No passado dia 7 de
novembro, foi publicado no jornal Negócios um artigo da minha autoria, cujo
tema era “A economia social no programa do Governo”. Vou
transcrevê-lo.
1. A economia social tem um
lugar modesto, mas visível no programado atual Governo. Às entidades que a
integram é reconhecida vocação para serem “parceiras fundamentais do Estado na
prestação de serviços de interesse geral às populações em termos não
mercantis”, com salvaguarda expressa da sua autonomia, radicada em “valores
solidários” indutores da sua contribuição “para a satisfação das necessidades
coletivas”. Sublinha-se o seu “papel decisivo junto dos segmentos sociais mais
fragilizados”. Reconhece-se-lhe o contributo para a “dinamização da própria
atividade económica e social”, geradora de emprego.
No
programa dá-se ainda relevo à necessidade de estimular o desenvolvimento das
entidades da economia social, apostando-se em aumentar “a eficácia e a
eficiência da sua atuação” e garantindo-se também “a sua sustentabilidade
económica e financeira”. Por isso, o Governo, reconhecendo expressamente “o
papel determinante que a economia social desempenha”, manifesta a sua vontade
de trabalhar em conjunto com as organizações que a integram, “dando passos no
sentido de consolidar uma trajetória de parceria”.
Nesse
quadro, propõe-se: 1) melhorar “os instrumentos de regulação da economia
social”; 2) promover a modernização dos vários ramos cooperativos e estimular o
seu rejuvenescimento, com destaque para o reforço e a agilização das
cooperativas de interesse público [neste caso, explicita-se a vontade de as
tornar “mais atrativas para o envolvimento de diferentes entidades públicas e
privadas na construção de parcerias duradouras na resposta a necessidades
sociais, culturais e outras”]; 3) “desenvolver um programa de formação e
capacitação para dirigentes de entidades da economia social”; 4) “criar uma
rede de incubadoras sociais”; 5)” criar incentivos à inovação social e à
exploração de tecnologias que coloquem o cidadão no centro da decisão”; 6)
“estimular dinâmicas de medição dos impactos sociais das iniciativas”; 7)
“proceder a uma revisão global e integrada da legislação aplicável às
fundações”.
2. Neste programa, têm uma ressonância
limitada as moções aprovadas nos últimos congressos nacionais do PS, quanto à
economia social e não se valoriza com clareza o caminho percorrido na legislatura
anterior. Isto não legitima que se menospreze o valor objetivo das opções
apresentadas, bem como o acerto estrutural da inclusão da economia social nas respostas
ao desafio estratégico do combate às desigualdades. Simetricamente, não se deve
apagar a necessidade de se inverter a deriva desvalorizadora do protagonismo do
CNES no período final do Governo anterior. Mas para além de uma amplitude mais
ambiciosa das medidas propostas e das linhas de orientação reveladas, teria constituído
um importante salto qualitativo ter-se dado à economia social uma maior
transversalidade, fazendo-a impregnar estruturalmente o programa do Governo. Bastaria,
por exemplo, que se assumisse a ressonância plena do mais recente Congresso do
PS: “Para o PS é importante a imbricação da economia social na reforma do
Estado, como reforço do seu caráter democrático e como elemento de contenção e
reversão dos atuais desequilíbrios demográficos, ecológicos e económicos do
país”. Em sinergia com isto, teria sido bom ter-se dado uma expressão mais
consistente ao que na mesma circunstância se defendeu: a especial valorização
da simbiose entre a economia social e o desenvolvimento local.
Na
verdade, um olhar sobre o programa do Governo mostra uma abordagem bem mais
pobre da economia social do que a induzida pelo decidido no 22º Congresso do
PS: “A economia social é um movimento relevante do horizonte socialista.
Inscreve-se na história como memória marcante, no presente como virtude prática
e no futuro como esperança emancipatória”.
RUI NAMORADO
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