sábado, 4 de julho de 2009

Sondagens e política

1. Antes das eleições europeias, procurei manter um panorama actualizado e comparativo das sondagens que foram saindo. De acordo com o clamor público as sondagens enganaram-se redondamente. Também foi isso que me pareceu. Não partilho a suspeição de um propósito deliberado de distorção dos resultados. Inclino-me mais para a intromissão de um ou vários factores não previstos ou insuficientemente valorizados. Este aspecto central das sondagens não deve contudo fazer desaparecer por completo outros aspectos da sua divulgação.

Digo isto, a propósito dos célebres empates técnicos que regressaram agora nas notícias de alguns meios de comunicação social sobre os resultados da mais recente sondagem da Eurosondagem, dirigida á eleições legislativas.


De facto, recentemente foi difundida um resultado em que era atribuída uma vantagem de 1,3% ao PSD relativamente ao PS, e foi essa a notícia. Nesta segunda sondagem, o PS surge 2,1% à frente do PSD, o que para alguns meios de comunicação social foi designado por empate técnico. Basta esta comparação para se intuir para que lado estão a torcer esses órgãos de comunicação social. É uma subtil parcialidade talvez inócua, mas não deixa de o ser.


2. Quanto ao conjunto dos resultados em si próprios (PS: 35,1% - PSD: 33,0%- CDU: 9,7%-BE: 9,6%CDS-PP: 7,4%), para além da inversão de posições entre os dois partidos mais votados, há três considerações que me parecem relevantes. Em primeiro lugar, a soma do BE e do PCP desce ligeiramente , fixando-se nos 19,3%; em segundo lugar, a soma dos partidos de direita continua na casa dos 40%; em terceiro lugar, os três partidos de esquerda mantêm-se na casa dos 54%. Ou seja, as transferências de intenções de voto parecem ocorrer principalmente dentro de cada um dos dois blocos.


Por isso, o PS tem que declarar desde já que, em coerência com o que tem sido a agressividade do PSD, em face do seu Governo, e dada a demarcação essencial quanto à sua política, que tem assumido a Drª F.Leite, não viabilizará qualquer governo de direita. E assim ficará claro que a referida senhora tem muito poucas hipótese de vir a ser primeira-ministra após as próximas eleições.


De facto, se assim for , como aliás não pode deixar de ser, sob pena de fragmentação do PS, a Dama de Cinza só formará governo se a direita tiver maioria absoluta, ou se o BE e o PCP viabilizarem um governo minoritário de direita, o que me parece improvável e politicamente suicida para qualquer desses dois partidos.

7 comentários:

ahp disse...

Inteiramente de acordo. Como creio que já disse aqui, se a maioria dos portugueses votarem PS, PCP e BE isso tem o significado inequívoco de que não querem ser governados pela direita. O PS não pode trair essa vontade insofismável dos portugueses.

Osvaldo Castro disse...

Prémio Lemniscata...passa no Praça Stephens.Abraço.Não precisas de publicar este comentario.

João Pedro Freire disse...

"O PS não pode trair essa vontade insofismável dos portugueses." afirmou "ahp". Só que a direcção do PS já traiu mais do que uma vez as aspirações da maioria dos portugueses que votam PS, PCP e BE. Sugiro a leitura de
http://militantesocialista.blogspot.com/2009/06/alternativa-de-esquerda-algumas.html

Anónimo disse...

Como é que a direcção do PS pode ter traído quem votou no PCP e no BE?

Anónimo disse...

Osvaldo, obrigado.

Não consegui colocar um comentário no teu Blog. há qualquer coisa de errado na minha conta Google.

Anónimo disse...

Para o comentário anterior:

RN

João Pedro Freire disse...

É óbvio que a direcção do PS "não trai" quem votou no BE e no PCP. A direcção do PS esquece é que a maioria social de esquerda, traduzida parlamentarmente nas representações do PS, do PCP e do BE tem um significado quando são a maioria na Assembleia da Republica. Quando há essa maioria, isso quer dizer que OBJECTIVAMENTE há uma rejeição de políticas de direita. Ora quando um governo PS envereda por caminhos de liberalização das leis do trabalho, quando aposta em gestão privada, quando privatiza, quando dialoga mais com os patrões do que com os trabalhadores, ... , quando isso acontece - como aconteceu! - então há uma clara traição em relação às aspirações da maioria social de esquerda e um esquecer da própria base social de apoio do PS.
João Pedro Freire (Tribuna Socialista)