Ainda
o fantasma da maioria absoluta do PS
A campanha que favorece o reforço do PS continua. Os
seus principais promotores são os partidos que mais se acirram no combate a uma
hipotética maioria absoluta do PS. Os
analistas políticos e os jornalistas especializados que afinam pelo mesmo diapasão
são preciosos coadjuvantes dessa estranha campanha que favorece objetivamente o
que afirma querer combater.
Na verdade, todos contribuem para dar ao PS uma centralidade
objetiva que só o pode favorecer estruturalmente. Todos se definem relativamente
a si, o que se traduz num reconhecimento tácito da sua importância e é o
reconhecimento tácito de que o eleitorado maioritariamente reconhece ao seu
desempenho político-governamental o mérito suficiente para se dispor a votar
nele. É como se os seus concorrentes dissessem uma coisa , comportando-se como
se pensassem outra. Esta vantagem do PS é preciosa; e foi-lhe oferecida pela
inépcia estratégica dos seus adversários.
No entanto, o PS terá ou não maioria absoluta. Não,
porque alguém a combata ou almeje, mas apenas porque a soma de quem decida
votar no PS atinja ou não determinado limiar. Mas se na prática isto é assim e
não pode deixar de o ser, a verdade é que se vem estendendo um ruído
politico-filosofante que gravemente parece querer esconjurar, como se fosse demónio,
esse ilógico fantasma.
Contudo, há um vício conceptual nessa nebulosa
argumentativa. Sem o explicitar, reduz-se a maioria absoluta á sua obtenção por
um só partido, teorizando-a como se
ela fosse abissalmente distinta de um maioria absoluta radicada numa coligação
formal, envolvendo mais do que um partido. Ora, se olharmos com atenção, no
essencial, os riscos que se apontam à maioria absoluta de um só partido não se
esfumam se essa maioria for de uma coligação institucionalizada e formal. Por
que razão haveríamos de pensar que o governo de Passos Coelho seria pior e mais
asfixiante sem o CDS?
Desde o 25 de Abril, a
maior parte dos governos tiveram por base uma maioria parlamentar de um só
partido ou de uma coligação. Alguns foram governos sem um apoio parlamentar
maioritário e o atual teve a
originalidade de ser suportado por um
acordo parlamentar formal e estável, que no entanto não chegou à densidade
institucional da coligação.
Deste modo, o que está em causa verdadeiramente é
sabermos se vai repetir-se um acordo formal das esquerdas como o atual, se subimos um degrau
até uma coligação, se vai ocorrer uma navegação à vista com apoios pontuais e casuísticos ou se o PS
poderá ser por si só apoio suficiente para um governo.
O PS foi o único que se afirmou expressamente disponível para
prosseguir no caminho que vem sendo percorrido. Os outros partidos de esquerda,
não tendo fechado nenhuma porta, não foram explícitos na aceitação de continuar
o mesmo caminho, deixando em alguns casos transparecer alguma ambiguidade
quanto a isso. E ao não serem inequívocos na expressa aceitação de prosseguir
dentro do modelo atual e não se tendo afirmado
dispostos a ir mais longe chegando a uma coligação, encorajaram sem o querer o voto no PS, dentro do povo de esquerda.
Ou seja, dado que a maioria absoluta de um partido
não é uma opção mas um hipotético facto futuro, combatê-la como se fosse uma
escolha que cada um possa fazer é um dislate que se pode virar conta quem nele
caia. Considerar que há uma diferença abissal entre a maioria absoluta de um partido
e a de uma coligação formal institucionalizada
entre dois os mais partidos, é uma deriva mistificatória.
O maior beneficiário desta nebulosa política até
agora parece ser, ironia das ironias, o próprio PS. O maior prejudicado parece ser o nível do debate político assim inquinado por
verborreias inconsequentes e por raciocínios logicamente vadios.
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