sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Na FEUC - novo ciclo integrado


CICLO INTEGRADO DE CINEMA, DEBATES E COLÓQUIOS NA FEUC


Economia Global, Mercadorização e Interesses Colectivos: Pessoas, Mercadorias, Ambiente e Paraísos Fiscais.


Acabo de receber do Júlio Mota o texto informativo que abaixo transcrevo. O êxito das iniciativas anteriores e o que se pode verificar pelo que abaixo nos é dito tornam mais que justificado que difundamos a notícia.

Nesta conjuntura em que alguma da chamada "ciência económica"parece desfazer-se em cinza, é indispensável que nos informemos, abrindo o nosso pensamento à diversidade de perspectivas. Mais do que nunca se exige de cada um de nós atenção aos factos e espírito crítico. Não precisamos de receitas, precisamos de estímulo à reflexão. Também por isso, este tipo de iniciativas tem grande actualidade e importância. Eis o texto:




" O grupo de docentes da FEUC dinamizador do Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios na FEUC vem com a presente informar que se inicia a 6 de Outubro um novo ciclo para o ano lectivo de 2008-2009, com o tema Economia Global, Mercadorização e Interesses Colectivos: Pessoas, Mercadorias, Ambiente e Paraísos Fiscais.
Este ciclo é organizado em colaboração com os estudantes do Núcleo de Estudantes de Economia da Faculdade de Economia e conta o apoio da Coordenação do Núcleo de Economia e informamos que a estrutura de todo o ciclo até agora estabelecido para este novo ano lectivo assim como os textos que neste âmbito irão sendo produzidos, estão disponíveis no site
http://www4.fe.uc.pt/ciclo_int/index.htm.
Teremos assim, ao longo de dez sessões, diversas câmaras de filmar, diversas maneiras de ver o mundo, diversos olhares críticos sobre diferentes ângulos da realidade actual e para nos ajudarem a percebê-la melhor serão ainda convidados especialistas nacionais e estrangeiros que nos acompanharão neste trajecto de procura de conhecimento sobre a economia global, sobre as suas contradições, os seus problemas, os seus impasses e sobre a procura das vias de solução para muitos dos problemas com que a Humanidade se debate hoje.
O título principal deste novo ciclo sugere três áreas temáticas relevantes que podem ser analisadas a partir das seguintes combinatórias:

— Economia Global e Mercadorização, versus interesses colectivos
— Economia global e interesses Colectivos, versus mercadorização
— Mercadorização e Interesses colectivos versus Economia Global

que expressam assim as linhas de análise, as linhas de rumo que procuraremos percorrer, através dos diversos filmes, documentários, a projectar no Teatro Académico Gil Vicente e dos diversos colóquios a organizar na Faculdade de Economia. Serão pois diferentes metodologias, diferentes abordagens, que iremos propor ao longo de meses a todos os participantes deste ciclo para que se ganhe uma melhor compreensão do que é o modelo económico e social hoje dominante, a nível nacional, regional e mundial, de quais são os seus pressupostos, as suas práticas e as suas consequências, bem visíveis na realidade de hoje, a realidade de um mundo em crise, para muitos inimaginável e para outros a consequência lógica da desregulação total dos mercados. Por isso, a crise americana, mas que já ultrapassou as suas fronteiras, aparece como a consequência lógica do modelo defendido pela actual Administração para os Estados Unidos e para o mundo, , e cuja adopção de medidas concretas, se encontra num impasse, face à dimensão, porventura ainda desconhecida, dos problemas criados. Um exemplo apenas: segundo Rama Cont, da Universidade de Columbia a indecisão em nacionalizar a Fanny Mãe e a Freddy Mac nos últimos seis meses terá custado mais de 400 mil milhões de dólares, contra um custo anteriormente calculado de 100 mil milhões. Quem paga esta diferença? O contribuinte. Para onde foi esta diferença? A resposta é simples: para o bolso dos especuladores! Mas, na lógica neoliberal hoje dominante, isto é mercado
Ao longo do presente ano diversos acontecimentos internacionais relevantes mostraram‑nos que parecem estar reunidas as condições para se colocar a hipótese de estarmos perante o início do fim de um ciclo, de um modelo ― o chamado neoliberalismo ―, cujos efeitos negativos e devastadores têm feito as grandes caixas dos media diariamente ao longo do ano, sendo parte deles objecto de análise ao longo de todo o ciclo. Para tal, contamos com o apoio de eminentes especialistas nacionais e estrangeiros, conforme programa que enviamos em anexo.




A primeira sessão terá o seguinte programa:

2ª feira: 6 de Outubro

Hora: 16:00
Local: Auditório da Faculdade de Economia

Conferência de
Gilles Labarthe (editor da DATAS press agency)
tema: O ouro no mercado mundial, os seus actores, os seus mecanismos

Comentários de:
Manuel Ennes Ferreira (ISEG/UTL)
Joaquim Feio (FEUC)

À noite, no Teatro Académico Gil Vicente, pelas 21 horas e 15 min haverá a projecção do filme "Todo o ouro do Mundo", de Robert Nugent (2007). Filme este, já premiado em diversos festivais, a que se seguirá um debate com a participação dos mesmos intervenientes.


No Teatro Académico Gil Vicente serão distribuídas gratuitamente duas brochuras, uma com a síntese da conferência proferida por Gilles Labarthe e alguns textos sobre o filme "Todo o ouro do Mundo", e uma outra que constitui uma reflexão dos organizadores do ciclo, sobre a crise actual da economia global.


Sinopse do filme

O filme "Todo o ouro do mundo" fornece-nos um olhar conciso, profundo, sobre o impacte das indústrias extractivas globais no modo de vida das populações locais, nas suas economias, nas suas tradições e no seu meio ambiente. Descreve, com detalhes impressionantes a confrontação de duas culturas, uma a indígena, a outra, a cultura da globalização e das suas empresas globais.
O filme tem como suporte uma mina de ouro na Guiné, um Estado de partido único, frequentemente citado pela sua corrupção, que tem, sob a tutela do Banco Mundial, conduzido um programa extensivo de políticas de privatização, de investimento estrangeiro e de ajustamento estrutural. Quanto ao acordo entre a multinacional e o Estado relativamente ao pagamento de direitos de exploração este permanece um mistério, sabe-se apenas que a população local recebe somente 0.4% dos lucros da mina.
A película começa com a desmontagem, peça a peça, da maquinaria de uma exploração mineira de ouro em Bornéu e a sua reconstrução num local do nordeste da Guiné, a pouco mais de 600 quilómetros de Conakry, a capital, e perto da fronteira com o Mali. Nada podia ilustrar tão fortemente o que é a mobilidade do capital global assim como o contraste da capacidade tecnológica entre as sociedades industriais e as pré-industriais.
Os conflitos rebentam logo que a seca traz a fome à aldeia. Não há nenhuma outra maneira para que os camponeses ganhem alguma coisa a não ser escavando e peneirando a terra à procura de ouro. Mas, agora é a companhia que possui os campos do ouro.
O que permanecerá inesquecível na memória dos espectadores deste filme são as observações antropológicas de grande qualidade sobre o conflito de culturas. Há aqui o contraste entre o discurso seco, utilitarista dos europeus e o idioma rico do chefe africano com provérbios e cheio de filosofia popular, representando-se duas visões do mundo. O filme não favorece nem uma nem outra; indica-nos que o poder - político, financeiro e tecnológico - já fez a sua escolha. Ironicamente, o chefe e o director da mina parecem terem renunciado aos seus respectivos destinos, tendo ambos alcançando uma força maior do que eles mesmos.





O Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios na FEUC tem merecido desde o seu início o apoio da nossa comunidade universitária e também da nossa imprensa, sobretudo local. Esperemos que o ciclo que agora se inicia o continue a ter para que assim se mantenha bem vivo um espaço de discussão e de crítica sobre as grandes e as pequenas questões da actualidade. Este será então um espaço de vivência da Democracia, que sucessivamente se recria, porque é um espaço crítico de confronto de ideias. Porque queremos manter este mesmo sentido, tomamos a liberdade de sinceramente vos solicitar o renovar do vosso apoio para esta nova iniciativa e estamos certos, e agradecemo-la antecipadamente, que no limite do possível podemos contar com a vossa empenhada divulgação junto dos vossos leitores.
Sem outro assunto e certos da vossa atenção, que antecipadamente agradecemos, apresentamos os nossos cumprimentos.

Pela Comissão Organizadora

Júlio Marques Mota

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