quinta-feira, 5 de setembro de 2019

O garnisé implacável



O Ferrão perdeu-se nas suas próprias ferroadas. Julgou que encalacrava António Costa, atropelando-o com as perguntas induzidas pela narrativa política da direita. Ou por não ter uma visão política própria diferente, ou por ter receio de parecer demasiado manso, se dispensasse o bordão da propaganda da direita. Foi uma figura triste, semelhante a que faria um microfone sem cabeça.

Um jornalista intelectualmente honesto, que colocasse a António Costa perguntas substanciais bem escolhidas, podia ou não pô-lo em dificuldades. Dependia das respostas que deveria permitir que  fossem dadas. O que não aconteceu, ficando a impressão que Ferrão  fazia perguntas, mas não procurava respostas.  Temia as respostas.

Uma boa entrevista prestigiaria o jornalista, quer corresse mal quer corresse bem ao entrevistado. O jornalista não está ali para incensar ou para apoucar o  entrevistado. Está ali para mostrar ao público aquilo que lhe pareça  essencial no pensamento do entrevistado, quanto aos temas que lhe pareçam relevantes.

 Ferrão não percebeu isso. E ao querer arrasar António Costa, implodindo a sua própria qualidade jornalística e enlameando a sua honestidade informativa ,  acabou por favorecê-lo . Fez a figura de um garnisé tonto que dá furiosas e inofensivas bicadas num galo de raça.

A estação televisiva do Dr. Balsemão não foi beneficiada com tão vergonhosa prestação de um dos seus tenores mais ostensivos.

Fica uma pergunta aos que advogam a subsidio dependência do capitalismo comunicacional: Os dinheiros públicos devem ser gastos a compensar a mediocridade jornalística reinante? Devem ser gastos a custear a propaganda política da direita?

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