Abro as portas do tempo devagar
colhendo mil memórias de um só dia.
No espelho destes anos que passaram
sinto a sombra dos sonhos naufragados.
Há hoje na cidade nova peste.
Cerca os dedos da vida de um bolor
que nos queima e nos perde sem parar.
Não estava escrito então este silêncio
na boca das revoltas que inventámos.
Não era o não ser desta agonia
que apunhalava a negro a cor das ruas.
Por isso, esta guitarra que se esvai
desmoronada em peste rua a rua
colhe em silêncio toda a luz do dia.
Escrevamos pois de novo outro lugar
onde caiba em pleno o mês de abril.
Rui Namorado
[ Coimbra, 16 de abril de 2020]
1 comentário:
Acutilante e Sublime!
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