ALOIZIO MERCADANTE
O Brasil e
o Partido dos Trabalhadores ─
Identificando-se
a si próprio, Brasil 247 considera-se como sendo “um
dos maiores sites de notícias do Brasil e defende a democracia plena, ideais
progressistas, valores humanistas, o desenvolvimento da economia nacional, o
multilateralismo na política externa e a informação como um direito de todos os
cidadãos”.
Dele transcrevo o texto (de 09/04/21) que se
segue. Contém posições de Aloizio Mercadante, destacado dirigente do PT [Partido dos
Trabalhadores] que desempenhou um papel de relevo nos governos deste partido. É
um documento esclarecedor sobre o atual posicionamento do PT na complexa
conjuntura que o Brasil atravessa. Eis o texto.
____________
Aloizio Mercadante foi entrevistado no programa 20 Minutos Entrevistas, em 07/04/ 21,
pelo jornalista Breno Altman. O
entrevistado é atualmente presidente da Fundação Perseu Abramo, instituto de
estudos e formação vinculado ao Partido dos Trabalhadores. E coordenou a
construção do Programa de Reconstrução e Transformação do Brasil, lançado pelo
PT em setembro do ano passado.
Segundo ele, o programa é o ponto de
partida para convocar uma assembleia constituinte, que “é o nosso ponto de
chegada”.
“Precisamos construir as condições para
convocar as assembleias constituintes e realizar mudanças que, se não fizermos,
não vamos avançar”, defendeu. A constituinte permitiria revogar as reformas
neoliberais promovidas no país desde o golpe contra Dilma Rousseff apenas com
maioria parlamentar simples.
Muitos líderes de esquerda, no entanto, se
opõem à convocação, apesar de todos concordarem que a Constituição brasileira
já não é suficiente. O temor é que se chegue a um texto constitucional mais
retrógrado, devido ao atual momento político do país.
Por isso, Mercadante reiterou que o
programa do PT - que é apenas estratégico, não eleitoral - é o ponto de partida
para criar essas condições. A proposta tem três dimensões, segundo explicou o
também ex-senador e ex-ministro: urgência, reconstrução e transformação.
A urgência diz respeito à pandemia e
refere-se não somente à proteção da vida, com vacina e auxílio emergencial, mas
também a alternativas de reconstrução para sair da crise provocada pelo
coronavírus.
“Não há saída para o país sem enfrentar
a pandemia. Não há retomada da economia enquanto a pandemia não for superada e
o Brasil tem todas as condições de enfrentar essa crise”, afirmou.
O ponto de reconstrução, por sua vez,
trata de retomar projetos levados a cabo pelo PT durante os governos Lula e
Dilma e que foram desmontados após o golpe de 2016. “Asseguramos o prato de
comida no nosso governo, e agora tem gente passando fome”, afirmou.
Por fim, a categoria de transformação
diz respeito aos novos desafios da atualidade. “É o momento da indústria 4.0,
do 5G, em que falar de transição ecológica e realidade digital são pautas novas
para o Brasil”, disse.
Segundo ele, o programa também contempla
a necessidade de lutar para revogar medidas instauradas pelos governos Temer e
Bolsonaro. Como exemplos, o presidente da Fundação Perseu Abramo citou a
independência do Banco Central e o teto de gastos.
“Mas isso depende da correlação de
forças no Congresso”, retomou. “Não basta votar no Lula, precisamos fazer
bancada. Não é só vontade do governo. A esquerda precisa criar uma unidade mais
ampla e mobilizar a população para ir às urnas”, argumentou.
Reforma tributária e bancária
Aprofundando-se em temas específicos do
plano, Mercadante falou sobre a urgência de uma reforma tributária “justa e
sustentável”, algo que ele considera “fundamental para sair da crise”.
Para ele, no entanto, uma reforma
bancária não é necessária, pois três dos cinco principais bancos no Brasil são
públicos: o Banco do Brasil, a Caixa e o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES). “O problema é que os instrumentos que nós tínhamos
para garantir que essas entidades evitassem o monopólio do crédito por parte
dos bancos privados estão sendo desmontados”, justificou.
“É necessário que a Caixa Econômica
Federal, por exemplo, seja estatal, apesar de ser de capital misto, porque ela
cumpre funções que uma instituição privada não poderia cumprir. Ela financia
prefeituras, tem o cadastro do auxílio emergencial, é fundamental para o acesso
do Bolsa Família. Tudo isso tem que ficar sob controle do Estado. Não é preciso
que seja 100% pública, apenas a empresa-mãe deve sê-lo, e, neste caso, já é”,
afirmou Mercadante.
‘O problema do SUS está no financiamento’
O presidente da Fundação Perseu Abramo também
comentou sobre a questão da saúde, outro importante ponto do programa, e foi
taxativo: “O problema do SUS está no financiamento” - não em como o sistema foi
concebido.
“Se você mudar a arquitetura do sistema
e não mudar o problema, vamos ter um cenário ainda mais grave. Passada a
pandemia, vai aumentar muito a demanda, porque há uma demanda reprimida de
cirurgias eletivas e tratamentos. Além das pessoas que perderam o emprego, por
exemplo, e perderam o plano de saúde, então vão ter que passar a usar o SUS. E
aí é evidente que a cobertura do SUS vai ser insatisfatória se não houver
financiamento”, ponderou Mercadante.
Ele retomou a necessidade de uma reforma
tributária, com tributação sobre lucros e dividendos, grandes fortunas e
heranças, como forma de garantir o financiamento adequado.
Insuficiências do programa
O programa do PT não menciona,
entretanto, a questão militar no país: “É uma insuficiência de uma formulação
para a qual não temos respostas viáveis e promissoras”, afirmou Mercadante, que,
por outro lado, reconheceu que a tutela militar do Estado “é um dos mais graves
problemas da democracia brasileira”.
Ele afirmou que a revogação do artigo
142 da Constituição não seria o suficiente para resolver o problema. “Você pode
revogar o artigo e ter golpe. Acho ingênuo achar que se muda toda uma
instituição apenas com a revogação dessa emenda”, considerou.
O texto define as Forças Armadas como
instituições nacionais permanentes e regulares que “se destinam à defesa da
Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer
destes, da lei e da ordem”. Bolsonaro e seus apoiadores interpretam o trecho
como sendo uma autorização para a intervenção militar no país.
“É um problema muito mais profundo. O
nível de controle de cima para baixo da instituição dificulta qualquer mudança.
Teremos de negociar com os setores mais democráticos e compromissados com a
nação dentro das entidades para realizar qualquer tipo de mudança”, defendeu.
Eleições de 2022
Mercadante relembrou que o programa do
PT não é eleitoral, mas que ele estimula debates programáticos entre partidos,
o que considera essencial, “porque acho que temos que construir uma aliança de
esquerdas e um programa unitário. O PT não vai ter maioria nem para desfazer o
que foi feito, quanto mais transformar, então precisamos dessa frente”.
Nesse programa único, ele ressaltou a
importância de que constem reformas estruturais e o fortalecimento do Estado
para poder lidar com as mudanças, sobretudo tecnológicas, do futuro e
“alavancar o estado brasileiro” no cenário internacional.
“Vamos ganhar as eleições tendo uma
direita golpista, armada, dentro das instituições, da polícia, das forças
armadas. Precisamos de uma grande frente democrática, apoio popular e uma
esquerda unida para enfrentar esse cenário. E Lula é parte da solução para os
problemas. Não sei se ele será o candidato, mas tem uma grande capacidade de
mudança e de unir a esquerda”, concluiu.
Sem comentários:
Enviar um comentário