL crispada e agressiva e um JS que conseguiu mostrar-se mais distendido e sereno. Num outro plano, o BE consolida a sua terceira posição, enquanto a CDU e o CDS parecem enfrentar uma estranha dicotomia: mostram grande poder de mobilização da sua base social mais fiel, mas não parecem conseguir romper eleitoralmente o círculo mais próximo dos seus apoiantes tradicionais. Esta confortável vantagem do BE na competição entre os partidos do que podemos sem desprimor designar por segunda linha, é o facto de haver uma enorme percentagem dos eleitores que dizem votar neles, que admitem poder mudar o seu sentido do seu voto.

Aliás, aproveitando uma série de boas acções de campanha, Paulo Portas introduziu uma importante inflexão estratégica no seu discurso: assumiu-se, reiteradamente, como candidato a primeiro-ministro. Numa leitura apressada, que até pode estar certa, pode parecer que se está perante uma retórica de campanha quase caricata.


Mas outro pode ser o seu significado, se pensarmos que Paulo Portas já percebeu que MFL tem vindo afundar-se numa girândola de dislates, que ameaçam converter Santana Lopes, em termos relativos, num político equilibrado. E, consequentemente, encarando como improvável uma maioria de direita quer, por uma lado, capitalizar desde já em votos o desastre MFL e, por outro, colocar-se em posição de ter uma voz audível numa conjuntura de maioria relativa do PS. Por isso, deu um relevo especial ao facto, aparentemente inócuo, de vir ser o terceiro partido. Aliás, comparando o papel político que podia desempenhar nessa hipótese, comparativamente com o que poderiam vir a ter o BE e o PCP. Ou seja, na cabeça de Paulo Portas, o PSD parece já ter perdido, em grande parte por deficiência da sua liderança, pelo que procura criar condições para que o CDS desempenhe um papel ainda mais autónomo, durante a próxima legislatura, para eventualmente se colocar em posição de fazer jogo igual com o PSD.


Tudo isto, não invalida que se mantenha em aberto o que estava em aberto na semana passada, estando-se longe de podermos ter como certas e irreversíveis, quer as derrotas, quer as vitórias, de uns e outros. No entanto, seria estulto não reconhecer que esta sondagem, não sendo garantia de coisa nenhuma, deixa uns mais estimulados e outros mais preocupados.

A Hora da Verdade



Um amigo atento enviou-me o texto acima reproduzido. Ele mostra qual é o código genético da campanha de Manuela Ferreira Leite. Evidencia como estão longe de ser meras "gaffes" superficiais algumas afirmações suas dos últimos meses, que regularmente se vieram acumulando, sob a estranha bonomia da comunicação social dominante e o silêncio embaraçado de muitos membros do PSD, aos quais a contaminação pelos automatismos salazarentos suscita uma real incomodidade.


Reduzir a luta política a um combate entre a "verdade" de que se tem o monopólio e a "mentira" que se procura incrustar na identidade dos adversários, como raiz de todas as suas posições, é o caldo ideológico que se encontra na atmosfera malsã que rodeia a pulsão autoritária que dá energia a todos os ditadores. Não chega para caracterizá-los, mas nenhum deles se pode dar ao luxo de a dispensar.


E a esta luz , podemos perceber que os célebres seis meses de pausa na democracia que MFL almejava para governar em paz, não foi atabalhoamento de senhora inexperiente, foi antes um apelo irreprimível de uma pulsão de "verdade" que se autolegitimou espontaneamente, para enclausurar todas as "mentiras" durante um moderado semestre.


Compreendo que se possa encarar como exagerada esta imersão de uma frágil avó no universo de ferro do defunto salazarismo. Seria, se a estivéssemos a imaginar, participando com toda a energia numa marcha da Mocidade Portuguesa Feminina, cantando o hino da restauração. Mas não estamos. Nem acreditamos que MFL pela calada da noite reze uma ave-maria, mesmo que piedosa, pela alma do ditador de Santa Comba, ou que tenha alguma saudade pungente do salazarismo.
Mas seguramente que se trata de um sinal objectivo de que, sob o verniz superficial dos lugares comuns da política quotidiana, passada que seja a camada, mesmo que apreciável, dos seus conhecimentos de economia, a MFL pouco mais resta do que um vazio cultural desolador. E quando a realidade lhe exige, pelo que tem de complexa, algo mais denso do que os lugares comuns da política e algo de menos linear do que os seus conhecimentos especializados da área económica, MFL não dispõe de recursos culturais enraizados na sua mundividência, correspondentes ao que as camadas mais superficiais do seu pensamento precisariam, para serem coerentemente prolongadas. E é assim, naturalmente, que automaticamente terá que recorrer à arca esquecida da sua identidade ideológica mais funda, às pulsões que moldaram a sua juventude. Uma juventude durante a qual, que se saiba, não sentiu o imperativo de tornar ostensiva qualquer resistência à real asfixia fascista em que viveu até 1974.


Ou seja, MFL, ao mostrar que, espontaneamente, está ainda influenciada pela ideologia conservadora que foi suporte do consulado do "financista" de Santa Comba, não revela apenas o código genético mais fundo do seu pensamento. Mostra também como o seu economicismo compulsivo não é, como nos querem fazer crer, um reflexo irreprimível da sua excelência como cultora da ciência económica, mas sim a modesta consequência do facto de, fora dessa área, MFL estar apenas atafulhada de lugares comuns político-culturais, por debaixo dos quais repousa o senso comum conservador da sua "desasfixiada" juventude, passada na "tranquila" bonomia dos "bons velhos tempos."

domingo, 13 de setembro de 2009

Sondagens, crispação e magia

Se tivermos em conta as cinco sondagens divulgadas pela comunicação social portuguesa, depois das eleições europeias de Junho passado, a maior parte das quais saídas nos últimos dias e todas elas respeitantes às intenções de voto nas próximas eleições legislativas, verificamos a existência de uma relativa estabilidade nos resultados.

E essa estabilidade não deixa de ser relevante, apesar de nem todas as sondagens terem seguido o mesmo critério para a distribuição dos indecisos. No entanto, se da verdadeira hecatombe da credibilidade das sondagens, suscitada pela discrepância entre elas e os resultados das recentes eleições europeias, não tiver havido alguma recuperação, o interesse prestado a todas elas será certamente escasso.

Assim, todos esperaremos pelas primeiras projecções das consultas feitas à boca das urnas, no próximo dia 27, para ficarmos com uma ideia dos resultados eleitorais que condicionarão o país nos próximos anos.

De facto, para se saber qual será o partido mais votado será desta vez necessário esperar pelo “fim do jogo”. E mesmo assim, há sondagens que apontam para o risco de, sendo pequena a diferença, o partido mais votado não ser o que fica com mais deputados, especialmente se esse partido for o PS.

Mas também parece claro que a direita (PSD+CDS) poucas probabilidades tem de atingir a maioria absoluta, já que em nenhuma das sondagens ficou acima dos 41%, patamar aliás muito próximo do que alcançou nas eleições europeias. Ou seja, no seu todo, a direita parece estagnada eleitoralmente.

Isto significa que as probabilidades de um governo do PSD, sozinho ou acompanhado, são diminutas. A não ser que tenha êxito a manobra que consiste em dar valor político absoluto, como pressuposto da ocupação do governo, ao facto de um partido ser o mais votado ou dispor do maior número de deputados. De facto, ao contrário da obtenção de uma maioria parlamentar pela direita, é uma hipótese possível, à luz das sondagens existentes, que o PSD tenha mais votos ou mais deputados que o PS.

Alguns ideólogos da direita e comentadores do complexo mediático dominante têm vindo a sussurrar subtilmente a ideia que essa manobra é algo de constitucionalmente natural ou até imperativo. Nada de mais mistificatório. O que nos diz o art.187 da Constituição da República Portuguesa é o seguinte: “O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais.” Ou seja, é o conjunto dos resultados eleitorais, pela relação de forças global que projectem no seu todo, que têm que ser tidos em conta na decisão do Presidente da República. O legislador constitucional não fala "no maior número de deputados" nem "no partido mais votado", apenas por que não concedeu a qualquer desses possíveis pressupostos uma relevância absoluta. Se tivesse concedido, tê-lo-ia naturalmente dito.


É claro que é um elemento muito importante dos resultados eleitorais o facto de um partido ser o mais votado (e, principalmente, o facto de ser o partido com mais deputados). Normalmente, essa circunstância não se confronta com outros aspectos do conjunto dos resultados eleitorais que a possam secundarizar. Mas há casos em que isso acontece.


O cenário, atrás admitido como possível, de termos o PSD como partido vencedor no quadro de uma maioria parlamentar de esquerda é um deles.


E, se assim for, ou o Presidente da República se assegura expressamente, ao ouvir os partidos políticos, que não será aprovada uma moção de rejeição do programa de governo do PSD, ou só lhe restará um de dois caminhos: suscitar uma coligação de esquerda como base de um governo, ou encarregar o PS como o mais votado partido de esquerda de formar um governo minoritário, no pressuposto de que o PCP e o BE não convergirão com a direita numa eventual moção de rejeição do programa desse governo.


Que o Presidente da República tente forçar a complacência do PS para com um governo do PSD, no quadro de uma relação de forças em que a direita é minoritária, parece-me eticamente discutível e democraticamente insustentável. Que o PS possa, seja em que circunstâncias for, ceder a essas hipotéticas pressões, parece-me inconcebível. Seria, aliás, de uma ironia amarga, que as insuficiências da direita e as conveniências presidenciais de Cavaco, viessem a ser pagas pelo suicídio político do PS.


Por isso, tenho defendido, nos órgãos próprios do Partido, que o PS deveria tornar claro durante a campanha eleitoral que, correspondendo ao modo como a direita o tem tratado e se tem referido à sua política, apresentaria uma moção de rejeição de qualquer governo de direita, fosse ele minoritário ou maioritário. Ao PCP e ao BE caberia depois posicionarem-se quanto a isso. Se também declarassem apoiar qualquer moção de rejeição de qualquer governo de direita apresentada pelo PS, o PR ficaria desde logo objectivamente deslegitimado para convidar o PSD a formar governo, no caso de a direita estar em minoria na Assembleia da República. Se aceitassem viabilizar um governo minoritário do PSD, dando seguimento à convergência anti-PS que têm praticado, seriam corresponsáveis por essa solução.


E não se invoque a legitimidade formal de um bloco central para forçar a referida complacência do PS. De facto, continua vivo o contraponto entre a esquerda e a direita, apesar de não ser essa a única clivagem que caracteriza o cenário político actual e de não ser homogéneo qualquer dos dois campos daí resultantes. Fingir que esse contraponto não existe, para mais depois de uma campanha eleitoral em que sempre esteve presente, seria defraudar estruturalmente a vontade que assim tivesse sido expressa pelo eleitorado.


Aliás, sem menosprezar as diferenças existentes dentro de cada campo quanto à avaliação da actual crise e ao modo como se lhe deve responder, há uma clara clivagem entre a esquerda e a direita, quanto ao sentido estratégico e quanto à tipologia dessa resposta. Por isso, sob pena de uma profunda incoerência, para não falar na indignidade que seria esquecer a miserável campanha que a direita tem feito contra o PS, ele não pode viabilizar qualquer governo de direita, co-responsabilizando-se, implícita mas irremediavelmente, pela sua governação.


Quanto aos outros partidos, o BE parece ter seguro um terceiro lugar confortável, sendo uma surpresa se o CDS escapar do último.


Há, entretanto, uma atmosfera algo carregada pelo receio de que alguns poderes de facto economicamente relevantes possam vir a pressionar alguns partidos políticos para que de uma maioria clara de esquerda possa resultar um governo de direita.


Por mim, limito-me para já a recordar que, quando, em 1985, dominados pelas respectivas estratégias presidenciais, o PS, o PRD e o PCP, dispondo em conjunto de uma larga maioria parlamentar, permitiram que o PSD governasse sozinho durante dois anos, embora não tivesse chegado a ter 30% dos votos, abriram assim a porta a 10 anos de cavaquismo. O PS demorou esses dez anos a recuperar, o PCP não voltou a atingir os níveis eleitorais anteriores ao cavaquismo e o PRD desapareceu em poucos anos.

E nada nos diz que uma nova tergiversação da esquerda não dê origem a uma nova década de hegemonia da direita, o que, nas actuais circunstâncias, implicaria custos politico-sociais inimagináveis.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O regresso das sondagens


Têm sido escassas, muito escassas, as sondagens referentes às próximas eleições legislativas. Eventualmente, pelo facto de tanto se terem enganado, quanto às recentes eleições europeias. Abrindo talvez um ciclo final nestes escassos dias que nos separam das legislativas, uma sondagem da Aximage, publicada hoje no Correio da Manhã, cujos trabalhos de campo decorreram entre os dias 1 e 4 de Setembro, deu os seguintes resultados:


PS: 34,5%

PSD: 28,9%

BE: 10,4%

CDS-PP: 8,1%

CDU: 7,8%

"Indecisos": 6%


No blog Margens de Erro, é apresentado o panorama que resultaria de uma redistribuição proporcional dos indecisos pelos vários partidos :

PS: 36,7%

PSD: 30,7%

BE: 11,1%

CDS-PP: 8,6%

CDU: 8,3%

OBN:4,6%


Os resultados falam por si, mas a lembrança de quanto se enganaram as sondagens no caso das recentes eleições europeias, deverá suscitar muita prudência na utilização destes dados. É um lugar comum, dizer-se que é sempre melhor ser dado como vencedor do que como vencido, mas seguramente que nestas eleições a certeza quanto ao vencedor só será efectiva depois de votarmos.


No entanto, alguns grandes números são significativos, até porque reproduzem, no essencial, os resultados das eleições europeias e das poucas sondagens posteriores: a direita continua sem romper a barreira dos 40% e a esquerda de oposição continua a rondar os 20%. Pela sua parte, o PS parece querer recuperar da derrota sofrida em Junho passado, mostrando ser possível que volte a vencer, embora continue a parecer muito distante a hipótese de uma maioria absoluta.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Uma imprensa antidemocrática

Faço uma pequena pausa nas minhas férias, para transcrever mais um texto publicado na excelente revista brasileira de grande circulação, CartaCapital. "Uma imprensa antidemnocrática ", é o título do artigo, assinado por Maurício Dias. Trata-se de um comentário a posições assumidas por um importante pensador brasileiro da actualidade, Wanderley Guilherme dos Santos. E é isso, precisamente, que mais justifica a reprodução do texto . Ei-lo:


Uma imprensa antidemocrática
28/08/2009



A imprensa brasileira tem sido adversária histórica das instituições representativas do País.” Essa frase, um dos mais duros veredictos já feitos sobre a imprensa brasileira, é de Wanderley Guilherme dos Santos, professor aposentado de teoria política da UFRJ, fundador do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj) da Universidade Candido Mendes, e consagrado pela Universidade Autônoma do México, em 2005, um dos cinco mais importantes cientistas políticos da América Latina. Ela é parte do começo de uma conversa em torno da histórica tendência golpista da imprensa brasileira, que começa assim: “Com o fim da Segunda Guerra Mundial terminou também o Estado Novo brasileiro, ditadura civil que se iniciara em 1937. No mundo todo, mas em particular no Brasil, as elites políticas tradicionais se viram acompanhadas por um eleitorado em torno de 7 milhões, mais de dez vezes superior ao da Primeira República, e um movimento sindical legalizado e participante de algumas estruturas estatais, como os institutos de pensões e aposentadorias dos trabalhadores urbanos”. Segundo ele, a imprensa brasileira “sem embargo da retórica democrática”, tornou-se a principal adversária das instituições representativas. “A exemplo de toda a imprensa, denominada grande, latino-americana, “jamais hesitou em apoiar todas as tentativas de golpe de Estado, quando estas significavam a derrubada de presidentes populares ou o fechamento de congressos de inclinação mais democrática”, denuncia Wanderley Guilherme. “No Brasil – prossegue –, não existe um só jornal de grande circulação que se posicione a favor dos respectivos congressos nacionais, nas esparsas ocasiões em que estes parecem funcionar.” Por outro lado, ele anota que “toda vez que a direita recrudesce nas urnas, sempre encontra a simpatia midiática”. “No Brasil, o único período em que o governo contou com o respaldo de algum jornal de certa respeitabilidade foi durante o segundo governo Vargas, com a Última Hora. Não houve um único jornal popular, de grande circulação no Brasil, durante esse período”, diz Wanderley Guilherme. Última Hora também foi o único reduto jornalístico contra o golpe de 1964, que toda a mídia apoiou. Sem qualquer constrangimento. Conceitualmente, ele lembra, a imprensa, além de ser um instrumento de difusão de informação e análise, é um ator político “na medida em que forma opinião, agenda demandas e que, eventualmente, beneficia ou cria obstáculos para governos”. Wanderley Guilherme comenta: “A imprensa brasileira exerce, e tem todo o direito, de ter opinião e preferências políticas. No Brasil, no entanto, ela diz que apenas retrata a realidade. É falso. Há muito da realidade que não está na imprensa e há muito do que está na imprensa que não está na realidade”. Não é novidade no mundo democrático. Novidade, como explica Wanderley Guilherme, é presumir e passar a impressão de que isso não acontece. “A imprensa brasileira não tolera a ideia de governos independentes, autônomos em relação às suas campanhas. Isso implica um caminho de duas mãos. Significa que ela terá de sobreviver sem os governos. Então, é preciso que os governos precisem dela”, conclui. É um retrato do momento que o Brasil atravessa no alvorecer do século XXI.