Dois pontos de um soneto em prosa
Ponto
Um-
Ontem,
a luz de um sol negro e profundo aprisionou-os numa aventura outonal. Hoje,
sofrendo talvez ainda as pétalas frias desse outono, descansam desesperadamente
num inverno que cultivam melancolicamente como se fosse o futuro.
O
marulhar seco dos poderes, a cólera surda dos oprimidos, a palidez sufocada das
ruas e os oceanos abertos do futuro desfilam indiferentes. Uma guitarra triste
celebra os corações arrependidos.
Os
povos erguem-se magnificamente dispostos a errar. Os amanuenses da política,
breves cães de guarda, percorrem suas pobres ideias gastas como se estivessem
parados num apeadeiro sombrio, dizendo aos comboios para não passarem.
Ponto
Dois –
Miam
como gatos, caminham como gatos, arranham como gatos. Garantem-nos que são
cães. Devemos acreditar?
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