SERENATA
Que lágrima triste subiu no vento,
deixando a saudade a perder-se nele?
Que garra de angústia se rasgou no peito
perdida na dor dos versos cansados,
esquecida da audácia das grandes montanhas?
Os lábios longínquos das guitarras tristes
não dizem os sonhos das ruas mais largas,
não trazem os cheiro das histórias sofridas,
não esquecem o medo dos anos de abismo.
Podiam abrir as ruas mais lentas,
subi-las num rasgo, emoção e prazer,
ser
campos abertos de sonho e amor,
esculpida em memória a dor do futuro.
Mas descem os dedos das harpas mais tristes
perdendo os silêncios das velhas saudades,
e escavam a angústia das harpas mais tristes
fugindo da audácia que colhe o amor.
Respira-se a sombra dos tempos que faltam,
arranca-se o gume crispado nos versos
e sobe-se o voo de todas as águias,
mais longe, mais longe, mais longe.
É esta a serenata dos peitos abertos,
das cordas que rasgam o som das guitarras
e olhando através de todos os mares,
Coimbra cansada de não se cansar.
[Rui Namorado]
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