Libertar
os professores socialistas?
Há um velho dilema objetivo que se coloca aos
professores socialistas. Especialmente aos militantes e aos simpatizantes do
PS, mas que envolve também os seus eleitores habituais. Devem os professores socialistas
esquecer o seu vínculo partidário, quando se trata da atividade sindical, enquanto os militantes e simpatizantes de outros partidos o não fazem? Deve, nestas circunstâncias, o Partido
continuar totalmente alheio a esse dilema, não dando aos socialistas qualquer
orientação explícita e taxativa , nem sequer dando também qualquer indicação preferencial com o simples
carácter de sugestão?
O que foi noticiado este fim de semana quanto às
posições dos sindicatos dos professores no que concerne à aprovação do próximo
orçamento de Estado reacende a questão. De facto, os sindicatos em causa, e em especial
os três com maior visibilidade, declararam ir pressionar o PCP e o BE para
chumbarem o orçamento, se dele não resultar a satisfação completa das
reivindicações que os opõem ao Governo. Ou seja, pedem a esses partidos para derrubarem
o atual Governo do PS, dando assim à direita uma oportunidade para o substituir na sequência
das novas eleições que daí adviriam.
Julgam que um Governo de direita trataria melhor os professores do que o atual ? Foi isso que fez o Governo
anterior? E acham os professores simpatizantes das diversas áreas políticas da
esquerda que um governo de direita seria melhor para o país do que o atual governo?
Se o pensam por que continuam a ser de esquerda? Se o não pensam, porque deixam
que as lideranças sindicais atuem em sua representação contra aquilo que pensam?
Os três sindicatos mais visíveis têm como líderes
mais ostensivos dirigentes cuja identidade política é pública: um é militante
do PCP, outro é militante do PSD e outro (mais recente, mais fogoso e com menos
apoios) é de um antigo candidato do MAS. Todos convergiram na iniciativa política
acima referida, dirigida ao chumbo do próximo orçamento. É aliás comovente
apreciar o entusiasmo com que um destacado militante do PSD se associa angelicamente
à exigência feita ao PCP e ao BE, para chumbarem o próximo orçamento, se ele não
for tão longe como acham que deverá na
reversão das malfeitorias feitas pelo seu próprio partido quando foi governo. A
pergunta regressa: o que pensam os professores socialistas de tudo isto? O que
contam os professores socialistas em tudo isso?
E aqui eu não discuto o fundo da questão, mas apenas
se a constância do desacordo entre o Governo e os sindicatos, é uma razão
suficiente para derrubar este governo, abrindo de novo as portas à direita? Que
os professores de direita possam pensar isso acho compreensível. Que os
professores de qualquer das áreas da esquerda o pensem acho estranho, a não ser
que discordem da atual solução e preferissem que tivesse continuado a governar Passos Coelho. Mas que os militantes, os
simpatizantes e os eleitores do PS pensem dessa maneira acho muito improvável. E,
no entanto, esta área política envolve, previsivelmente, entre 35 a 40 % do
eleitorado. Quem os ouve? Quem os pode representar?
Em função, de tudo isto dou comigo a regressar há umas décadas atrás, quando os professores do PCP quebraram a unidade sindical dos
professores e criaram os seus próprios sindicatos. Eu não era então militante do
PS, mas da UEDS, tendo havido reuniões com militantes do PS para se equacionar a
possibilidade de fazermos algo de paralelo nos professores ao que havia feito o PCP.
A iniciativa morreu. Passaram décadas; mas o problema mantém-se: os socialistas
estão dispersos pelos vários sindicatos e em todos subalternos. É uma opção possível
deixar tudo como está. Mas não acho que seja uma boa opção.
Por outro lado, a expressão organizada dos
professores dentro do PS é fraca, embora já o tenho sido mais. Durante mais
de uma década, a partir de 1989, participei na Federação a que pertenço numa
seção sectorial de Educação. Mais algumas idênticas existiam então noutras federações.
Poucas , mas com alguma audibilidade. Tudo entretanto foi esmorecendo, perdendo
visibilidade e relevância política autónoma.
Algum tempo depois, na minha Federação
foi desencadeado um subtil processo de confinamento e neutralização da seção de
educação de que era membro . No termo de um sub-reptício processo a seção foi extinta, aparentemente por força
do jogo de pequenas lógicas de pequenos poderes. Olhando hoje para o rosário dos protagonistas e
animadores principais de tão discretas manobras, surpreendo-me a desconfiar do lóbi
dos negociantes de colégios.
Seja como for, com o desprendimento e o distanciamento
que a senectude traz, parece-me tempo de
os professores socialistas forjarem uma dinâmica própria que os habilite a ter
um papel de interlocução no seio do Partido e no seio dos Sindicatos. Não se
trata de preconizar a criação de um bloco de guerreiros que se ponha ao serviço
de poderes ou da sua contestação. Trata-se de criar um lugar organizado de
troca de ideias, útil ao país, à educação, aos sindicatos e ao partido. Para começar,
juntamo-nos organizadamente. Depois decidimos o que fazer. E se a direção do PS tomar este processo em mãos,
isso então será excelente.
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