terça-feira, 2 de junho de 2020

10 - UM LIVRO, UM POETA - Sidónio Muralha



10 - UM LIVRO, UM POETA - Sidónio Muralha

Hoje, o livro escolhido é de Sidónio Muralha , “Poemas”, publicado pela Editorial Inova ( Porto) em 1971, onde se integram os livros até então por si dados à estampa.
O autor nasceu a 28 de Julho de 1920, no bairro da Madragoa, em Lisboa. Em 1943, emigra para o Congo belga. No ano de 1960, regressou à Europa fixando residência em Bruxelas durante dois anos.
No início dos anos 60, Sidónio Muralha chegou ao Brasil, país em que viria a viver até ao fim da vida. Aí funda a Editora Giroflé, criando um novo padrão para as publicações dirigidas às crianças. Morre em Curitiba, capital do Estado do Paraná, a 8 de dezembro de 1982.
Em 1941, publica o seu primeiro livro de poemas: Beco. No ano seguinte, participa no Novo Cancioneiro, coleção emblemática do neorrealismo, com um novo livro: Passagem de Nível. Os dois poemas  hoje aqui recordados fazem parte deste livro.



SONETO IMPERFEITO DA CAMINHADA PERFEITA

Já não há mordaças, nem ameaças, nem algemas
que possam perturbar a nossa caminhada,
em que os poetas são os próprios versos dos poemas
e onde cada poema é um bandeira desfraldada.

Ninguém fala em parar ou regressar.
Ninguém teme as mordaças ou algemas.
─ O braço que bater há-de cansar
e os poetas são os próprios versos dos poemas

Versos brandos… Ninguém mos peça agora.
Eu já não me pertenço: Sou da hora.
E não há mordaças, nem ameaças, nem algemas

que possam perturbar a nossa caminhada,
onde cada poema é uma bandeira desfraldada
e os poetas são os próprios versos dos poemas.

ROMANCE
´
Depois daquela noite os teus seios incharam;
as tuas ancas alargaram-se;
e os teus parentes admiraram-se
e falaram, falaram…

Porque falaram duma coisa tão bela,
tão simples, tão natural ?
Tu não parias uma estrela,
nem uma noite de vendaval …

Mas tudo terminou porque falaram.
Tu fraquejaste e tudo terminou.
─ Os teus seios desincharam;
só a tristeza ficou.

Ficou a tristeza duma coisa tão bela,
tão simples, tão natural…

─ Tu não parias uma estrela,
nem uma noite de vendaval...


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