domingo, 31 de março de 2013

UNIVERSIDADE DE COIMBRA



Não sabes  que saber nunca soubeste
Nessa longa jornada

Atravessaste todos os caminhos
Num passo hesitante sempre exacto

Às vezes inventavas o futuro
Ou eras o passado concentrado

A ti em cada ano foi chegando
Um segredo de eterna juventude

Estudantes que esqueciam os compêndios
E sorviam a vida deslumbrados

Tecidos  pelo sonho  pelos tempos
Foram a luz que espera a madrugada

[ Rui  Namorado]

sábado, 30 de março de 2013

POEMA DA VERDADE PRÁTICA


Em Outubro de 2010, publiquei neste mesmo blog o poema que aqui faço regressar hoje. Errar foi  o seu título. Hoje, pretendo usá-lo como contraponto ao poema ontem aqui publicado, pelo que para esse efeito lhe atribuí um novo título: Poema da verdade prática.


 

Não deixes que os teus dedos
se percam
nas harpas da tristeza,
como folhas de outono

Dá-lhes o calor dos teus erros
a pele azul do sonho
o sabor tão relativo
das tuas verdades

Engana-te generosamente
a favor de um mundo melhor,
tropeça na realidade sem inibições,
colhe o impossível sem pudor
Nas arcas do sofrimento
não cultives as lágrimas
no exílio da alegria
não cedas ao desespero

Se a revolta subir
ao longo dos teus braços,
dá-lhe todas as asas,
vai com ela

Que nas cidades justas
do futuro,
entre os que enfim
se olharem inteiros e libertos,
alguém possa dizer sobre ti:

enganou-se,
mas era nosso irmão


[ Rui  Namorado]

sexta-feira, 29 de março de 2013

POEMA DA VERDADE












A verdade não é este silêncio,
amargo, plano, sufocado.
A verdade não é este deserto,
sem gestos , sem luz e sem ideias.

A verdade não fica neste exílio,
neste castelo antigo, abandonado.
A verdade não vive na tristeza
destas palavras soltas sem sentido.

Verdade é este vento que regressa,
enorme, desmedido, sem pecado.
Verdade é teres um sonho em tuas mãos,
à espera que o decidas  semear.

A verdade semeia-se  e renasce
como gesto de amor incendiado,
abrindo-se às palavras que hão-vir,
num íntimo pudor de ter ideias.

Só é verdade o sonho que não para,
no medo, na amargura, nas fronteiras.
Só é verdade cada primavera
conquistada, vivida, palmo a palmo.

A verdade não é este silêncio,
destas palavras podres repetidas,
destas palavras ditas sem sabor,
sem lábios, sem vigor  e sem saudade.

A verdade não para, não se rende,
não fica neste exílio degredada.
Mistura-se na vida, vai em frente,
nascida de novo, em cada dia.
[ Rui  Namorado]

quinta-feira, 28 de março de 2013

PALAVRAS DE SÓCRATES


As palavras de Sócrates fizeram comichão em muita gente. É certo e é estranho. Estranhando, pensei: será pelo modo como na sua ausência o atacaram? Será pelo modo ronceiro como o defenderam? Talvez. Mas reconheçamos que, tendo sido frontal, contundente e claro, não saiu do que se poderia esperar. Mas não foi melífluo, nem mordeu nas canelas de ninguém, fingindo que as lambia. Quando se tratou de morder, fê-lo sem cerimónias e com todos os dentes. Antes de disparar não fez qualquer vénia. Terá sido, só, essa frontalidade? Talvez. Mas, verdadeiramente, uma boa parte da sua força  e da devastação que causou na história da carochinha, a que se tem reduzido a narrativa dominante, derivou do desastre a que os autómatos do neoliberalismo  conduziram o país. Uma boa parte da força de Sócrates radicou-se na ostensiva ligeireza de quem actualmente governa e na crescente entaramelação mental e política do inquilino de Belém. E, repita-se, na devastação que têm  vindo a cometer no nosso país:

De facto, hoje, sabe-se:
1) que o caso português foi uma das partes visíveis de um iceberg europeu;
 2) que a gestão dos governos contribuiu menos para a crise em curso do que a lógica predatória do próprio capitalismo, levada ao paroxismo pela banqueiragem, mais ou menos mafiosa, que domina o sistema financeiro;
3) que o atual governo português não é uma excepção, no quadro de cretinismo político dominante nos governantes da Europa fria;
4) que o atual governo é muito diferente do anterior, protagonizando por intermédio da sua diferença um dramático acréscimo de sofrimento para muitos e muitos portugueses; 
5 ) que a troika não é a representante de credores nenhuns, alegadamente ciosos de garantir pagamentos, mas a agente de centros de poder fautores de uma política reaccionária de regressão civilizacional, que nenhum governo conseguiria impor em democracia, por mais toscamente neoliberal que fosse, sem esta encenação.

Talvez, por tudo isso, o PS tenha comentado  com suavidade a importância do evento socrático, os dois partidos da direita tenham escoicinhado, mostrando bem que o ferro os atingiu bem no lombo, e os outros dois partidos de esquerda tenham reagido como se tivessem sido apanhados a colher laranjas no quintal do vizinho.

Enfim, grande movimentação; sendo, talvez, verdade que o mais positivo foi realmente o arejamento do debate político, como reivindicou expressamente José Sócrates.

terça-feira, 26 de março de 2013

FRANCISCO OU PILATOS ? Lavar os pés ou as mãos?

Estamos ainda em plena onda mediática suscitada pelo advento de um novo Papa. Um olhar atento permite adivinhar complexidade nessa nova figura politico-religiosa. O complexo mediático conservador, que domina o espaço público, apenas descobriu uma quase-santidade no novo personagem. É por isso particularmente recomendável tomarmos conhecimento do lado oculto da lua, ouvindo vozes dissonantes. Uma delas surgiu na revista brasileira de grande circulação CartaCapital, através de um texto do escritor e jornalista brasileiro Eric Nepomuceno, com o sugestivo título de Francisco ou Pilatos?" Atrevi-me a acrescentar-lhe uma interrogação paralela : tenderá, no decorrer do seu papado, este Francisco a humanizar- se, lavando os pés dos pobres, numa exuberância de solidariedade; ou a congelar-se, lavando as suas próprias  mãos, perante os desmandos dos poderosos ? O tempo desfará implacavelmente essa dúvida. Vejamos pois o referido texto:


"As evidências parecem claras, ao menos neste primeiro instante: Jorge Mario Bergoglio, jesuíta, cardeal de Buenos Aires até virar o papa Francisco, será uma figura popular. A imagem de um clérigo que prepara a própria comida, conversa com o jornaleiro e anda de metrô foi cantada em prosa e verso aos quatro cantos do mundo. No lugar dos refinados sapatos de seu antecessor, vermelhos, de pelica finíssima e feitos à mão, calçados comuns, visivelmente gastos. É bonachão, brincalhão, de hábitos banais. Após se tornar o chefe espiritual de mais de 1 bilhão e meio de almas, ainda teve o gesto singelo de pagar a conta da hospedagem.
Na mesma toada, faz questão de autointitular-se bispo de Roma, para deixar claro ser apenas mais um. E dispensou o veículo blindado, azucrinou sua segurança com a mania de ir ao encontro dos fiéis e, claro, não deixou de afagar um rapaz enfermo nos braços de um homem na Praça São Pedro.
Também parece claro ter ele consciência do tamanho dos problemas internos do Vaticano. Há de tudo, e para todos os gostos: corrupção, intrigas palacianas, conspirações, disputa de espaço e poder, lavagem de dinheiro, traições e, para completar, os abusos sexuais e os casos de pedofilia. Isso para não mencionar o pesado, pesadíssimo peso do véu da omissão a encobrir os pecados.
O papa Francisco é o primeiro latino-americano a chegar aonde chegou. E o primeiro jesuíta. E o primeiro não europeu em mais de mil anos a virar chefe máximo da Igreja Católica. E já que se trata de ineditismos, substitui outro papa vivo, o alemão Joseph Ratzinger, o primeiro a renunciar em 600 anos. Deixou de ser o papa Bento XVI, mas não voltou a ser apenas Ratzinger: virou papa emérito.
Os grandes meios de comunicação, com destaque para a mídia da América Latina, saudaram eufóricos a escolha de Bergoglio. Em seu país, a Argentina, vive-se um clima de conquista de Copa do Mundo. Mas, como sempre acontece, há vozes dissonantes. E essas vozes dizem coisas graves, tão graves que provocaram uma dura reação do Vaticano e um imediato reforço na maré de aplausos dos conglomerados de jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão. Na falta de melhores argumentos, tratou-se de desmoralizar os dissonantes: quem afirma ter o papa desempenhado um papel no mínimo melífluo durante a ditadura é pecador, ou quase.
Há, porém, indícios concretos, documentos já não tão secretos, depoimentos de vítimas. O padre Bergoglio, em seus tempos de provincial dos jesuítas na Argentina, foi omisso, quando não conivente, com prisões ilegais e torturas desumanas praticadas contra integrantes de sua congregação. E em mais de uma oportunidade se fez de sonso quando cobrado por sua inércia diante de apelos recebidos de familiares de desaparecidos, em especial de quem teve filhas grávidas sequestradas e mortas e seus bebês doados aos verdugos e cúmplices.
Estranha sequência papal. Ratzinger foi na adolescência integrante das Juventudes Hitleristas. Bergoglio foi na juventude membro da Guardia de Hierro, a extrema-direita desse confuso amontoado de ideologias formadoras do peronismo. Ratzinger ao menos podia apresentar o argumento de que, nos anos 1930, todos os jovens alemães eram automaticamente cooptados para integrar as Juventudes Hitleristas. Bergoglio, agora Francisco, preferiu não comentar o caso. Deixou correr o rumor de ser um papa peronista.
Não há, é verdade, nenhuma prova contra Bergoglio. Muitos integrantes da alta cúpula da Igreja argentina silenciaram em público e aplaudiram em privado os desmandos bárbaros da ditadura genocida iniciada em março de 1976 por um trio encabeçado pelo general Jorge Rafael Videla, atualmente na cadeia, sentenciado a diversas penas de prisão perpétua. O trio se completava com Orlando Agosti (Aeronáutica) e o chefe máximo da Marinha, o almirante Emilio Massera, na juventude simpatizante da mesma Guardia de Hierro da extrema-direita peronista e conhecido de Bergoglio. Massera, já morto, chegou a ser condecorado, no auge do horror, pela Universidad del Salvador, da ordem jesuíta.
O novo papa nunca foi acusado de apoiar, como outros clérigos, os voos da morte, quando prisioneiros eram retirados de campos de concentração e cárceres clandestinos, levados para aviões e lançados vivos nas águas do Atlântico, ou do Rio da Prata, ou do Rio Paraná. Documentos revelam que a cúpula católica considerava esse o meio mais humano ou menos desumano de matar, pois os prisioneiros não percebiam seu destino, já que eram dopados antes de ser jogados dos aviões.
Daí a sustentar desconhecimento sobre os fatos é outra história. Sobre o roubo sistemático de bebês nascidos em cárceres clandestinos, cujas mães eram mortas antes de eles serem doados, Bergoglio afirmou num tribunal ter tomado conhecimento da barbárie recentemente. Não é verdade. Familiares de presos políticos contam ter procurado em vão por apoio do jesuíta nos momentos mais sombrios da ditadura.
Há mais sombras em seu passado e em seu presente. Ao assumir a presidência da Conferência Episcopal Argentina, em 2005, poderia ter determinado punições previstas no direito canônico, e não fez nada. Videla não foi excomungado. Ao contrário, continua, no quartel do Campo de Mayo, onde cumpre pena, a receber a hóstia sagrada dos católicos. Christian Von Wernich, capelão condenado à prisão por ter acompanhado, cúmplice, sessões de tortura, continua a realizar missas no presídio de Marcos Paz, onde está recolhido.
Bergoglio não permitiu, quando cardeal de Buenos Aires, o acesso da Justiça aos arquivos do Episcopado. Mais: negou que nos arquivos houvesse qualquer documento relacionado aos sequestros e assassinatos de militantes políticos, religiosos ou não. Quando a Justiça finalmente conseguiu acesso aos arquivos, constatou justamente o contrário: havia documentos, e muitos.
Estava claramente registrado como a ditadura reprimiu duramente, ferozmente, os religiosos ligados aos movimentos populares. Dois bispos foram assassinados, Enrique Angelelli e Carlos Ponce de León. Até hoje Bergoglio se refere a suas “mortes”. Jamais pronunciou a palavra “assassinatos”, embora, segundo a Justiça, esse seja o tema mais apropriado.
Para fazer mais sombra e trazer mais névoa, existe ainda a suspeita, forte suspeita, de que Bergoglio, quando era o principal líder dos jesuítas, entregou dois padres da congregação.
Em depoimentos, altos dirigentes da Igreja Católica admitem que logo após o golpe de 1976 houve um acordo não formalizado com os militares. Antes de prender um sacerdote ou freira, as Forças Armadas avisariam o bispo responsável. Aconteceu justamente o contrário no caso dos jesuítas Orlando Yorio e Francisco Jalics. Depois de sugerir aos dois para abandonar o trabalho de caridade em favelas vizinhas do Bairro de Flores, em Buenos Aires, Bergoglio avisou à Marinha que havia retirado a proteção a ambos. Tecnicamente, retirou suas “licenças”, uma espécie de luz verde para a ação militar.
Em junho de 1976, Yorio e Jalics foram sequestrados, levados à Escola Superior de Mecânica da Armada (Esma), o maior campo de concentração clandestino da ditadura, onde foram torturados em infindáveis interrogatórios. Seis meses depois, Bergoglio, superior jesuíta, pediu pela libertação dos sacerdotes. Cuidou, porém, de instruir as paróquias a não aceitá-los. Jalics, de origem húngara, ao sair da prisão foi para a Alemanha, no fim de 1976. Três anos depois, tentou renovar seu passaporte argentino. Para tanto, assegurou seu desinteresse em retornar ao país. O diretor de Culto Católico do Ministério de Relações Exteriores, Anselmo Orcoven, recusou a renovação e acrescentou uma observação: “O próprio padre Bergoglio escreveu uma nota com especial recomendação de que o pedido não seja atendido”.
Tudo isso, e muito mais, está documentado. Eis um dos tantos problemas das ditaduras, por mais sanguinárias e bárbaras: sempre alguém guarda algum documento. E anos ou décadas depois esse documento acaba por aparecer.
O papa realmente não atuou intensamente ao lado dos ditadores. Tentou ajudar alguns perseguidos, chegou a abrigar na igreja gente que se sentia ameaçada, aceitou esconder livros considerados perigosos. Mas também é verdadeira a avareza de sua solidariedade. Vários sacerdotes jesuítas, além de Yorio e Jalics, carregam até hoje a angustiosa certeza de terem sido, se não diretamente denunciados, “facilitados” pelo seu superior até cair nas garras da repressão mais brutal.
Seja como for, Jorge Mario Bergoglio já não existe. Quem existe agora é Francisco. Começa outra história, surgem outras perguntas. Como será seu papado? Seu forte discurso a favor dos pobres, dos excluídos, irá ao encontro das posturas de diversos governos da América Latina, ou servirá de instrumento de pressão política, num gesto de apropriação do discurso progressista? Alguém se atreveria a ignorar o forte, fortíssimo peso da opinião do Vaticano sobre as políticas aplicadas na região?
Na Argentina, por exemplo, os conflitos do cardeal com os governos de Néstor Kirchner primeiro, e de sua viúva e sucessora Cristina Kirchner, são tão sérios como evidentes. Extremamente conservador na doutrina e nas decisões do -Vaticano em tudo relacionado ao casamento entre cidadãos do mesmo sexo, ao aborto, aos métodos de prevenção da gravidez, o então cardeal de Buenos Aires não perdeu oportunidade para criticar o governo. Quando não havia oportunidade, ele soube criar.
Os dois Kirchner, Néstor primeiro e Cristina depois, responderam no mesmo tom beligerante. As relações entre o governo e a cúpula eclesiástica se deterioraram rapidamente. É de se esperar gestos e movimentos de boa vontade dos dois lados. Cristina Kirchner sabe não ser nada interessante, ainda mais num ano de cruciais eleições legislativas, estender o conflito. O papa, claro, sabe que a presidente sabe disso, da mesma forma que maior será sua influência política se conseguir se mostrar menos crispado em sua relação com ela.
A questão política, porém, não se limita ao país natal do papa. Pode-se dar como certo o firme apoio dos grandes meios hegemônicos de comunicação a qualquer gesto papal que confronte os governos de esquerda e de centro-esquerda da América Latina.
Em países onde a oposição navega qual nau sem rumo, como o Brasil, ou onde a polarização se faz mais aguda, como na Venezuela e, aliás, na própria Argentina, Francisco poderá se tornar bússola e farol.
Convém jamais esquecer que o Vaticano, a Igreja Católica, não se limita a ser uma doutrina, uma fé. É, principalmente, um forte poder político e econômico. Que sempre soube agir, forte e determinadamente, na defesa do interesse muito mais da tradição e da propriedade do que dos pobres e desvalidos. Esses ficam nos discursos da alta cúpula religiosa, ou entregues aos cuidados sempre limitados e pressionados, por essa mesma cúpula, das correntes minoritárias e progressistas do catolicismo.
Em seus tempos de cardeal, Bergoglio era considerado extremamente habilidoso. Melhor, habilidosíssimo. Foi um aliado eficiente e contundente dos barões do agronegócio na Argentina, da oposição mais rançosa, enquanto mantinha um discurso aberto às grandes causas sociais.
Saberá se manter nesse frágil equilíbrio? Saberá levar às ruas um discurso cristão, enquanto nos bastidores luta para sanar os pecados do Vaticano para que nada mude e as tradições e interesses de sempre, por mais anacrônicos, se preservem?"

domingo, 24 de março de 2013

O PAPA E O TEÓLOGO


A comunicação social fez eco de posições favoráveis ao novo Papa, tomadas pelo grande expoente da Teologia da Libertação que é o brasileiro Leonardo Boff, procurando usá-las, talvez, para tentar apagar algumas sombras que pairaram sobre Francisco I , em virtude da sua complacência para com a mais recente ditadura argentina. Sombras que, aliás, já foram mostradas neste mesmo Blog. Pareceu-me, por isso, apropriado transcrever do Jornal do Brasil, um texto datado do passado dia 18 de Março. Melhor do que utilizar Leonardo Boff, em pequenas doses mediáticas na tentativa de o fazer dizer coisas que pareçam convenientes, é lê-lo realmente.

Aqui vou, por isso, transcrever o texto do referido teólogo, publicado no Jornal do Brasil, intitulado “É  possível um exercício do papado diferente”. Ei-lo:

“A grave crise moral que atravessa todo o corpo institucional da Igreja fez com que  o Conclave elegesse alguém que tenha autoridade e coragem para fazer profundas reformas na Cúria romana e inaugurar uma forma de exercício do poder papal que seja mais conforme ao espírito de Jesus e adequado à nova consciência da humanidade. Francisco é o seu nome. 
A figura do papa é talvez o maior símbolo do sagrado  no mundo ocidental. As sociedades que pela secularização exilaram o sagrado, a falta de líderes referenciais e a nostalgia  da figura do pai como aquele que orienta, cria confiança e mostra caminhos, concentraram na figura do papa  estes ancestrais anseios humanos que podiam ser lidos nos rostos dos fiéis na Praça de São Pedro. Por isso é importante analisar o tipo de exercício de poder  que o papa Francisco vai exercer. Disse em sua primeira fala que vai “presidir na caridade” e não como os anteriores com poder judicial sobre todas as igrejas. 
Para os cristãos é irrenunciável o ministério de Pedro como aquele deve “confirmar os irmãos e as irmãs na fé” segundo o mandato do Mestre. Roma, onde estão sepultados Pedro e Paulo, foi desde os primórdios referência de unidade, de ortodoxia e de zelo pelas demais igrejas. Esta perspectiva é acolhida também pelas demais igrejas não católicas. A questão toda é a forma como se exerce tal função. O papa Leão Magno (440-461), no vazio do poder imperial, teve que assumir a governança de Roma. Tomou o título de papa e de sumo pontífice, que eram do imperador, incorporou o estilo imperial de poder, monárquico, absoluto e centralizado, com seus símbolos, as vestimentas e o estilo palaciano. Os textos atinentes a Pedro que em Jesus tinham um sentido de serviço e de primazia do amor foram interpretados como  estrito poder jurídico. Tudo culminou com Gregório VII, que com o seu “Dictatus papae” (a ditadura do papa) arrogou para si os dois poderes, o religioso e o secular. Surgiu a grande Instituição Total, obstáculo ao caminho da liberdade dos cristãos e da sociedade. 
A partir daí o papa emerge como um monarca absoluto com a plenitude de todos os poderes como o cânon 331 bem o expressa.  Levanta a pretensão de subordinar ao seu poder toda as demais igrejas. Esse exercício absolutista foi sempre questionado, especialmente, pelos Reformadores. Mas nunca foi amenizado. Como reconhecia João Paulo II, este estilo de exercer a função de Pedro é o maior obstáculo ao ecumenismo e à aceitação pelos cristãos que vem da cultura moderna dos direitos e da democracia. Para suprir esta falta, os últimos dois papas organizaram uma espetacularização da fé, com viagens e eventos massivos,  como a dos jovens a se realizar  no Rio. 
Esta forma monárquica e absolutista representa um desvio da intenção originária de Jesus, e agora com Francisco deve ser repensada à luz da intenção de Jesus. Será um papado pastoral e de serviço à caridade e à unidade e não mais um papado do poder jurídico absolutista. O Concílio Vaticano II estabeleceu os instrumentos para uma reformulação no governo da Igreja: o sínodo dos bispos, esvaziado e feito até agora apenas consultivo, quando foi pensado para ser deliberativo. Criar-se-ia um órgão executivo que com o papa governaria a Igreja. Criou-se pelo Concílio a colegialidade dos bispos, quer dizer, as conferências continentais e nacionais ganhariam mais autonomia para permitir um enraizamento da fé nas culturais locais, sempre em comunhão com Roma. Representantes do Povo de Deus, cardeais, bispos, clero e leigos e até mulheres ajudariam a eleger um papa para toda a cristandade. Faz-se urgente uma reforma da Cúria na linha da descentralização. Certamente o que fará o papa Francisco. Por que o Secretariado para as Religiões não Cristãs não pudesse funcionar na Ásia? O Dicastério da unidade dos cristãos em Genebra, perto do Conselho Mundial de Igrejas?  O das missões, em alguma cidade da África? O dos direitos humanos e justiça, na América Latina? 
A Igreja Católica poderia se transformar numa instância não autoritária de valores universais, do cuidado pela Terra e pela vida sob grave ameaça, contra a cultura do consumo, em favor de uma sobriedade  condividida, enfatizando a solidariedade e a cooperação a partir dos últimos contra a exacerbação da concorrência. A questão central não é mais a Igreja mas a Humanidade e a civilização que podem desaparecer  Como a Igreja ajuda em sua preservação?  Tudo isso é possível e realizável, sem renunciar em nada à substância da fé cristã. Importa que o papa Francisco seja um João XXIII do Terceiro Mundo, um “Papa buono”. Só assim poderá  resgatar a credibilidade perdida  e ser um luzeiro de espiritualidade e de esperança para todos.” 

* Leonardo Boff é teólogo, filósofo e escritor. - lboff@leonardoboff.com

segunda-feira, 18 de março de 2013

O NOVO PAPA - a sombra de um passado


Horacio Verbitsky é um conhecido jornalista  e escritor argentino, autor de duas dezenas de livros, entre os quais uma obra em cinco volumes que tem como eixo a história da Igreja Argentina, bem como um livro que ganhou enorme visibilidade com a eleição do novo Papa: “El silencio: de Paulo VI a Bergoglio: las relaciones secretas de la Iglesia con la ESMA”.[ou seja, Escuela de Mecánica de la Armada, situada em Buenos Aires, lugar de detenções ilegais e de tortura durante a ditadura militar argentina -1976-83].
Foi este jornalista que esteve na base da polémica de que ontem fiz eco, no texto publicado aqui no Grande Zoo. No dia seguinte e também na Página 12, prestigiado jornal argentino,  Horacio Verbitsky publicou um novo artigo “Cambio de piel “, que enquadrou nos seguintes termos : La primera conferencia de prensa del vocero del papa Francisco fue para desprenderse de Jorge Mario Bergoglio, acusado por la entrega de dos sacerdotes a la ESMA. Como los testimonios y los documentos son incontestables, el camino elegido fue desacreditar a quien los difundió, señalando a este diario como izquierdista. Las tradiciones se conservan: es lo mismo que Bergoglio dijo de Jalics y Yorio ante quienes los secuestraron”. Eis o texto do artigo ontem publicado no Página 12:
“En su primer encuentro con la prensa luego de la elección del jesuita Jorge Mario Bergoglio como Papa de la Iglesia Católica Apostólica Romana, su vocero también jesuita Federico Lombardi descartó como viejas calumnias de la izquierda anticlerical, difundidas por un diario caracterizado por las campañas difamatorias, las alegaciones sobre el desempeño del ex provincial de la Compañía de Jesús durante la dictadura argentina y sobre todo, el papel que desempeñó en la desaparición de dos sacerdotes que dependían de él, Orlando Yorio y Francisco Jalics. Al mismo tiempo, medios y políticos argentinos de oposición incluyeron la nota “Un ersatz”, publicada aquí al día siguiente de la elección papal, entre las reacciones del kirchnerismo por la entronización de Bergoglio. También un sector del oficialismo prefirió aclamarlo como “Argentino y peronista” (la misma consigna con que cada septiembre se recuerda a José Rucci) y negar los hechos incontestables.

La reconciliación
Desde Alemania, donde Jalics vive retirado en un monasterio, el provincial jesuita germano dijo que el sacerdote se había reconciliado con Bergoglio. En cambio el anciano Jalics, hoy de 85 años, aclaró que se sentía reconciliado con “aquellos acontecimientos, que para mí son asunto terminado”. Pero aún así reiteró que no haría comentarios sobre la actuación de Bergoglio en el caso. La reconciliación, para los católicos, es un sacramento. En palabras de uno de los mayores teólogos argentinos, Carmelo Giaquinta, consiste en “perdonar de corazón al prójimo por las ofensas recibidas” 1, con lo cual sólo indica que Jalics ya perdonó el mal que le hicieron. Esto dice más de él que de Bergoglio. Jalics no niega los hechos, que narró en su libro Ejercicios de meditación, de 1994: “Mucha gente que sostenía convicciones políticas de extrema derecha veía con malos ojos nuestra presencia en las villas miseria. Interpretaban el hecho de que viviéramos allí como un apoyo a la guerrilla y se propusieron denunciarnos como terroristas. Nosotros sabíamos de dónde soplaba el viento y quién era responsable por estas calumnias. De modo que fui a hablar con la persona en cuestión y le expliqué que estaba jugando con nuestras vidas. El hombre me prometió que haría saber a los militares que no éramos terroristas. Por declaraciones posteriores de un oficial y treinta documentos a los que pude acceder más tarde pudimos comprobar sin lugar a dudas que este hombre no había cumplido su promesa sino que, por el contrario, había presentado una falsa denuncia ante los militares”. En otra parte del libro agrega que esa persona hizo “creíble la calumnia valiéndose de su autoridad” y “testificó ante los oficiales que nos secuestraron que habíamos trabajado en la escena de la acción terrorista. Poco antes yo le había manifestado a dicha persona que estaba jugando con nuestras vidas. Debió tener conciencia de que nos mandaba a una muerte segura con sus declaraciones”.
En una carta que escribió en Roma en noviembre de 1977, dirigida al asistente general de la Compañía de Jesús, padre Moura, Orlando Yorio cuenta lo mismo, pero reemplazando “una persona” por Jorge Mario Bergoglio. Nueve años antes que el libro de Mignone y 17 años antes que el de Jalics, Yorio cuenta que Jalics habló dos veces con el provincial, quien “se comprometió a frenar los rumores dentro de la Compañía y a adelantarse a hablar con gente de las Fuerzas Armadas para testimoniar nuestra inocencia”. También menciona las críticas que circulaban en la Compañía de Jesús en contra de él y de Jalics: “Hacer oraciones extrañas, convivir con mujeres, herejías, compromiso con la guerrilla”. Jalics también cuenta en su libro que en 1980 quemó aquellos documentos probatorios de lo que llama “el delito” de sus perseguidores. Hasta entonces los había conservado con la secreta intención de utilizarlos. “Desde entonces me siento verdaderamente libre y puedo decir que he perdonado de todo corazón.” En 1990, durante una de sus visitas al país, Jalics se reunió en el instituto Fe y Oración, de la calle Oro 2760, con Emilio Fermín Mignone y su mujer, Angélica Sosa. Les dijo que “Bergoglio se opuso a que una vez puesto en libertad permaneciera en la Argentina y habló con todos los obispos para que no lo aceptaran en sus diócesis en caso que se retirara de la Compañía de Jesús”. Todo esto no lo dice Página/12, sino Orlando Yorio y Francisco Jalics. ¿Quién quiere destruir la Iglesia, entonces? Cada tomo de mi Historia Política de la Iglesia en la Argentina incluye una advertencia: “Estas páginas no contienen juicios de valor sobre el dogma ni el culto de la Iglesia Católica Apostólica Romana sino un análisis de su comportamiento en la Argentina entre 1976 y 1983 como ‘realidad sociológica de pueblo concreto en un mundo concreto’, según los términos de su propia Conferencia Episcopal. En cambio, su ‘realidad teológica de misterio’ 2 sólo corresponde a los creyentes, que merecen todo mi respeto”.
En defensa de la tradición
La calificación de este diario por el vocero de Bergoglio como de izquierda anticlerical revela la continuidad de arraigadas tradiciones. Es lo mismo que el ahora pontífice hizo hace 37 años con sus sacerdotes, aunque entonces implicaba un grave peligro. Las acusaciones contra Bergoglio fueron formuladas por primera vez antes de que existiera Página/12. Su autor fue Mignone, director del órgano oficial de la Acción Católica, Antorcha, fundador de la Unión Federal Demócrata Cristiana y viceministro de Educación en la provincia de Buenos Aires y en la Nación. Ninguno de esos cargos podía alcanzarse sin la bendición episcopal. En su libro Iglesia y dictadura, de 1986, Mignone escribió que los militares limpiaron “el patio interior de la Iglesia, con la aquiescencia de los prelados”. El vicepresidente de la Conferencia Episcopal, Vicente Zazpe, le reveló que poco después del golpe la Iglesia acordó con la Junta Militar que antes de detener a un sacerdote las Fuerzas Armadas avisarían al obispo respectivo. Mignone escribió que “en algunas ocasiones la luz verde fue dada por los mismos obispos” y que la Armada interpretó el retiro de las licencias a Yorio y Jalics y las “manifestaciones críticas de su provincial jesuita, Jorge Bergoglio, como una autorización para proceder”. Para Mignone, Bergoglio es uno de los “pastores que entregaron sus ovejas al enemigo sin defenderlas ni rescatarlas”.
Dos décadas después encontré por azar las pruebas documentales que Mignone no conoció y que confirman su enfoque del caso. Que Bergoglio haya ayudado a otros perseguidos no es una contradicción: lo mismo hicieron Pío Laghi e incluso Adolfo Tortolo y Victorio Bonamín.
Cronos
En estas páginas se profundizó el caso cuatro años antes de que el kirchnerismo llegara al gobierno. La primera nota, publicada en abril de 1999, “Con el mazo dando”, decía que el flamante Arzobispo porteño “según la fuente que se consulte es el hombre más generoso e inteligente que alguna haya vez haya dicho misa en la Argentina o un maquiavélico felón que traicionó a sus hermanos en aras de una insaciable ambición de poder. Tal vez la explicación resida en que Bergoglio reúne en sí dos rasgos que no siempre van juntos: es un conservador extremo en materias dogmáticas y posee una manifiesta inquietud social. En ambos aspectos se parece a quien lo designó al frente de la principal diócesis del país, el papa Karol Wojtyla”. El concepto es el mismo que expresé el jueves cuando la fumarola blanquiceleste conmovió a todas las hinchadas, de La Quiaca a Tierra del Fuego. Aquella nota contraponía la versión de Mignone con la de Alicia Oliveira, abogada del CELS y amiga de Bergoglio, cuya hermana trabajaba en la villa de Flores junto con la hija de Mignone y con los dos curas. “Les dijo que tenían que levantarse y no le hicieron caso. Cuando los secuestraron, Jorge averiguó que los tenía la Armada y fue a hablar con Massera, a quien le dijo que si no pone en libertad a los sacerdotes, yo como Provincial voy a denunciar lo que pasó. Al día siguiente aparecieron en libertad.” También incluía la refutación de un sacerdote de la Compañía de Jesús: “La Marina no se metía con nadie de la Iglesia que no molestara a la Iglesia. La Compañía no tuvo un papel profético y de denuncia, a diferencia de los palotinos o los pasionistas, porque Bergoglio tenía vinculación con Massera. No son sólo los casos de Yorio, Jalics y Mónica Mignone, de cuyo secuestro la Compañía nunca formuló la denuncia pública. Otros dos curas, Luis Dourrón, que luego dejó los hábitos, y Enrique Rastellini, también actuaban en el Bajo Flores. Bergoglio les pidió que se fueran de allí y cuando se negaron hizo saber a los militares que no los protegía más, y con ese guiño los secuestraron”. Ese sacerdote, que murió hace seis años, era Juan Luis Moyano Walker, quien había sido íntimo amigo de Bergoglio. A raíz de la nota, Bergoglio me ofreció su propia versión de los hechos, en la que aparecía como un superhéroe. Tanto él como Jalics, a quien llamé por teléfono a su retiro alemán, me pidieron que atribuyera sus declaraciones a un sacerdote muy próximo a cada uno de ellos. Bergoglio dijo que vio dos veces a Videla y otras dos a Massera. En la primera reunión con cada uno, ambos le dijeron que no sabían qué había ocurrido y que iban a averiguar. “En la segunda reunión, Massera estaba fastidiado con ese jovencito de 37 años que se atrevía a insistir.” Según Bergoglio, tuvieron este diálogo:
“–Ya le dije a Tortolo lo que sabía –dijo Massera.
–A monseñor Tortolo –corrigió Bergoglio.
–Mire Bergoglio... –comenzó Massera, molesto por la corrección.
–Mire Massera...–le respondió en el mismo tono Bergoglio, antes de reiterarle que sabía dónde estaban los sacerdotes y reclamarle por su libertad”.
Me limité a transcribir lo que Bergoglio dijo, con la atribución que me pidió. Pero hasta hoy no me parece verosímil ese diálogo con uno de los gobernantes más poderosos y más crueles, que lo hubiera hecho desaparecer sin ningún escrúpulo. Ambos tenían en común la relación con Guardia de Hierro, el grupo de la derecha peronista en el que Bergoglio militó en su juventud y al que Massera le designó un interventor a partir del golpe, con el propósito de sumarlo a su campaña por la herencia del peronismo. En 1977 la Universidad jesuítica del Salvador recibió como Profesor Honorario a Massera, quien objetó a Marx, Freud y Einstein, por cuestionar el carácter inviolable de la propiedad privada, agredir el “espacio sagrado del fuero íntimo”, y poner en crisis la condición “estática e inerte de la materia”. Massera indicó que la Universidad era “el instrumento más hábil para iniciar una contraofensiva” de Occidente, como si Marx, Freud y Einstein no formaran parte de esa tradición. Bergoglio se cuidó de subir al estrado ese día, de modo que nadie ha visto una foto suya con Massera. Pero es inimaginable que el dictador haya recibido la distinción sin que la ceremonia fuera autorizada por el provincial jesuita que delegó la gestión diaria en una asociación civil conducida por Guardia de Hierro, pero retuvo su conducción espiritual. Luego, Massera fue invitado a exponer en la universidad jesuítica de Georgetown, en Washington. El sacerdote irlandés Patrick Rice, quien pudo dejar la Argentina luego de ser secuestrado y golpeado, interrumpió esa conferencia exigiendo explicaciones sobre los crímenes de la dictadura. Según Rice, el provincial estadounidense no hubiera invitado a un personaje semejante sin la aprobación, o el pedido, del provincial argentino. Estos hechos comprobables desmienten el diálogo fantasioso en el que el jovencito Bergoglio desafía al amo de la ESMA.
Una muerte cristiana
En 1995, un año después que el libro de Jalics se publicó El Vuelo, donde el capitán de fragata Adolfo Scilingo confiesa que arrojó a treinta personas aún vivas al mar desde aviones de la Armada y la Prefectura, luego de drogarlas. Además dice que ese método fue aprobado por la jerarquía eclesiástica por considerar el vuelo como una forma cristiana de muerte, y que los capellanes de la Armada consolaban a quienes volvían perturbados de esas misiones, con parábolas bíblicas sobre la separación de la cizaña del trigo. Impresionado, retomé una investigación que había iniciado años antes sobre la isla del Tigre “El Silencio”, en la que la Armada escondió a 60 detenidos-desaparecidos para que no los encontrara en la ESMA la Comisión Interamericana de Derechos Humanos. Era propiedad del Arzobispado de Buenos Aires y allí celebraban su graduación los seminaristas que egresaban cada año y descansaba los fines de semana el cardenal Juan Aramburu. El sacerdote Emilio Grasselli la había vendido al grupo de tareas de la ESMA, que la compró con un documento falso a nombre de uno de sus prisioneros. Pero no había visto los títulos de propiedad hasta que Bergoglio me dio los datos precisos sobre el expediente sucesorio de Antonio Arbelaiz, el solterón administrador de la Curia que figuraba como dueño. Esto muestra que con aquel episodio no tuvo relación. Arbelaiz hizo testamento a favor de la Curia, que es donde fue a parar el dinero que la Armada le pagó a Grasselli por la isla, donde los 60 prisioneros pasaron dos meses encadenados. Parece el camino típico de una operación de lavado: Arbelaiz vende a Grasselli que vende a la ESMA que compra con un documento falso y la hipoteca se levanta pagándole a la Curia, que es la heredera de Arbelaiz. En uno de sus testimonios judiciales, Bergoglio reconoció que habló conmigo sobre el secuestro de Yorio y Jalics. Pero dijo que nunca oyó hablar de la isla “El Silencio”. Siempre el doble juego, la admisión privada y la negativa pública.
Por la espalda
Durante la investigación encontré por azar en el archivo del ministerio de Relaciones Exteriores una carpeta con documentos que a mi juicio terminan con la discusión sobre el rol de Bergoglio en relación con Yorio y Jalics. Busqué una escribana que certificó su ubicación en el archivo, cuyo director de entonces, ministro Carlos Dellepiane, los guardó en la caja fuerte para impedir que fueran robados o destruidos. La historia que cuenta esa carpeta suena familiar. Al quedar en libertad, en noviembre de 1976, Jalics se marchó a Alemania. En 1979 su pasaporte había vencido y Bergoglio pidió a la Cancillería que fuera renovado sin que volviera al país. El Director de Culto Católico de la Cancillería, Anselmo Orcoyen, recomendó rechazar el pedido “en atención a los antecedentes del peticionante”, que le fueron suministrados “por el propio padre Bergoglio, firmante de la nota, con especial recomendación de que no se hiciera lugar a lo que solicita”. Decía que Jalics tuvo conflictos de obediencia y una actividad disolvente en congregaciones religiosas femeninas, y que estuvo “detenido” en la ESMA junto con Yorio, “sospechoso contacto guerrilleros”. Es decir, los mismos cargos que le habían formulado Yorio y Jalics (y que corroboraron muchos sacerdotes y laicos que entrevisté): mientras aparentaba ayudarlos, Bergoglio los acusaba a sus espaldas. Es lógico que este hecho de 1979 no alcance para una condena legal por el secuestro de 1976. El documento firmado por Orcoyen ni siquiera fue incorporado al expediente, pero perfila una línea de conducta. Sumar al Director de Culto Católico de la dictadura a una conspiración contra la Iglesia sería demasiado. Por eso, Bergoglio y su portavoz callan sobre estos documentos y prefieren descalificar a quien los encontró, preservó y publicó.

1 Carmelo Giaquinta: “Reconciliándonos con nuestra Historia”, organizado por el Proyecto “Setenta veces siete” y Editorial San Pablo, en la 36ª Feria Internacional del Libro, Salón Roberto Arlt, 8 de mayo de 2010.
2 Conferencia Episcopal Argentina (CEA), Plan Nacional de Pastoral, Buenos Aires, 1967, p. 14, cfr. Luis O. Liberti, Monseñor Enrique Angelelli. Pastor que evangeliza promoviendo integralmente al hombre, Editorial Guadalupe, Buenos Aires, 2005, p. 164.
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Documentos referidos no texto:


 De puño y letra de Bergoglio, sobre la isla de la Curia. El manuscrito en el que identifica el expediente sucesorio de la propiedad.

Bergoglio imputa a sus sacerdotes contactos con guerrilleros. El documento que ridiculiza la acusación de campaña anticlerical

domingo, 17 de março de 2013

O NOVO PAPA - luz e sombras.



A importância política da Igreja Católica, indirecta sempre e por vezes directa, quer na Europa, quer em Portugal,  torna aconselhável que, mesmo quem está fora dela( como é o meu caso), esteja atento ao que se passa no seu seio. A eleição de um novo Papa na actual conjuntura europeia e portuguesa não deve passar despercebida.O jesuíta escolhido procurou uma marca franciscana.Os vinte e quatro cardeais italianos não foram suficientes para conseguirem entronizar um deles. Ficaram com o prémio de consolação de verem ser escolhido um argentino de origem italiana.Há muitos séculos que não era eleito um não europeu. Sinal dos tempos?

Francisco diz-se entre os pobres, solidário com eles.Bom sinal, que será reforçado ou enfraquecido, conforme ele  nos mostre que está entre os pobres para, em conjunto com eles e com os homens de boa vontade, lutar contra a pobreza e não apenas para os animar na desgraça.Conforme ele nos mostre, ou não, que é solidário para com os pobres, mas é inimigo das causas da pobreza; que não só é solidário para com os pobres, no seu dia a dia, para que ele seja mais leve,mas também solidário com os que lutam contra as causas da pobreza para que ela se aproxime mais e mais da extinção.

A comunicação social tem mostrado, nestes dias, numa vertigem de informações, o lado luminoso de Francisco, mas tem mantido uma cortina de silêncio quanto ao seu lado obscuro. E, no entanto, tal como a lua, os humanos têm, quase sempre, um lado mais iluminado e outro mais sombrio. É o caso do novo Papa.

Para trazer ao vosso conhecimento  o reflexo dessas sombras, recorro ao prestigiado jornal argentino Página12, que ontem fez sair a público um artigo intitulado, "Una desmentida que no alcanza a desmentir". O texto é antecedido pela seguinte frase: "El portavoz del Vaticano, Federico Lombardi, leyó un comunicado en el que se señala que las acusaciones de familiares de dos curas secuestrados eran difundidas por “una publicación que lanza campañas calumniosas y a veces difamatorias”.O texto que se segue procura responder-lhe.

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Eis pois o texto referido, cujo autor, o jornalista Eduardo Febbro, escreve a partir da Cidade do  Vaticano:
"La Santa Sede salió a la ofensiva y, por primera vez desde que Jorge Bergoglio fue designado Papa por los cardenales, salió al paso de la polémica sobre la actitud de Jorge Bergoglio durante los años de la dictadura. El afable portavoz del Vaticano, Federico Lombardi, barrió con un revés de la mano los indicios y sospechas que pesan sobre la Iglesia y el papa Francisco, a propósito de su actuación blanda durante la última dictadura argentina. Lombardi dijo en conferencia de prensa que esas acusaciones contra Bergoglio provienen de “una izquierda anticlerical” cuya meta consiste en “atacar a la Iglesia”. Defendiendo al Papa, Lombardi extendió su argumento al resto de la Iglesia como si ya no estuviese más que probada la implicación de la jerarquía católica argentina y vaticana en el ocultamiento de las violaciones a los derechos humanos y la colusión con los crímenes de la dictadura. El portavoz de la Santa Sede dijo en Roma que esas acusaciones derivadas de las investigaciones de Horacio Verbitsky eran llevadas “a cabo por una publicación que lanza, a veces, noticias calumniosas y difamatorias. El cariz anticlerical de esta campaña y de otras acusaciones en contra de Bergoglio es notorio y evidente”. Se trata, desde luego, de Página/12. El vocero del Vaticano aclaró que las sospechas que recaen sobre el hoy papa Francisco datan de la época en que era superior de la Compañía de Jesús en la Argentina, en 1976. En ese período fueron secuestrados dos misioneros jesuitas, Orlando Yorio y Francisco Jalics. Ambos trabajaban en la villa porteña del Bajo Flores y fueron torturados y liberados cinco meses más tarde. Horacio Verbitsky llevó a cabo varias investigaciones a partir de las cuales estableció un lazo entre Bergoglio y la desaparición de los dos curas jesuitas: Yorio, ya fallecido, y Jalics, que reside en Alemania desde 1978. Varios testimonios recogidos por Verbitsky dieron cuenta de que Yorio nunca perdonó el papel que habría jugado Bergoglio, sobre quien tenía sospechas de que los había delatado. Federico Lombardi dijo que “jamás hubo una acusación verosímil contra el Papa. La Justicia argentina lo interrogó pero como persona informada de hechos y jamás fue imputado por algo. El negó de forma documentada las acusaciones”. El vocero se refirió luego al texto que publicó ayer uno de los interesados, Francisco Jalics, quien rompió el silencio por medio de la pagina web de los jesuitas alemanes (http://www.jesuitas.org/aktue lles/details/article/erklarung-von-pater-franz-jalics-sj.HTML).
En una declaración personal aparecida en dicha página, Jalics escribe: “No puedo pronunciarme sobre el papel del padre Bergoglio en aquellos hechos”. Jalics cuenta luego que, tal como lo mencionó el vocero del Vaticano en su declaración, tuvo “la ocasión de hablar sobre ese tema con el padre Bergoglio. (...) Estoy reconciliado con los acontecimientos y considero que ha llegado la hora de dar el caso por terminado”, escribe el jesuita. La edición digital del semanario Der Spiegel difundió a su vez una declaración del portavoz jesuita, Thomas Busch, quien cuenta que, invitado por el Arzobispado de Buenos Aires, Jalics viajó a la Argentina hace varios años (2000) y que, luego de hablar con él, “está en paz con Bergoglio”. Federico Lombardi argumentó que el Papa “hizo mucho para proteger a las personas durante la dictadura”. También puntualizó que una vez que fue nombrado arzobispo de Buenos Aires “pidió perdón en nombre de la Iglesia por no haber hecho lo suficiente durante el período de la dictadura”. Sin embargo, el testimonio que aporta Francisco Jalics esclarece un poco más el doble juego de la Iglesia en aquellos años. Jalics anota que “la Junta Militar mató a unas 30.000 personas en uno o dos años, tanto guerrilleros de izquierda como civiles inocentes”. En esa mezcla cayeron también ellos dos: ni él ni Yorio tenían contactos “ni con la Junta ni con los guerrilleros”. Sin embargo, Jalics deja claro en su relato que “informaciones deliberadamente falsas”, surgidas incluso “dentro de la Iglesia”, indujeron a que se sospechara sobre las supuestas relaciones que Yorio y Jalics mantenían con los grupos armados. Eso les costó el secuestro. En realidad, el testimonio de Jalics no dice gran cosa sobre la actitud de Bergoglio. Ni lo disculpa, ni tampoco lo acusa: solo alega que se reconcilió con él y que no puede pronunciarse sobre el papel que desempeñó.
Página/12 no es el único que se interesó en lo que Jorge Bergoglio podía o no saber de lo ocurrido a partir de 1976. La Justicia francesa también puso sus ojos en él. En 2011, la magistrada francesa del Tribunal de Gran Instancia de París, Sylvia Caillard, remitió a Buenos Aires una comisión rogatoria internacional para que el entonces cardenal Bergoglio prestase declaración en calidad de “testigo” en torno del asesinato del padre francés Gabriel Longueville. La abogada francesa Sophie Thonon confirmó en París que las “autoridades argentinas nunca respondieron positivamente a la comisión rogatoria correspondiente a Bergoglio”. El sacerdote francés trabajaba en la Argentina para la Orden de las Misiones de Francia. En la noche del 18 de julio de 1976, los padres Gabriel Longueville y Carlos Dios Murias fueron secuestrados en la localidad de Chamical, provincia de La Rioja, por civiles armados que se identificaron como miembros de la Policía Federal. Al día siguiente, sus cuerpos, con evidentes signos de tortura, fueron encontrados a 5 kilómetros de Chamical, tirados al lado de la vía. Las condiciones del secuestro y el asesinato de Murias y Longueville llevaron a otro religioso a investigar y pagar con su vida esa intervención. Se trata del arzobispo de La Rioja, monseñor Angelelli, quien llevó a cabo una investigación para esclarecer el crimen. Su trabajo le fue fatal: el 4 de agosto de 1976, 17 días después del asesinato de Murias y Longueville, monseñor Enrique Angelelli murió en circunstancias dudosas. La primera versión oficial estableció que Angelelli falleció en un accidente automovilístico. Sin embargo, las pruebas aportadas más tarde confirmaron que se trató de un atentado. El día de su muerte, el obispo de La Rioja regresaba de Chamical, donde había celebrado una misa y pronunciado la homilía en la cual denunció el asesinato de los dos padres. En la camioneta que conducía Angelelli había un testigo, el padre Arturo Pinto, y un elemento central: un portafolio que contenía las pruebas recabadas por Angelelli sobre el asesinato de Murias y Longueville. Pinto contó que apenas dejaron Chamical, otro auto comenzó a seguirlos. El obispo se dio cuenta, aceleró, pero a la altura de Punta de los Llanos surgió otro coche que lo encerró hasta hacer volcar la camioneta. El cuerpo de Angelelli fue encontrado con la nuca destrozada a golpes.
En 2011, fecha en que se remitió la comisión rogatoria, la abogada Sophie Thonon juzgó que la audiencia de Bergoglio como “testigo” era necesaria para que el entonces arzobispo de Buenos Aires aportara información sobre la posible existencia de archivos ligados con este caso. Sophie Thonon dijo que “seguramente este Papa no es una gran figura de la defensa de los derechos humanos. Al contrario, está bajo sospecha de no haber denunciado los crímenes de la dictadura, de no haber pedido cuentas y, por consiguiente, de haber cubierto esos actos con su silencio”. La instrucción del caso del padre Longueville sigue siempre activa en Francia, pero podría quedar en la nada debido a las condenas que ya se pronunciaron en la Argentina contra los implicados en el asesinato del padre Longueville. En este contexto, Sophie Thonon consideró que “la Justicia argentina está haciendo un trabajo excepcional sobre los crímenes cometidos en la Argentina durante la dictadura”. Federico Lombardi evacuó el viernes la cuestión del papa Francisco sin hacer la más mínima mención a lo ya probado: la trama montada por la Iglesia para sustentar la dictadura argentina. Una mención, aunque fuese de disculpas o reconocimiento, o el anuncio de alguna futura audiencia con las Madres de la Plaza de Mayo o los defensores de los derechos humanos, hubiese sido sin dudas más noble y acertado: habría probado que el cambio en las esferas vaticanas empezaba al menos por ese camino. Pero la Iglesia es tan hermética a la hora de admitir sus pecados como lo es para administrar los fondos a través del Banco del Vaticano."

segunda-feira, 4 de março de 2013

Conferências sobre a Economia Social



O 4º Curso de Pós-Graduação em “Economia Social - cooperativismo, mutualismo e solidariedade “, promovido pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, através do seu Centro de Estudos Cooperativos e da Economia Social (CECES/FEUC), vai ter a sua Sessão de Abertura, no dia 8 de março (sexta-feira), às 15 horas, a qual decorrerá nessa Faculdade, na Sala Keynes (3ºpiso).
          
 Nessa Sessão de Abertura, serão proferidas três conferências:
<          “ Situación y perspectivas de la economia social en Europa”
Prof. Doutor José Luis Monzon Campos (Universidade de Valência)

            “As cooperativas na economia social”
Dr. Manuel Canaveira de Campos (CIRIEC Portugal

            Mutualismo. Modernidade e oportunidade no espaço europeu”
Dr. Pedro Bleck da Silva (Montepio)

Esta sessão inaugural da Pós-Graduação é aberta a todos os interessados.

                                        Pelo CECES/FEUC
                                             Rui  Namorado