sábado, 14 de setembro de 2019

Ainda o fantasma da maioria absoluta do PS




Ainda o fantasma da maioria absoluta do PS

A campanha que favorece o reforço do PS continua. Os seus principais promotores são os partidos que mais se acirram no combate a uma hipotética maioria absoluta  do PS. Os analistas políticos e os jornalistas especializados que afinam pelo mesmo diapasão são preciosos coadjuvantes dessa estranha campanha que favorece objetivamente o que afirma querer combater. 

Na verdade, todos contribuem para dar ao PS uma centralidade objetiva que só o pode favorecer estruturalmente. Todos se definem relativamente a si, o que se traduz num reconhecimento tácito da sua importância e é o reconhecimento tácito de que o eleitorado maioritariamente reconhece ao seu desempenho político-governamental o mérito suficiente para se dispor a votar nele. É como se os seus concorrentes dissessem uma coisa , comportando-se como se pensassem outra. Esta vantagem do PS é preciosa; e foi-lhe oferecida pela inépcia estratégica dos seus adversários.

No entanto, o PS terá ou não maioria absoluta. Não, porque alguém a combata ou almeje, mas apenas porque a soma de quem decida votar no PS atinja ou não determinado limiar. Mas se na prática isto é assim e não pode deixar de o ser, a verdade é que se vem estendendo um ruído politico-filosofante que gravemente parece querer esconjurar, como se fosse demónio, esse ilógico fantasma.

Contudo, há um vício conceptual nessa nebulosa argumentativa. Sem o explicitar, reduz-se a maioria absoluta á sua obtenção por um só partido, teorizando-a  como se ela  fosse abissalmente distinta  de um maioria absoluta radicada numa coligação formal, envolvendo mais do que um partido. Ora, se olharmos com atenção, no essencial, os riscos que se apontam à maioria absoluta de um só partido não se esfumam se essa maioria for de uma coligação institucionalizada e formal. Por que razão haveríamos de pensar que o governo de Passos Coelho seria pior e mais asfixiante sem o CDS?

 Desde o 25 de Abril, a maior parte dos governos tiveram por base uma maioria parlamentar de um só partido ou de uma coligação. Alguns foram governos sem um apoio parlamentar maioritário  e o atual teve a originalidade de ser suportado  por um acordo parlamentar formal e estável, que no entanto não chegou à densidade institucional da coligação.

Deste modo, o que está em causa verdadeiramente é sabermos se vai repetir-se um acordo formal das  esquerdas como o atual, se subimos um degrau até uma coligação, se vai ocorrer uma navegação à vista  com apoios pontuais e casuísticos ou se o PS poderá ser por si só apoio suficiente para um governo.

O PS foi o único que se afirmou expressamente  disponível para prosseguir no caminho que vem sendo percorrido. Os outros partidos de esquerda, não tendo fechado nenhuma porta, não foram explícitos na aceitação de continuar o mesmo caminho, deixando em alguns casos transparecer alguma ambiguidade quanto a isso. E ao não serem inequívocos na expressa aceitação de prosseguir dentro do modelo atual  e não se tendo afirmado dispostos a ir mais longe chegando a uma coligação, encorajaram sem o querer o voto no PS, dentro do povo de esquerda.

Ou seja, dado que a maioria absoluta de um partido não é uma opção mas um hipotético facto futuro, combatê-la como se fosse uma escolha que cada um possa fazer é um dislate que se pode virar conta quem nele caia. Considerar que há uma diferença abissal entre a maioria absoluta de um partido e a de uma coligação formal  institucionalizada entre dois os mais partidos, é uma deriva mistificatória.

O maior beneficiário desta nebulosa política até agora parece ser, ironia das ironias,  o próprio PS. O maior prejudicado parece ser o nível do debate político assim inquinado por verborreias inconsequentes e por  raciocínios logicamente vadios.

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