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UM LIVRO, UM
POETA – Carlos de Oliveira
Carlos de Oliveira nasceu no Brasil, em Belém do Pará, em1921 e faleceu em Lisboa, em 1981. Regressou a Portugal com a família, nos primeiros anos de vida. Fixou-se em Febres, onde o pai exerceu medicina. Em 1941 ingressou na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Em 1947 licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas. Pouco depois, foi viver para Lisboa.
Através do seu livro, “Turismo” (1942), participa na colecção “Novo Cancioneiro”, um dos marcos fundadores do neo-realismo no campo da poesia. Em 1976, reúne toda a sua poesia em dois volumes, sob o título de "Trabalho Poético”. Hoje publicamos dois poemas saídos no primeiro.
Em 2011, escrevi neste mesmo blog, a seguinte frase, a propósito do mesmo poema que aqui vou recordar hoje: Quando os filhos das Parcas encharcam de um medo cinzento e abafado os caminhos do futuro, os poetas podem ajudar-nos a varrer com a luz da esperança este tempo de abutres. Convoquemos hoje um grande poeta da língua portuguesa, do século XX, de Coimbra. Deixemos que Carlos de Oliveira nos ofereça o seu "Soneto".
Hoje, acrescento-lhe uma cantiga
própria daquele tempo de chacais
Soneto
Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.
Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.
Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.
A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.
Soneto
Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.
Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.
Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.
A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.
Cantiga do Ódio
O amor
de guardar ódios
agrada ao meu coração,
se o ódio guardar o amor
de servir a servidão.
Há-de sentir o meu ódio
quem o meu ódio mereça:
ó vida, cega-me os olhos
se não cumprir a promessa.
E venha a morte depois
fria como a luz dos astros:
que nos importa morrer
se não morrermos de rastros?
agrada ao meu coração,
se o ódio guardar o amor
de servir a servidão.
Há-de sentir o meu ódio
quem o meu ódio mereça:
ó vida, cega-me os olhos
se não cumprir a promessa.
E venha a morte depois
fria como a luz dos astros:
que nos importa morrer
se não morrermos de rastros?
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