1. Em meados do corrente mês de setembro, foi
divulgada em Itália uma sondagem das intenções de voto dos italianos. Os dois
partidos (Movimento Cinco Estrelas e Liga) que estão na base do governo atual, e
que em março passado tinham obtido 50,1% dos votos, obtiveram 59,6% das
intenções de voto. A Liga (extrema-direita) que tivera 17,4% dos votos tinha
agora 30,2% das intenções de voto, enquanto o Mov.5 Estrelas (centro populista)
passou de 30,2% dos votos para 29,4% das intenções de voto. Ou seja, a
extrema-direita, hoje minoritária no Governo, passaria a força dominante, se estas
intenções de voto se confirmassem, escassos meses depois de ser governo.
A Liga concorreu às eleições de março, integrada
numa coligação de direita que abrangeu também a Força Itália (de Berlusconi)
[14% dos votos] e os Irmãos de Itália (extrema-direita clássica) [4,4%]. Nesta
sondagem, a primeira tem 8,7% das intenções de voto e os segundos, 2,7%. Ou
seja, a Coligação de direita, que teve em março 35,8% dos votos, passaria a ter
41,6% das intenções de voto. Mas a Liga, em vez de ser um partido ligeiramente
mais forte do que o segundo (antes dominante), passaria a ser a força largamente
dominante. E embora a Coligação de direita se tenha dividido quanto a este
governo, estando uma parte dentro e outra parte fora dele, já foi anunciado que se
manteria em próximas eleições.
Nas eleições de março passado, o Partido Democrático
(PD) [que faz parte do Partido Socialista Europeu], força dominante do governo
anterior, foi o grande derrotado, tendo-se ficado pelos 18,7%. Na sondagem mais
recente, que tem vindo a ser comentada , a sua posição quanto a intenções de
voto é ainda mais modesta : 17,3%. Dois outros partidos de esquerda, em parte
resultantes de cisões do PD, LeU ( Liberi e Uguali) e PP ( Potere al Popolo),
tiveram nas eleições de março, respetivamente :3,4% e 1,1%. Na sondagem recente,
em intenções de voto, o primeiro teve 2,9% e o segundo 2,2%. Ou seja, a
Esquerda que, no seu todo, somou em março uns desastrosos 23,2 %, conseguiu
nessa sondagem a proeza de descer ainda mais, chegando aos 22,4%. Mas encarado
isoladamente o PD, em vez de recuperar, desceu 1,4%. Mostrou assim a sua
impotência para consubstanciar um sobressalto democrática contra o controverso governo italiano atual de Conte/ Di Maio/ Salvini.
Panorama insalubre, bem ilustrado pelo protagonismo
de Salvini na cena política europeia,como uma das mais ostensivas alavancas do
reerguer da extrema-direita. Panorama enegrecido pela divulgação, em conjunto
com a sondagem referida, de um gráfico comparativo da avaliação do desempenho
do atual governo e dos governos anteriores, liderados pelo PD e encabeçados
primeiro por Renzi e depois por
Gentiloni.
Do primeiro são considerados os meses de abril a novembro de 2016, no âmbito dos quais atingiu, quanto a uma valorização positiva, um máximo de 44% em outubro e um mínimo de 39% em abril. Do segundo, é considerado todo o tempo de duração do seu governo, tendo tido a avaliação mínima no seu início em dezembro de 2016, com 38%; e a máxima no seu último mês em fevereiro de 2018, com 45%.O atual governo tem duas avaliações com duas valorizações positivas; uma de 57% em junho e outra de 62% em setembro. Fica assim claro o êxito do atual governo italiano em termos de popularidade, a inocuidade cúmplice da direita clássica e a desorientação gritante da esquerda, especialmente grave quanto ao PD.
Do primeiro são considerados os meses de abril a novembro de 2016, no âmbito dos quais atingiu, quanto a uma valorização positiva, um máximo de 44% em outubro e um mínimo de 39% em abril. Do segundo, é considerado todo o tempo de duração do seu governo, tendo tido a avaliação mínima no seu início em dezembro de 2016, com 38%; e a máxima no seu último mês em fevereiro de 2018, com 45%.O atual governo tem duas avaliações com duas valorizações positivas; uma de 57% em junho e outra de 62% em setembro. Fica assim claro o êxito do atual governo italiano em termos de popularidade, a inocuidade cúmplice da direita clássica e a desorientação gritante da esquerda, especialmente grave quanto ao PD.
2. As próximas eleições para o Parlamento Europeu,
que vão decorrer em meados de 2019, perfilam-se no horizonte como
auspiciosas para a extrema-direita e como sombrias para a esquerda. E tudo
indica que sê-lo-ão tanto mais, para uns e outros, quanto menos a esquerda for
capaz de mostrar um caminho novo para os europeus. Um caminho que possa esvaziar a atmosfera de descontentamento
e frustração sociais de que a extrema-direita se tem alimentado. Um caminho que se
aproxime realmente dos povos e resista ao garrote do capital financeiro.
Na verdade, quer a extrema-direita, quer a direita
clássica mais autoritária, vão continuar a explorar a imigração como nuvem de
medos irracionais e vão apostar num soberanismo nacional que se apresente como resistência
a uma burocracia europeia sem alma que suga os povos. E pouco importa que essa
imagem seja de um simplismo primário que a afasta da verdade, se os poderes
dominantes na União Europeia continuarem mergulhados na deriva neoliberal,
insistindo no veneno de uma decadência injusta como se estivessem a conduzir a Europa para um
doce paraíso. Incapazes de enfrentarem realmente os problemas da União Europeia
abrem a porta a todos os desesperos e encorajam todos os atalhos, mesmo aquilo
que prometem sejam apenas noites mais negras.
Sem prejuízo de todas as esquerdas deverem ser tidas
em conta, é na resposta que for dada pelos partidos que integram o Partido
Socialistas Europeu que se joga o essencial destas eleições. Eles têm que tornar
evidente que vão assumir a representação dos europeus a quem a atual
desigualdade social mais penaliza, que estão decididos a percorrer esse caminho
duravelmente. Sem ambiguidades ou tergiversações; sem sofreguidões precipitadas
mas com urgência. Ou seja, a qualidade da sua resposta depende da medida em que se libertarem do colete de forças ideológico- político que
os tem constrangido.
Esta nova atitude tem que ser evidente. Não pelo
facto de ser proclamada, mas como ressonância óbvia das opções programáticas ,
das medidas propostas e da posição assumida no xadrez político pelos
socialistas. Só assim uma ampla parcela do povo de esquerda sentirá como seus
os partidos integrados no PSE, apoiando-os.
Do mesmo modo, só assim se criarão condições para um acolhimento digno dos refugiados extra-europeus . Um acolhimento que desse modo será um aspeto de uma politica de promoção da igualdade e da dignidade de todos os cidadãos , sejam eles europeus sejam eles refugiados.
Do mesmo modo, só assim se criarão condições para um acolhimento digno dos refugiados extra-europeus . Um acolhimento que desse modo será um aspeto de uma politica de promoção da igualdade e da dignidade de todos os cidadãos , sejam eles europeus sejam eles refugiados.
Na verdade, ter a ilusão que é possível, sem abrir espaço para a
extrema-direita e para a direita xenófoba, receber condignamente os refugiados extra-europeus
numa Europa que continua a escavar as suas desigualdades internas e a
desrespeitar uma parte significativa dos seus povos é isso mesmo : uma ilusão.
Não é esse o único pressuposto relevante para uma política europeia de
imigração justa e humanamente saudável, mas é uma condição sine qua non.
Na verdade, o atual panorama político italiano pode
ensinar-nos muito se o lermos com cuidado e sem preconceitos. Discursos
redondos, circunlóquios ideológicos presos na rotina, subordinação à lógica do
capital financeiro, longos textos de um europês
burocrático, são elementos que podem gerar uma tempestade perfeita.
Hoje, mais do que nunca, a propósito do que está em jogo nas próximas eleições europeias, tem plena atualidade a conhecida frase de Bossuet: " Não há pior desregramento do espírito do que tomar como realidade aquilo que gostaríamos que ela fosse".
Hoje, mais do que nunca, a propósito do que está em jogo nas próximas eleições europeias, tem plena atualidade a conhecida frase de Bossuet: " Não há pior desregramento do espírito do que tomar como realidade aquilo que gostaríamos que ela fosse".
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