As
vacas no seu labirinto
Fontes geralmente bem informadas garantiram-me que está a
ser organizada uma manifestação de vacas. No entanto, não me souberam dizer se a
manifestação era de protesto contra a Universidade de Coimbra, por discriminação
contra a carne de vaca ou se era, pelo contrário, de regozijo por assim se estar a diminuir o risco de morte pré-alimentícia das manifestantes.
Na mesma área, por se tratar de uma notícia difusa, não me foi possível
confirmar se realmente também as vitelas tencionam manifestar a sua solidariedade para
com as vacas ou se, pelo contrário, querem deixar bem claro que vacas são vacas
e vitelas são vitelas; não lhes dizendo por isso respeito o banimento decretado para as cantinas da citada
Universidade.
Um conhecido e acutilante zoólogo aludiu, filosófica e
discretamente, ao risco de pairar na conjuntura alguma discriminação sexista, pelo facto de ser
mencionada apenas a carne de vaca, nada se dizendo quanto à de boi.
Ainda que sem confirmação, consta também que Boris, o irrequieto
súbdito de sua majestade britânica, tendo ouvido ressoar de passagem nos seus ouvidos uma alusão
ao conflito entre a UC e os “beefs” de vaca, ensaiou um protesto diplomático
contra a União Europeia, por considerar que a alusão aos “beefs” não era mais
do que uma ferroada disfarçada no Reino
Unido.
Vários expoentes da aristocracia proprietário-campesina, alguns camponeses mais atentos, certos políticos de extracção rural, diversos intelectuais carnívoros e alguns vegetarianos, esgrimiram no espaço
público doutos argumentos, conquanto passando estranhamente à margem da
opinião das vacas.
Houve mesmo uma historiadora mediática que se ostenta esquerdista
que trouxe lucidamente à colação a luta de classes, tendo-lhe faltado tempo
para esclarecer se estava em causa a clivagem entre vacas ricas e vacas pobres; ou
se o busílis estava nos possíveis comedores.
Em contrapartida, foi emblemática a manifestação
de regozijo de um estudante, fruídor das cantinas da UC, que viu na medida do magnífico reitor uma firme promessa de que a modesta carne de vaca, com que tinha que se defrontar no dia a dia , ia agora ser substituída por uma saborosa e ecológica vitela maronesa. Não foi possível
confirmar se, neste caso, estávamos perante uma esperança fundada ou perante um
simples devaneio gastronómico.
O período que atravessamos agudizou uma estranha
combinação de odores no espaço público: uns sugerindo o cheiro acre da
política, outros tresandando fortemente a churrasco. Receia-se o aumento da
abstenção.
A fechar, quebrando a sua olímpica neutralidade o Presidente da República prometeu continuar a trincar com firmeza a carne de vaca. Os deuses respiraram então de alívio libertos do temor insidioso que lhes advinha do Boi Ápis.
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