Uma
tragédia francesa
-
verniz de mudança numa cosmética conservadora
1. No gráfico acima reproduzido,
podem ver-se os resultados de uma sondagem, recentemente realizada em França,
que mostra a distribuição das intenções de voto quanto às próximas eleições
europeias de 2019. A ausência de qualquer pressão indutora do chamado voto útil
faz com que estas eleições sejam as que espelham mais fielmente a atual relação
de forças no xadrez político francês.
O ribombar dos grandes
títulos reduziu o complexo panorama, acima evidenciado, à notícia simplória de
que os “macronianos” tinham meio ponto percentual de vantagem sobre os “lepenianos”,
que os “republicanos em marcha” marchavam ligeiramente à frente da ex-Frente Nacional,
agora envolta na nomenclatura mais adocicada de “Rassemblement National”.
2. O que deveria saltar
aos olhos é a estrutural ademocraticidade
do sistema político francês. Um sistema que permite a obtenção de uma maioria esmagadora na
Assembleia Nacional a um bloco político que se pode ver redimensionado até valer apenas 21,5 % dos eleitores.
É um bloco político em que predomina largamente o partido do Presidente da
República [La République en marche- LREM], mas do qual faz também parte
o Modem de François Bayrou.
À sua esquerda, a fragmentação dos protagonistas reduz muito a relevância politica de 28,5% do eleitorado. Se olharmos para as diversas parcelas, verificamos que os « insubmissos »
de Mélenchon valem 12,5%, sem os comunistas do
PCF que se ficam por 1,5%. A extrema-esquerda do NPA limita-se a 1%. Os socialistas (PSF) continuam em coma, com 4,5 % das intenções de voto, quase tendo sido
alcançados pela dissidência liderada por Hamon a qual chega aos 4%. Os Verdes não
vão além de uns modestos 5%.
Na direita
clássica os alegados herdeiros do « gaullismo »[Les Républicains –LR]
chegam a 14%, enquanto os seus aliados habituais da UDI se limtam a 3%. Ao todo, magros
17% que a colocam claramente abaixo da nebulosa de extrema-direita, na qual avultam os «lepenianos».
De facto, « Debout la France », que
apoiou a Srª Le Pen na 2ªvolta das eleições anteriores, atinge os 6%. A ex-FN,
como se viu, chega a 21 % e um dissidente seu, com os « Les Patriotes »,
tem 1,5 %. Numa zona próxima, situam-se dois outros pequenos partidos, cada um
dos quais com 1 %. Incluí-los ou não no bloco da extrema-direita faz com que
ele ultrapasse ou não os 30%.
3. Um rápido olhar para este panorama evidencia que
o macronismo não se mostra capaz de conter e de fazer encolher a extrema –direita.
Mas mostrou-se eficaz no drástico enfraquecimento da esquerda.
Em aberto está o futuro das suas relações com a
direita clássica. Agravará a sua anemia política? Absorvê-la-á ?
Fará uma parceria explícita com o que resta dela ? Boas perguntas.
O jovem Macron, impulsionado por uma vitória que
o sistem francês potenciou, tem procurado
tingir os seus desígnios com a cor da novidade, tentando exportar
para a União Europeia uma imagem arejada.
Mas tem-se movido no quadro de uma estreita
obediência ao essencial dos cânones instituídos e de uma mansa aceitação da
hegemonia do capital financeiro. Por isso,
é de recear que o gráfico acima reproduzido represente o prenúncio
de uma
tragédia francesa. Uma tragédia gerada pela óbvia inocuidade de qualquer verniz de mudança
que se aplique no quadro de uma cosmética conservadora.
1 comentário:
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