quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Pernóstico coelho da cartola


Pernóstico voltou todo rangel. Quer caçar um coelho foragido de uma velha cartola que uns senhores não acham totalmente adequada.

Pernóstico, contudo, já trazia, uma ligeira mossa: antes dissera, com jura e garantia, que com ele, mandatos iam sempre até ao fim. Pernóstico pensou, pensou, pensou. Que mentira diria ser verdade?

E disse: “foi a zelosa mão da consciência que me trouxe de regresso até Lisboa”.

“Porquê”, iriam perguntar.

Respondeu fulminante: “é grave, muito grave, gravíssimo, o estado do país”.

"E quem pode salvá-lo?"

“Pernóstico Rangel, um seu criado.”

Chegou então rompendo a sua boca o tão antigo S de servir. Servir, servir, servir, é sua condição.

Na toca, o coelho estremeceu, por tão furioso e novo caçador.

Estarreceu-se também um ex-ministro, pálido e branco da mais pura raiva. Dissera que sim esse rangel. Também ele diria só depois.

Mas afinal, em ronha, falou antes. E da distante Europa regressado, foi lesto no manejo do punhal. Foi hoje um terramoto desabado. Vai agora cansar-se, a pouco a pouco, até ser um bocejo de si próprio.

Pernósticos e pálidos, coelhos, entre tudo de novo na cartola. E agora só se sai de dentro dela, engomado de luxo, em paletó, gravata firme, sem nenhum desleixo e duros cercos num pescoço só.

Na rua, no entanto, a vizinhança há-de dizer com muita bonomia: "se crescerem realmente um pouco mais, hão-de ir longe os meninos, hão-de ir longe". E é, por isso, que vos venho dizer: está perigosa , a coisa está perigosa..

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