Todos nos recordamos da eclosão do estranho caso das
armas desaparecidas em Tancos. Passado algum tempo, miraculosamente , as armas
reapareceram. Todos os perguntadores mediáticos exerceram exuberantemente o seu
ofício. Há poucos dias explodiu no espaço público um início de solução do
mistério que banalizou as mais ousadas
imaginações quanto ao evento. Uma das polícias envolvidas
( a não militar) prendeu gente de outras duas (militares) , dentro de um pacote em que um civil
aparecia como exceção. Um civil que afinal era, ao que parece, o alegado ladrão.
O espaço mediático foi sulcado por uma profusão de especialistas de segurança,
de generais na reserva, de discretos polícias, de argutos juristas , de
irrequietos jornalistas e dos habituais bonzos de ideias gerais, que emaranharam
diligentemente os fios da meada, de modo a tornarem o caso completamente
indecifrável. Provavelmente, a realidade , teimosa como é, seguirá o seu
caminho e acabará por se vir a mostrar aos nosso olhos, quando a confusão
instalada se cansar como nuvem que
passe.
Num programa de promoção de um semanário de referência,
ouvi um general na reserva, que desempenhou, quando ativo, cargos importantes na
hierarquia militar, dizer que este estranho caso começou meses antes do roubo
com um aviso anónimo feito ao Ministério Público de que estava a ser preparado
um roubo de armas em larga escala. Indicou mesmo que esse aviso dera origem a
um processo.
Gostaria de saber, ou como costumam dizer os
mediáticos mais habilidosos: os portuguese gostariam de saber, se o MP informou
o Ministro da Defesa, ou o Estado-Maior das Forças Armadas, ou o Exército, ou a
Polícia Judiciária, ou a Ministra da Justiça, ou o Presidente da República.
Alguém.
Se sim; o que fizeram os informados com a informação?
Se não, porque razão o não fez? E já agora porque razão os perguntadores de serviço não fazem, não insistem nestas perguntas?
É que mais importante do que avaliar a segurança dos
arames de proteção e a regularidade das vigilâncias será certamente saber-se qual a razão pela
qual, tendo havido alerta de roubo, não
foi feito nada para o evitar.
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