Ferocidades.
O juridicolinchador não aceita menos que o linchamento
completo. Só respira tranquilo se sentir um cheiro forte a sangue ou o der a
beber às pequenas bocas dos seus ódios. Mesmo que viva em pose de tapete num dia-a-dia por vezes triste, quando entra na grande
nuvem do alarido linchador segrega uma incontida energia, decidida e
implacável.
Se o juridicolinchador sonhar ser poder numa sociedade de
autoridade e ódio, para o exercer sem minudências democráticas e sem
contemplações, estará a ser coerente. Mas, pela sua própria natureza, o
exercício de um poder autoritário, sem o embaraço do direito e sem a
contrariedade da democracia, será sempre exercido sobre muitos por muito
poucos. Por isso, só um pequeníssimo conjunto de juridicolinchadores pode
sentar-se na limitada cadeira do poder autoritário. A grande massa dos
juridicolinchadores, se ainda existir, estará por isso condenada a engrossar a
grande massa dos potenciais linchados.
Não o esqueçam. As atmosferas de ódio não são
autolimitáveis, as irracionalidades coletivas não são racionalmente
controláveis, os incêndios sociais também não. Mesmo os pirómanos não podem
estar certos de lhes virem a escapar.
Por isso, os juridicolinchadores correm sempre o risco de
virem a linchar-se a si próprios.
Sem comentários:
Enviar um comentário