sábado, 24 de abril de 2021

Comparação crítica de várias sondagens recentes

 

Comparação crítica de várias sondagens recentes


1.Em 23 de abril foi publicada no Expresso uma sondagem da responsabilidade do ISCTE. Ao contrário da maior parte das outras, esta não valoriza as décimas nos números que divulga, o que deve ser tido em conta na comparação com as que procedem de maneira diferente.

O PS é o partido que reúne um maior número de intenções de voto, atingindo os 37%. Relativamente à sondagem da mesma proveniência, difundida em dezembro passado, perde 2 pontos percentuais.

O PSD é o segundo partido, atingindo 29%; o que significa uma subida de 4 pontos relativamente à sondagem de dezembro.

O BE com 9% sobe um ponto percentual, enquanto o Chega com 6% regride um ponto. A CDU mantém os 7% de dezembro, tal como o PAN conserva os 2% .

O CDS baixa de 2 para 1%, enquanto a IL continua com 1%.

Deste modo, no seu todo, a Esquerda (PS,BE e CDU) desce de 54 para 53%,a Direita (PSD, Chega, CDS e IL) sobe de 35 para 37%. O Centro (PAN) conserva os 2% de dezembro passado. As Esquerdas exteriores ao PS passam de 15 para 16%, enquanto a Direita sem o Chega passa de 28 para 31%.

Embora a distância entre os dois maiores partidos tenha diminuído, ao cifrar-se em 8 pontos percentuais, mostra uma relação de forças idêntica à revelada pelos resultados eleitorais de outubro de 2019.Do mesmo modo, a vantagem da Esquerda no seu todo mantem-se ao nível da que resultou da pugna de 2019. Na verdade, em 2019 a diferença era entre 51,19 % para a Esquerda e 34,56% para a Direita; nesta sondagem é entre 53% e 37% respetivamente.

 

2.Em 18 de abril, foi difundida pelo Negócios e pelo CM uma sondagem da Intercampus. Tem algum interesse compará-la com outra da mesma proveniência divulgada há um mês (17 de março).

Foi o PS foi que registou o maior número de intenções de voto – 36,2 % - o que representou, no entanto, uma quebra de 1,4% relativamente ao mês passado. O PSD ficou praticamente estagnado nos 23,3 %, o que se traduziu num ligeira inflexão de o,3 %. A separar os dois partidos estão agora 12,9%, encurtando-se assim um pouco a diferença de 14% do mês passado.

O BE e o Chega ficaram empatados com 9,4%, o que resultado de uma subida de 1,1% do primeiro e de 0,4% do segundo. A CDU ficou com 5,2%, tendo assim subido 0,3%. O CDS, ao atingir 3,1%, subiu 0,8% , enquanto a Iniciativa Liberal ao recuar 0,5% , ficou-se pelos 4,8%. O PAN ficou no mesmo patamar, mas no seu caso isso representou um aumento de 2,3%. É este o peso do Centro, enquanto o da Direita no seu todo, de acordo com esta sondagem, seria de 40,6%. Bem longe dos 50,8% alcançados pelas Esquerda com assento parlamentar no seu todo.

Olhando para os grandes espaços políticos, entre as duas sondagens a Esquerda desceu 0,6 %, a Direita subiu 0,4% e o Centro subiu 2,3 %.

 

3. Para uma melhor avaliação do significado político destas duas sondagens vale a pena compará-las com outras publicadas em março e abril, inserindo esta última do conjunto considerado. São tidas em conta três publicadas em março ─ Aximage (01),Eurosondagem (06),Intercampus (17) e outras três em abril ─ Aximage (05),Eurosondagem (10), Intercampus (18).

No conjunto das seis sondagens, o PS oscilou entre um mínimo de 36,2% e um máximo de 39,7%; o PSD entre 23,3% e 28,2%. Em cada uma das sondagens, a diferença entre estes dois partidos variou entre um mínimo de11,1% e um máximo de 16,1%.

O BE oscilou entre 6,2% e 9,4% ; e a CDU, entre 4,5% e 6%. O PAN variou entre 2,1% e 4,8%.

O Chega variou entre 6,5% e 9,4%. A IL, entre os 2,1% e os 5,7%. O CDS oscilou entre 0,8% e 3,1 %.

No conjunto destas seis sondagens, a Esquerda (PS, BE e CDU) varia entre 50,8% e 54,3%; a Direita (PSD, Chega, CDS e IL) varia entre 38% e 40,6%; o Centro (PAN), entre 2,1 e 4,8%.

Vejamos agora, quanto à sondagem mais recente que comentámos no início deste texto, em que medida os seus resultados se situam dentro ou fora dos limites máximos e mínimos definidos pelos resultados das seis sondagens que acabamos de mencionar.

O resultado do PS (37%) situa-se dentro do intervalo entre o máximo e o mínimo, definidos por este conjunto de sondagens. O resultado do PSD (29%) situa-se ligeiramente acima. A diferença favorável ao PS entre os dois partidos (8%) situa-se ligeiramente abaixo.

O resultado do BE (9%) situa-se dentro do intervalo referido, o do Chega (6%),ligeiramente abaixo do limite mínimo, o da CDU (7%), acima e o do PAN (2%), ligeiramente abaixo. O CDS (1%) fica dentro do referido intervalo e a IL (1%), abaixo.

No seu todo, a Esquerda (53%) fica dentro do mencionado intervalo, a Direita (37%), ligeiramente abaixo e o Centro (2%), também ligeiramente abaixo. Também a Direita democrática (sem o Chega), na última sondagem, atingiu um patamar (31%) dentro do referido intervalo (entre 29,5% e 33%).

A diferença mais significativa diz ,  talvez, respeito aos resultados estimados para o PS e para o PSD, estando no facto de, na sondagem mais recente,  ela estar abaixo do limite inferior do conjunto das outras seis sondagens ((8 % contra 11,1%). De facto, quanto maior for esta vantagem do PS em melhor posição estará na disputa eleitoral autárquica. pode projetar-se em muitas vitórias autárquicas, sucedendo o contrário no caso oposto.

Mas esta diminuição de vantagem, ao conjugar-se com os outros resultados, tem um diminuto poder de pressão quanto a uma hipotética mudança de rumo no governo do país, em virtude da sua reduzida dimensão. Portanto, um olhar que abranja o conjunto de sondagens comentado revela , no essencial, uma relativa estabilidade nas referências eleitorais dos portugueses.

 

4. Pode assim servir de conclusão política genérica, o comentário publicado neste mesmo blog, em 16 de fevereiro, aos resultados de cinco sondagens difundidas entre 16 de janeiro e 13 de fevereiro. Duas da Universidade Católica, duas da Eurosondagem e uma da Aximage.

Na verdade, no fundamental, o cenário político em termos de intenções de voto não se alterou. Escrevi eu então:

“Parece poder concluir-se que a ultrapassagem do conjunto das esquerdas pela direita não parece provável, mas a ultrapassagem das esquerdas pela direita democrática mostra-se uma hipótese muito remota. Não só à luz das sondagens de 2021, mas também em função da trajetória inerente à sua comparação com os resultados das eleições de 2019. Tanto mais que o período desde então decorrido já foi em grande parte sob a pandemia.”

E agora estão em causa doze sondagens difundidas neste primeiro quadrimestre de 2021.

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