Hoje, o livro escolhido é de Sidónio Muralha , “Poemas”,
publicado pela Editorial Inova ( Porto) em 1971, onde se integram os livros até
então por si dados à estampa.
O autor nasceu a 28
de Julho de 1920, no bairro da Madragoa, em Lisboa. Em 1943, emigra para o
Congo belga. No ano de 1960, regressa à Europa fixando residência em Bruxelas
durante dois anos.
No início dos
anos 60, Sidónio Muralha chega ao Brasil, país em que viria a viver até ao fim
da vida. Aí funda a Editora Giroflé, criando um novo padrão para as publicações
dirigidas às crianças. Morre em Curitiba, capital do Estado do Paraná, a 8 de
dezembro de 1982.
Em 1941, publica
o seu primeiro livro de poemas : Beco. No ano seguinte, participa no Novo Cancioneiro,
coleção emblemática do neorrealismo, com um novo livro : Passagem de Nível. Os
dois poemas hoje aqui recordados fazem parte deste livro.
SONETO IMPERFEITO
DA CAMINHADA PERFEITA
Já
não há mordaças, nem ameaças, nem algemas
que
possam perturbar a nossa caminhada,
em
que os poetas são os próprios versos dos poemas
e
onde cada poema é um bandeira desfraldada.
Ninguém
fala em parar ou regressar.
Ninguém
teme as mordaças ou algemas.
─
O braço que bater há-de cansar
e
os poetas são os próprios versos dos poemas
Versos
brandos… Ninguém mos peça agora.
Eu
já não me pertenço: Sou da hora.
E
não há mordaças, nem ameaças, nem algemas
que
possam perturbar a nossa caminhada,
onde
cada poema é uma bandeira desfraldada
e
os poetas são os próprios versos dos poemas.
ROMANCE
´
Depois
daquela noite os teus seios incharam;
as
tuas ancas alargaram-se;
e
os teus parentes admiraram-se
e
falaram, falaram…
Porque
falaram duma coisa tão bela,
tão
simples, tão natural ?
Tu
não parias uma estrela,
nem
uma noite de vendaval …
Mas
tudo terminou porque falaram.
Tu
fraquejaste e tudo terminou.
─
Os teus seios desincharam;
só
a tristeza ficou.
Ficou
a tristeza duma coisa tão bela,
tão
simples, tão natural…
─
Tu não parias uma estrela,
nem
uma noite de vendaval...
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