segunda-feira, 20 de maio de 2019

PARA ALÉM DO UMBIGO DA EDUCAÇÃO





PARA ALÉM DO UMBIGO DA EDUCAÇÃO

O perverso furacão Bolsonaro assola o Brasil. Entre as devastações mais graves, a que atinge a educação dos brasileiros. Da autoria de Ana Luiza Basilio, foi publicado um texto sobre educação,  na página virtual da prestigiada revista de grande circulação CartaCapital.

No essencial, apela-se para que o tosco poder atual olhe para alguns exemplos positivos dados por outros países através do mundo. São mencionados cinco exemplos: Finlândia, Canadá, Alemanha, Estónia e Portugal.

Para além de alguns detalhes discutíveis,o texto mostra em si próprio que  Portugal é visto como projetando no campo da educação uma imagem global suficientemente positiva, para suportar a sua invocação como exemplo.

E,no entanto, na última década temos sido tolhidos por um grande desperdício de energias, desviadas para aspetos menores da problemática educativa ou para maneiras tóxicas de abordar aspetos relevantes dessa problemática. É tempo de arripiar caminho.

Se partirmos do essencial,provavelmente, criaremos condições para superar sem dificuldades de maior  algumas das crispações que têm grassado entre nós nos  últimos anos, sem benefício para ninguém e com prejuízo para o país.

Olhemo-nos tal como somos visto no texto seguinte e aprendamos a aprender com os outros países dados como exemplo ao nosso lado. Não para os imitarmos acefalamente mas para  tirarmos deles as lições que nos possam dar.
Eis o texto que mencionei.

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5 países que apostam, e muito, na educação
(fica a dica, Bolsonaro)


Conheça a trajetória de nações que valorizam os professores e são exemplos de modelos educacionais do mundo

Se é difícil encontrar paralelo no mundo com o que se passa no Brasil de maneira geral, é quase impossível detectar uma experiência semelhante quando se trata de educação. Na maioria dos países, ricos ou pobres, ao Norte ou ao Sul, a compreensão do ensino como esteio da civilização e da prosperidade é disseminada e defendida pela sociedade. Ninguém se atreveria a cortar o orçamento das universidades sob a alegação de “balbúrdia”, interromper o pagamento de bolsistas de mestrado ou doutorado sem critérios claros ou chantagear os eleitores com a possibilidade de secar as torneiras caso uma reforma da Previdência não seja aprovada. O mais provável destino de um governo que assim se comportasse seria uma breve temporada no poder – e o ostracismo político.
Na Europa, berço do Estado de Bem-Estar Social, o ensino, do maternal à universidade, é público e gratuito, salvo raras exceções, e não há líder populista de direita capaz de convencer a população de que o sistema prejudica a economia e estimula o privilégio. Ao contrário. A educação universal e às expensas do Estado é vista como uma condição básica para garantir a igualdade e o desenvolvimento. Nas nações em que escolas públicas e privadas convivem, o ensino pago é preenchido por uma minoria – ou filhos de milionários ou estudantes com dificuldades de adaptação.
Não bastasse, enquanto o governo Bolsonaro escolhe a educação e a ciência como os inimigos número 1, nações que há muito tempo atingiram a universalização do ensino preparam-se para a nova etapa do capitalismo: a revolução industrial e tecnológica chamada de 4.0, tsunami que destruirá milhares de profissões e milhões de empregos ao redor do mundo nas próximas décadas. Corrida para a qual, obviamente, o Brasil se torna cada vez menos competitivo.
A seguir, listamos cinco países que, em diferentes medidas, redobraram seus esforços para adaptar os cidadãos à nova fase do desenvolvimento:
Portugal
Desde que a OCDE, a organização das nações desenvolvidas, começou, em 2000, a aplicar um sistema de avaliação entre seus afiliados, Portugal registra melhoras constantes nos indicadores. Em 2015, os estudantes do país conseguiram notas acima da média em ciências, leitura e matemática. Um dos segredos é o maciço investimento nas famílias e nos primeiros seis anos de uma criança. Entre 2003 e 2015, o total de mães com ensino secundário completo subiu 41%. Quanto maior a escolaridade materna, mostram os estudos, maior o rendimento dos filhos na escola. Nem a crise econômica que devastou Portugal em 2008 interferiu nas políticas públicas.
A educação básica em Portugal é dividida em três ciclos e leva 12 anos para ser concluída. O Ensino Superior contempla dois sistemas: universitário e politécnico. No primeiro, são conferidos aos estudantes os graus de licenciatura, mestrado e doutorado. Os institutos politécnicos concentram-se na formação profissional prática.
Finlândia
Referência mundial, a Finlândia constantemente aparece no topo das avaliações de qualidade da educação. A revolução no ensino começou ainda nos anos 1960, quando os impostos gerados pela indústria de papel e celulose sustentaram a adoção das políticas de Bem-Estar Social. O ensino gratuito e universal foi adotado na década de 70 e desde então mira o conhecimento interdisciplinar e não estanque. Matemática, ciência e música são apresentadas aos estudantes por meio de projetos integrados, forma de combinar os conteúdos e adaptá-los ao cotidiano dos alunos. Como a individualidade é estimulada e não reprimida, uma sala reúne até cinco níveis de estudantes em torno de uma mesma tarefa.
O governo incentiva a adoção de novas tecnologias e modelos de aprendizagem. Os professores são valorizados e exigidos. É preciso mestrado para dar aulas em uma escola de Ensino Fundamental. Na Finlândia é mais difícil ser professor – em 2015, a taxa de aprovação nos cursos de formação de professores foi de 4,2% – do que médico, cujo índice de aprovação nas faculdades é de 8,8%.

Canadá
Em 2015, o país ocupou o terceiro lugar do ranking da OCDE em leitura e ficou entre os dez melhores na avaliação geral. O sistema canadense organiza-se a partir de províncias autônomas, ou seja, não há um sistema nacional, mas políticas distintas em cada localidade. Um traço comum no sistema é, no entanto, a igualdade de oportunidades. Há um esforço para integrar o grande contingente de migrantes que todos os anos aporta no país. Em geral, um aluno de fora leva três anos para alcançar uma performance semelhante aos estudantes de origem canadense.
São também expressivos os investimentos em alfabetização, treinamento de professores, bibliotecas e reforço para alunos com dificuldade de aprendizagem.
Os bons índices refletem ainda a homogeneidade socioeconômica. Há pouca diferença de rendimento escolar entre os alunos mais e menos pobres. No último Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, a variação de notas causada por diferenças socioeconômicas foi de apenas 9%, em comparação aos 20% da França e 17% de Cingapura, para citar dois casos.
A rede pública abriga o maior número de estudantes. Em Ontário, 94% dos alunos estão matriculados em unidades públicas. De maneira geral, o sistema repele a lógica “academicista”, de fixação de conteúdos, e estimula a autonomia. Aos 14 anos, os canadenses podem escolher as disciplinas que mais interessam e montar a própria grade curricular. A educação obrigatória vai até os 16 anos.
Alemanha
Depois de um contingenciamento na última década causado pela crise econômica de 2008, a Alemanha anunciou a retomada dos investimentos públicos. Serão 160 bilhões de euros a mais entre 2021 e 2030 para universidades e centros de pesquisa científica independentes. “Com isso, estaremos garantindo a prosperidade do nosso país no longo prazo”, afirmou Anja Karliczek, ministra da Educação, durante o anúncio dos novos investimentos.
Além de mais dinheiro para a contratação de professores, as universidades terão acesso a um fundo de 150 milhões de euros destinado a projetos especiais.

Estônia
Na última edição do Pisa, o ranking da OCDE, a Estônia apareceu em terceiro lugar, atrás apenas de Cingapura e Japão. O sucesso educacional recente do pequeno país báltico sustenta-se em um tripé: acesso universal e gratuito em todas as etapas do ensino, autonomia garantida a professores e escolas e valorização da educação pela sociedade.
O governo investe atualmente 6% do PIB em educação. Enquanto o Brasil gasta 6,6 mil reais com estudantes do Ensino Fundamental, a Estônia aplica o equivalente a 28 mil reais. Boa parte do dinheiro garantiu o aumento de renda dos professores, que cresceu 80% nos últimos dez anos. O piso salarial é de 1,2 mil euros, cerca de 5 mil reais.
Um currículo nacional orienta os ciclos de aprendizagem, mas as escolas têm autonomia para aplicá-lo da maneira que acharem melhor. Como na Finlândia, as disciplinas são integradas e não respeitam limites burocráticos. Ética e educação digital estão entre os temas mais explorados. Exige-se no mínimo mestrado dos professores.


quarta-feira, 8 de maio de 2019

Deputadas no seu labirinto.




Eis um grupo de deputadas do BE, do PCP, do PSD e do CDS num diligente trabalho de grupo a prepararem na Assembleia da República, em sede de especialidade, a versão final da proposta sobre contagem do tempo de serviço dos professores. O resultado dessa concertação viria a provocar a tomada de posição do Governo que informou que se demitiria se essa proposta fosse aprovada ena Votação Final Global. Uma deputada do PSD e outra do CDS, depois da reunião, gabaram-se perante as câmaras de televisão, de que cada um dos respetivos partidos tinha sido decisivo no alcançar da proposta em causa, com a qual exultaram.

Eis se não quando, algum tempo mais tarde, os líderes desses dois partidos de direita vêm dizer que era uma mentira do Governo que tivesse acontecido aquilo que acabamos de referir. Ou seja, nós não tínhamos visto aquilo que tínhamos visto, já que aquilo que tínhamos visto era afinal apenas uma grande  mentira do Governo.

Foi também comovente  vermos  a líder do BE apelar ao PS para não se conluiar com a direita. E para dar mais realidade a essa frondosa  cominação,  para dar mais força e verosimilhança ao seu apelo, atrevo-me a sugerir que recorra a uma das deputadas do BE que na foto acima reproduzida foram apanhadas num flagrante  tricotar do acordo com o PSD e o CDS.

Por último, fiquei muito  impressionado com a alegação do PCP de que a posição do Governo era um gesto eleitoralista destinado a tornar mais provável uma maioria absoluta. É que essa imputação era afinal o reconhecimento tácito de que a posição tomada pelo Governo era suficientemente acertada e boa para fazer crescer o apoio eleitoral. na esteira de um  aumento de popularidade. Ora, ninguém ganha prestígio popular cometendo erros políticos. Não é por isso  lógico  considerar que na raiz de uma asneira política esteja  a sofreguidão em  ganhar votos.

Numa palavra, olhando-se  para aquela comovente imagem de uma virtuosa conspiração contra o Governo tecida por deputadas do BE, do PCP, do PSD e do CDS , hoje já se pode pensar :”Foram à lã e acabaram tosquiadas”.

domingo, 5 de maio de 2019

Quarta-feira, dia 8 de maio, em LISBOA.


No próximo dia 8 de maio (4ª feira), em Lisboa, às 18 horas, na Associação 25 de abril, Fernando Pereira Marques vai a apresentar um livro de que sou autor. 

Interrogações sobre o socialismo, o capitalismo, a Europa e o futuro que podem ser partilhadas. Uma conversa com  atualidade .Todos são  bem-vindos. Para mais detalhes, podem ver a imagem subsequente.

                                     [ Para ampliar a imagem pode clicar-se sobre ela]

sexta-feira, 3 de maio de 2019

A especificidade portuguesa em crise ?


A propósito da atual crispação política no seio das esquerdas, escrevi hoje no FB estes dois textos. O segundo responde a alguns comentários feitos ao primeiro.


1. As esquerdas têm as suas razões. Batem-se entre si por elas com coerência. Sorvem-nas até ao fim com coerência. Grande coerência mesmo em problemas pequenos. Será essa coerência suficiente para derrubar o atual governo que todas elas apoiam? Ninguém sabe.
Duas delas foram apoiadas pelas direitas contra a outra e o governo. Grande generosidade? Talvez. Mas também pode acontecer que não seja uma ajuda das direitas, mas um empurrão. Para o abismo?
Cansar-se-ão os eleitores de esquerda de votar nos seus partidos? Talvez. Se assim for as direitas agradecerão a boleia e chegarão sem esforço ao poder.
Há casos em que uma fidelidade basáltica a pequenas razões faz perder a razão. Será este o caso? Talvez . Mas mesmo que não cheguem a perder a razão, se continuarem intransigentes, perderão certamente o poder.
E quando festejarem a vitória as direitas unidas hão de olhar para as esquerdas desunidas, mas fiéis ás suas razões mesmo pequenas e rir-se-ão delas. Merecidamente…
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2. A diversidade dentro da esquerda implica que cada uma das suas partes encare as outras como protagonistas de opiniões diferentes, sem por isso as diabolizar. Diferenças, mas não anátemas mútuos Só assim as ações conjuntas podem ter consistência e perenidade. Só assim se pode construir um bloco social amplo que dê suporte a verdadeiras mudanças sociais. As crispações atuais são o contrário de tudo isso. E se eu estou convencido que a intenção subjacente de quem votou em conjunto com a direita uma solução que o governo alega ser incomportável não era o derrube do Governo, a verdade é que no domínio das possibilidades objetivas isso pode acontecer. Se assim for politicamente constituiu-se uma nova maioria integrada pelos partidos que se uniram contra o atual governo .Quererão os partidos que a integram dar suporte a uma solução governamental alternativa á atual? Não me parece. Mas nesse caso estarão apenas a dar força a uma alternativa ao governo atual protagonizada apenas pelos partidos de direita que votaram contra o atual governo neste caso. Ficarão os professores beneficiados com essa mudança de governo ? Ficarão os eleitores desses partidos satisfeitos com essa mudança? Ficará o povo português em melhores mãos? Se os protagonistas em causa não ponderaram estas questões ou são irresponsáveis ou são políticos amadores. É que como escreveu BOSSUET: " Não há pior desregramento do espírito do que tomar a realidade por aquilo que gostaríamos que ela fosse."