sábado, 17 de julho de 2010

Um Defensor ao ataque


Assisti ontem a uma peça de humor político numa estação televisiva. Apenas me falta saber se o seu autor a protagonizou por ingenuidade ou por manha.


Um deputado do PS, que disse chamar-se Defensor de Moura, veio declarar-se publicamente candidato à Presidência da República. Porquê ? Pelo acrisolado apego a um desígnio de serviço à Pátria? Pelo irresistível impulso para marcar um encontro com a história ? Por um revanchismo incontrolado em resposta ao que julga terem-lhe feito dentro do PS? Por ódio visceral à candidatura de Alegre ? Nada disso. Apenas e só para lutar contra Cavaco Silva, para o impedir de ganhar à primeira volta. Ele não é pois um adversário de Alegre; e uma vez que cooptou surrealisticamente o candidato Nobre para dentro de uma nebulosa de esquerda, também não é um adversário de Nobre.


De facto, algum misterioso oráculo lhe segredou que ele tinha à sua espera o eleitorado do centro-esquerda ansioso por poder votar nele. Milagre assaz curioso o de haver uma grossa fatia do eleitorado à espera de votar em alguém cuja existência ignora. Defensor tenta explicar atirando a Alegre uma pedrada tonta com o ar de quem lhe está a fazer um gesto solidário : como Alegre foi confinado ao eleitorado do BE, o Defensor vem praticar a generosidade de absorver o eleitorado do PS. Se o Defensor tivesse apenas olhado de soslaio uma das reuniões de apoiantes de Alegre, depois de o PS lhe ter declarado apoio, decerto não diria um tal disparate. Nada significam as presenças nessas reuniões? Tem o citado Defensor uma capacidade de captação de eleitores do PS que passa por cima de todos os sinais de apoio institucionalmente dados pelo partido? Porquê ? Por ter no seu currículo a glória da participação nessa operação de combate ao PS que foi o fracassado PRD? Por ter chantageado recentemente o partido de modo a forçar a sua ida na lista de deputados ?


Enfim, estamos seguramente perante uma candidatura tonta. Apenas podendo duvidar-se se estamos perante um ingénuo sincero que se colocou ao serviço de Cavaco; julgando combatê-lo; ou se estamos perante um cavaquista hipócrita que sabe muito bem que vem prejudicar Alegre e afrontar o PS, mas finge-se convencido do contrário.


Se não for aproveitada por alguns pescadores de águas turvas, que costumam agir dentro do PS por entre as pregas da dissimulação, esta candidatura não será mais do que um fogo-fátuo.


Mas já deixou uma sequela inapagável. Foi autarca destacado pelo PS e é actualmente seu deputado, uma figura que se revelou como sendo necessariamente uma de duas coisas: ou é um político de miolo mole que está mesmo convencido de que vem beliscar o Cavaco com a sua absurda candidatura; ou é um "artista" que julga que pode praticar com êxito a hipocrisia política.

Sem comentários: