sábado, 10 de abril de 2021

Os ousados invasores dos nossos espíritos …

 

Os ousados  invasores dos nossos espíritos …

 

Um apreciável leque de aves mediáticas das mais diversas colorações mostra-nos cada dia a sua finíssima argúcia, a sua preciosa capacidade para penetrarem nos mais recatados recantos dos nossos espíritos, nos segredos profundos das nossas preferências e dos nossos gostos, nos árduos territórios das nossas discutíveis opiniões, tantas vezes incertas e hesitantes.

De facto, são eles que, tantas vezes, perante  o nosso mais surpreendido espanto, nos informam sobre o que preferimos, o que detestamos, o que merece o nosso repúdio ou o nosso aplauso, sobre aquilo que pensamos do presente , do passado e do futuro, e até sobre os nossos medos e os nossos sonhos mais fundos.

 Os portugueses não aceitam// Os portugueses esperam //  Os portugueses não compreenderiam // Os portugueses pensam // Os portugueses receiam // Os portugueses querem  // Os portugueses  sonham com … // Os portugueses estão chocados com…// Os portuguese exigem!

Por mim, surpreendo-me muitas vezes, atónito perante aquilo que alegam que eu aceito, que eu espero, que eu repudio, que eu desejo. Tanto mais que ninguém teve antes o cuidado de me perguntar o que realmente quero, o que realmente penso, antes de me atar na molhada de todos os portugueses, para depois me atribuir as mais desvairadas ou previsíveis opiniões.

São especialmente férteis, em tais cometimentos, os responsáveis políticos mais exuberantes ou mais parlapatões, as responsáveis políticas mais exuberantes ou  mais parlapatonas, os comentadores e as comentadoras de maior ou menor extração jornalística, mas mais verborreicos ( as).

Seguindo-lhes o ousado caminho e atrevendo-me assim a imitá-los, permito-me dizer: “ Os portugueses exigem ( palavra enérgica!) que quem der pública notícia dos seus desejos, dos seus repúdios, das suas opiniões ou das suas reivindicações tenha a modesta decência de os consultar primeiro”.

Ou então a Mafaldinha, a Dona Gertrudes, o Andrézito, o Chiquinho, o Dr. Policarpo, o Engº Petrónio, a Aldegundes e os outros e outras devem simplesmente dizer: “ Eu penso! Eu exijo! Eu repudio!”

Será talvez algo de mais modesto ; mas será seguramente mais verdadeiro e mais honesto.

 

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