Há uns dias atrás interroguei-me sobre uma estranha
diferenciação que ressaltou de uma notícia dada na RTP. Hoje, acrescento mais
duas materializações dessa diferença de
tratamento informativo quanto ao mesmo caso.
No Expresso de 16.04.21 na coluna dos “altos e baixos”
incluída na página 4, nos “baixos” é destacada em primeiro lugar e identificada
como tal a Presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António . Quanto
a ela, diz-se que estão em causa “suspeitas de crime económico num processo que
envolve a venda de um terreno” e que a
autarca, tendo sido detida para interrogatório, se demitiu na quinta-feira “depois
de o MP ter defendido a prisão preventiva da autarca”. Não é dada qualquer
indicação quanto ao partido pelo qual foi eleita.
Imediatamente a seguir, é identificado um deputado “que foi
envolvido pela PJ “no mesmo processo que levou à detenção da autarca” o qual “foi
alvo de buscas”, tendo dito que “desconhece o processo”. É dito que ele é
candidato às eleições autárquicas, mencionando-se a sua pertença político-partidária
que aliás está também explicitada na
legenda da fotografia.
No primeiro caso, omite-se a pertença político-partidária,
no segundo caso, sublinha-se essa pertença. Por um estranho acaso, a autarca é
do PSD (esconde-se), o deputado é do PS (mostra-se). Claro, que o estranho não é
ter-se mostrado uma das pertenças, mas que tal se tenha feito ao mesmo tempo
que se omitiu a outra.
Mas o Expresso não foi deixado sozinho. Fez-lhe companhia de
novo a RTP. Ontem, 17 de abril no jornal das 8 pela voz do José Rodrigues dos Santos,
as imagens sobre o caso foram comentadas, começando por se identificar o nome e
a pertença político-partidária do deputado do PS que apareceu no ecrã.
Imediatamente a seguir, também apareceu nas imagens da TV a autarca do PSD, mas
o apresentador ignorou-a por completo, não a mencionando pura e simplesmente,
como se ela fosse uma turista acidental captada por acidente pelas câmaras. Novo
acaso, tão estranho como anterior.
Estas ocultações seletivas que apenas protegem o PSD
indiciam parcialidade. Não uma parcialidade inerente a uma tomada de partido
assumida, mas uma parcialidade inconfessada, melíflua e hipócrita. No Expresso
, dada a sua natureza privada, a identidade do seu proprietário e a sua
orientação ideológico-política genérica, apenas surpreende o primarismo do
expediente que até pode perturbar o que reste da ilusão da sua independência.
Na RTP trata-se pura e simplesmente do uso abusivo de um bem público, na medida
em que são grosseiramente infringidas as regras mais básicas da equidistância político-partidária.
É claro, que estes casos em si têm um significado menor, mas mostram com
nitidez uma parcialidade instalada, que conhecemos, mas que costuma ser mais
discreta. Por que razão? Ou perderam competência na dissimulação da sua parcialidade; ou estão tão
desesperadas pela inocuidade relativa dos seus efeitos que perderam a cautela;
ou sentem-se suficientemente blindados para renunciarem ao disfarce, já em modo
de pesporrência.
1 comentário:
A RTP era dirigida por Gonçalo Reis, ex-deputado do PSD, que foi lá colocado por Passos Coelho em 2015 para ajudar o PSD/CDS a ganhar as eleições, coisa que conseguiu mas não foi suficiente.
Ele foi um bom dirigente ao serviço do PSD/CDS.
Ter a RTP na mão é ter a verdade e a razão do seu lado junto da opinião publica nacional. O que a televisão diz ou informa é matéria de verdade.
Em 2018 António Costa renovou a comissão de serviço de Gonçalo Reis ou por ingenuidade ou desconhecimento e lá se manteve até 31 de Março de 2021.
A sua substituição esteve sujeito a um parecer de uma comissão técnica e independente onde entre outros participam Leonor Beleza.
A substituição foi feita e temos aí à frente da RTP saído da Lusa Nicolau Santos. Neste momento deve ter os caminhos todos sabotados e pelos tempos mais próximos as coisas em vez de melhorarem só irão piorar.
Só espero que a RTP consiga colocar-se ao serviço do Povo e não da Direita, no fundo que respeite a vontade de quem nos governa, contra mestres batidos na arte se sacanear a informação.
Desejo bom trabalho a Nicolau Santos.
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