1. Em
2017, escrevi aqui o texto que se segue, quando retomei uma série de evocações
de poetas que havia interrompido:
Incluí neste blog uma série de evocações de poetas que , por uma ou
outra razão, por um ou outro poema, produziram em mim um eco mais fundo. Fi-lo
através de uma seção específica, “Um livro, um poema”, mas que por vezes
incluiu para cada autor mais do que um poema.
Desde 2 junho de 2015 que a interrompi. Até então, a um ritmo irregular
havia recordado: Daniel Filipe, G. Ungaretti, Carlos de Oliveira, Manoel de Barros, Egito
Gonçalves, B.Brecht, Reinaldo Ferreira, João Cabral de Melo Neto, Pablo Neruda,
Sidónio Muralha, Manuel Bandeira, Cesário Verde e António Nobre.
Uma e outra vez decidi retomar essas evocações. Por uma razão ou por outra,
isso foi não acontecendo.
O facto de, na homenagem prestada no Mosteiro dos Jerónimos a Mário Soares
aquando da sua recente morte, ter sido incluída a transmissão de dois
poemas de Álvaro
Feijó declamados por Maria
Barroso, foi o impulso que me fez retomar a série há tanto interrompida. Vou
pois transcrever esses dois poemas: “ Os dois sonetos de amor da hora
triste”.
Embora dando continuidade à série, vou introduzir uma ligeira
alteração na sua designação que passará a ser: “ Um livro, um poeta”.
Ela traduz mais fielmente o que ela tem sido e que penso que venha a ser.
2.Álvaro Feijó nasceu em Viana do Castelo em 1916 e morreu em Coimbra em
1941, onde era estudante de direito, antes de completar 25 anos. Com outos
jovens estudantes de Coimbra , como Joaquim Namorado, Carlos de Oliveira, João
José Cochofel e Fernando Namora, fez parte do grupo neo-realista do Novo
Cancioneiro. Um livro seu viria a ser publicado nesta coleção já depois da sua
morte sob o título de :”Os
poemas de Álvaro Feijó”.
Os dois sonetos de amor da hora triste
I
Quando eu morrer - e hei-de morrer primeiro
do que tu - não deixes fechar-me os olhos
meu Amor. Continua a espelhar-te nos meus olhos
e ver-te-ás de corpo inteiro
como quando sorrias no meu colo.
E, ao veres que tenho toda a tua imagem
dentro de mim, se, então, tiveres coragem,
fecha-me os olhos com um beijo.
Eu, Marco Pólo,
farei a nebulosa travessia
e o rastro da minha barca
segui-lo-ás em pensamento. Abarca
nele o mar inteiro, o porto, a ria...
E, se me vires chegar ao cais dos céus,
ver-me-ás, debruçado sobre as ondas, para dizer-te adeus.
II
Não um adeus distante
ou um adeus de quem não torna cá,
nem espera tornar. Um adeus de até já,
como a alguém que se espera a cada instante.
Que eu voltarei. Eu sei que hei-de voltar
de novo para ti, no mesmo barco
sem remos e sem velas, pelo charco
azul do céu, cansado de lá estar.
E viverei em ti como um eflúvio, uma recordação.
E não quero que chores para fora,
Amor, que tu bem sabes que quem chora
assim, mente. E, se quiseres partir e o coração
to peça, diz-mo. A travessia é longa... Não atino
talvez na rota. Que nos importa, aos dois, ir sem destino.
e ver-te-ás de corpo inteiro
como quando sorrias no meu colo.
E, ao veres que tenho toda a tua imagem
dentro de mim, se, então, tiveres coragem,
fecha-me os olhos com um beijo.
Eu, Marco Pólo,
farei a nebulosa travessia
e o rastro da minha barca
segui-lo-ás em pensamento. Abarca
nele o mar inteiro, o porto, a ria...
E, se me vires chegar ao cais dos céus,
ver-me-ás, debruçado sobre as ondas, para dizer-te adeus.
II
Não um adeus distante
ou um adeus de quem não torna cá,
nem espera tornar. Um adeus de até já,
como a alguém que se espera a cada instante.
Que eu voltarei. Eu sei que hei-de voltar
de novo para ti, no mesmo barco
sem remos e sem velas, pelo charco
azul do céu, cansado de lá estar.
E viverei em ti como um eflúvio, uma recordação.
E não quero que chores para fora,
Amor, que tu bem sabes que quem chora
assim, mente. E, se quiseres partir e o coração
to peça, diz-mo. A travessia é longa... Não atino
talvez na rota. Que nos importa, aos dois, ir sem destino.
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