O
fantasma da maioria absoluta do PS
Cada eleitor dá um voto a um partido ou coligação,
não lhe sendo dada a possibilidade de optar no ato de votar entre
uma maioria relativa ou absoluta do partido ou coligação que lhe parece
venha a ser a vencedora.
Todos os partidos ou coligações aspiram a ter o
maior número de votos , embora nem todos possam aspirar com verosimilhança a
uma maioria absoluta. Mas é absolutamente estúpido algum deles pedir com
sinceridade uma maioria absoluta, pela razão já aduzida de que cada eleitor vota
ou não vota nele, não podendo votar com a condição de que tenha ou não tenha um
certo tipo de maioria.
Por isso, quando alguém pede uma maioria absoluta
realmente está apenas a tentar induzir uma ideia de força e de vitória, de
robustez política e de vocação maioritária. É uma estratégia de propaganda, não
é uma estratégia política. Nessa medida, combater essa estratégia de propaganda
como se fosse uma estratégia política é um equívoco que se arrisca a ser
contraproducente para quem o pratica. Mas combater essa estratégia de
propaganda, quando ela não é assumida, é totalmente absurdo. Ao combater-se uma
hipotética ambição, alegadamente inconfessada, de uma maioria absoluta de um
outro partido ou coligação, está apenas a fazer-se a esse partido o favor de
admitir que ele é suficientemente forte e está suficientemente prestigiado para
que essa hipótese se coloque.
O alarido que tem rodeado uma hipotética maioria
absoluta do PS é um bom exemplo do que temos vindo a dizer. Aliados e inimigos
têm-se deixado dominar por essa obsessão, permitindo que se enraíze
objetivamente o reconhecimento de que o modo como o PS conduziu o Governo nesta
legislatura lhe dá popularidade e não desprestígio. Doutro modo, estaria mais
em causa o risco de uma possível derrota do que uma vitória qualificada. E
quando se qualifica de eleitoralista uma medida ou uma política apenas por ser
do interesse de muitos está apenas a sublinhar-se e a reconhecer-se o acerto
dessa medida ou dessa política.
Por isso, imputar ao PS como quase-crime a
inconfessada ambição de uma maioria absoluta, longe de o enfraquecer, apenas
evidencia a convicção dos seus adversários de que ele está suficientemente
forte para que esse problema se coloque. Os comentadores e jornalistas que,
julgando-se luminosos, insistem na mesma tecla, apenas ampliam esse empurrão
estrutural dado assim ao PS.
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