Homenagem
a Romero Magalhães
Nunca se está preparado
para que os amigos nos deixem. Mas há casos em que o inesperado da partida se
sublinha a si próprio, quando chega bruscamente. Foi o que aconteceu com Romero
Magalhães. Estando eu longe de Coimbra, foi-me impossível participar na cerimónia
de despedida. Mas longe não deixei de percorrer a sua memória. Não me
limitei a percorrer o vazio de não voltarmos a falar. Acompanhei-o com saudade,
recordando o seu percurso cívico, universitário, cultural e político. Um
percurso que fez integrado na aventura coletiva que em Portugal vivemos nas
últimas décadas.
Agia e trabalhava sem
se deixar aprisionar pelo fugaz brilho das ribaltas efémeras. Movia-o apenas a
sua subjetividade mais profunda, as suas convicções firmes e perenes, a sua
curiosidade intelectual e a sua ética republicana. Não dava lições a ninguém,
talvez sabendo que a única verdadeira lição que pode ser dada é a que possa ser
lida no modo como cada um viver. A dar essa lição não se furtou.
Foi estudante de
Coimbra nos mágicos anos sessenta do século passado, onde começou a viver
cultura, aprendendo com Paulo Quintela no TEUC, do qual viria ser Presidente. Foi
o primeiro Presidente da Direção-Geral da AAC, eleito após a crise de 1962.
Após a Revolução de Abril, viria a ser deputado à Assembleia Constituinte pelo
Partido Socialista e Secretário de Estado da Orientação Pedagógica dos governos
presididos por Mário Soares (1976-1978). Foi Presidente da Assembleia Municipal
de Coimbra durante vários mandatos.
Licenciou-se em
História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tendo ingressado
como docente na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, onde se
doutorou, obteve a agregação e foi Professor Catedrático até se jubilar. Aí
desempenhou reiteradamente funções dirigentes. Foi Comissário-Geral da Comissão
Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (1999-2002) e Membro
da Comissão Consultiva das Comemorações do Centenário da República (2009-2011).
A sua obra como
historiador é vasta, importante e reconhecida, o que foi justamente sublinhado,
já no decurso do corrente mês de Dezembro, pela Universidade do Algarve ao atribuir-lhe
um doutoramento honoris causa.
É tempo de saudade, mas
é também tempo de memória. Uma memória limpa , sem floreados para ser digna da
sua lembrança, mas fazendo-nos recordar sempre como de Romero Magalhães não
seria nunca de esperar a hipocrisia da
amabilidade fácil, nem a deslealdade mesmo subtil.
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