sexta-feira, 31 de julho de 2009

Sondagem - esvaziar um empate


Acabo de ler no site do DN um texto sobre uma sondagem recente que abaixo transcrevo:


"A distância entre os dois principais partidos nas sondagens é cada vez menor, mas ambos estão a perder potenciais votos e o número de indecisos é cada vez maior. Um estudo da Eurosondagem dá 33% aos socialistas e 31 aos sociais-democratas.
Estes valores representam um empate técnico, pois a margem de erro máxima da sondagem, realizada para a SIC, Expresso e Rádio Renascença, é de 3,04%. Há um mês, outra sondagem da mesma empresa dava 35,1% ao PS e 33% ao PSD, ou seja, ambos perderam cerca de dois por cento de intenções de voto.
À queda do Bloco Central corresponde uma subida do Bloco de Esquerda (10%, mais 0,4) e do CDS-PP (8,5%, mais 1,1). A CDU caiu (9,4%, menos 0,3)."


Continuamos enfiados num alegado empate técnico com uma vantagem ligeira para o PS. É o meu empate preferido: o que dá vantagem ao PS. Mas não deixa de ser empate, conquanto apenas técnico. No mês anterior, a posição relativa dos dois partidos era a mesma, embora num patamar dois por cento acima. Mais indecisos, diz-se.


Os analistas correntes dirão: aumenta a probabilidade de um resultado final que reproduza esta paisagem, ou seja, uma ligeira vantagem para um dos dois maiores partidos. Sem descartarem esta hipótese, analistas menos lineares alegam que o aumento da indecisão pode apontar noutra direcção: o eleitorado apresta-se para pender para um lado ou para o outro. Por isso, qualquer dos dois partidos pode ainda vir a ter uma vitória ou uma derrota folgadas.


Verifica-se que o conjunto BE/CDU continua instalado em torno dos 20%. E, por outro lado, a subida do PP ao corresponder praticamente à descida do PSD, faz permanecer a direita, no seu todo, à volta dos 40%, patamar onde chegou nas eleições europeias e onde tem estado estacionada.


Razão suficiente para que o PS clarifique, desde já, a sua posição para o caso de a direita ficar abaixo da maioria absoluta, sendo embora o PSD o partido mais votado. E essa posição só pode ser uma: o PS rejeitará qualquer governo de direita, seja ele de um ou de dois partidos. Rejeitará, sublinho; ou seja, não o deixará passar.


Depois, deve desafiar o BE e o PCP a dizerem, desde já, o que farão nessa hipótese. Se o seguirem, mesmo que o PSD seja o partido mais votado, desde que somado ao PP não chegue à maioria absoluta, o Presidente da República deixará de ter legitimidade política para poder nomear um governo minoritário de direita, já que está prévia e publicamente anunciada a sua rejeição na Assembleia.


Se o PS fizer isto, deixará a Drª Ferreira Leite bem mais longe de qualquer sonho de poder e esvaziará a conspiração que, pouco a pouco, se está a tecer à sua volta, no sentido de, se for preciso, o atrairem para a armadilha fatal de se deixar converter numa muleta parlamentar de um governo de direita, constituído pelos que há anos o têm vindo a insultar dia após dia e a combatê-lo pelos mais sujos meios.


Dir-se-á que essa posição tem a desvantagem de implicar que o PS admita que pode não ser o partido mais votado. A isso respondo: a luta política não é um campeonato de futebol e o leader de um partido não é um treinador que tenha que dizer sempre que vai ganhar. Comentar honestamente os vários cenários pós-eleitorais não pode ser encarado como um risco de perder eleitores. Pelo contrário, ser transparente quanto àquilo que pensa fazer, em cada circunstância, é uma obrigação cívica de todos os partidos.


E seguramente que tudo ficaria mais claro. Os eleitores ficariam a dispor de um cenário completo. Depois das eleições as pressões deixariam de fazer sentido. Todos ficariam a saber que o PS seria governo se os eleitores lhe dessem maioria e que se oporia a qualquer governo de direita. Quanto à hipótese de a direita ser minoritária, sendo embora o PSD o partido mais votado, não podendo este formar governo no cenário que defendemos, a possibilidade de ser o PS a formar governo dependeria do Presidente da República e dos outros partidos, devendo o PS estar disponível para essa hipótese mediante um conjunto de condições políticas que certamente poria.


Não fazer isto, é dar campo de manobra aos adeptos do pantanoso bloco central, é atrair sobre si a sofreguidão de todas as pressões, é despediçar uma oportunidade efctiva de recuperar uma parte do apoio eleitoral que se perdeu dentro da esquerda. E, não o esqueçamos, é correr o risco de, num eventual cenário pós-eleitoral ambíguo, trazer para dento do PS o "olho do furacão".

10 comentários:

andrepereira disse...

Se o PS ganhar, como espero, deve formar Governo minoritário. Se for bom e competente o PSD não o poderá deixar cair, sob pena de ser penalizado.

Anónimo disse...

As análises candidas deste jovem André comovem me.

gui castro felga disse...

grande texto, rui.

1: (o que eu tenho medo é que o eng socrates prefira deixar cair uma maioria relativa para pedir novas eleições e novo absolutismo.)

2: eu adoro maiorias relativas. melhor ainda se vocês empatarem e nós desempatarmos. =)

3:já viste que de acordo com essa sondagem, só votariam, em termos brutos, três vezes mais pessoas no PS do que no BE ? não é incrível, em 10 anos?

4.as maiorias absolutas deviam ser proibidas na constituição...

RN disse...

1. O teu comentário não é compatível com a recusa do BE, pela voz do Louçã, de fazer qualquer aliança de Governo com o PS.

2. A minha impressão é a de que o BE e o PCP se meteram num beco sem saída política, dentro do qual procuram agora mover-se com toda a frescura e com todo o rigor.
O problema é que tudo o que eles disserem e fizerem dentro de um beco sem saída não o transforma numa rua com saída.

gui castro felga disse...

=)

... quando o partido socialista for socialista, o BE, espero eu, aceitará alianças.

mas enquanto o PS fizer a apologia do modelo economico neo-liberal e de uma social-democracia 'assim-assim', tão parecido com a direita a que se diz opor... é parte do problema a ultrapassar...

beijinho

RN disse...

1. Numa negociação política, o ponto de partida é reconhecer ao "outro" o direito e a legitimidade de ser outro.

2. Que dirias se eu dissesse: "Quando o BE deixar de ser de um "esquerdismo infantil" e passar a ser de esquerda, então o PS pode negociar com ele."

3. Por outro lado, nunca esquecer: invialbilizar o poder do PS, na actual conjuntura, é dá-lo à direita. E dar o poder à direita é agravar tudo aquilo que se acusa o PS de fazer. Ou seja, a política não é uma despreocupada conversa de café, ao fim da qual vamos todos para casa dormir calmamente, fortes da razão que cada um julga ter. A política põe em causa a vida de milhões de pessoas.

gui castro felga disse...

da responsabilidade política, perguntinhas ingénuas da esquerda infantil (e que cresça mas que nunca envelheça):

- então se um dos objectivos do programa PS passou a ser o fim dos recibos verdes na função publica, o que significa que já percebem que o mesmo sistema é um viveiro de exploração laboral e um PROBLEMA a resolver, que 'ata' a vida à minha geração, porque não o fim dos mesmos, em geral??

- se há falta de dinheiro para fazer reformas e revoluçoes sérias, económicas, sociais, etc, porque não assumir seriamente a taxação da 'economia paralela' financeira? parece-te normal que o meu trabalho seja taxado como é, quase pela metade, mas se eu ganhar dinheiro pela multiplicação mágica de números na bolsa expeculativa, isso seja 'dinheiro limpo'?

- não achas que responsabilidade seria os partidos políticos respeitarem os sufrágios eleitorais e aceitarem, caso seja o caso e assim parece, a julgar por esta sondagem, trabalhar em conjunto com os demais partidos e governar em maioria relativa, menos arrogantes e cheios de razão?

RN disse...

1. O PS não pode ser responsabilizado pela recusa dos outros partidos em colaborarem com ele.

2. Cada medida pode ser discutida em si própria, mas isso pode não ser suficiente para a avliar com rigor.

3. O problema dos recibos verdes não se resolve apenas pela via administrativa. A questão está em atingir uma sociedade em que os recibos verdes, tal como existem, nem sejam possíveis, nem necessários.

4. Não se pode censurar o Governo por dar o mau exemplo de passar falsos recibos verdes e continuar a censurá-lo por corrigir esse erro.

5. É pelo facto de a economia ser paralela que o Estado a não consegue tributar.
Se entre os cérebros do BE algum decobriu o remédio que extinga a economia paralela, num abrir e fechar de olhos, que o anuncie, já que ganhará seguramente algum "Prémio Nobel".

gui castro felga disse...

o que eu chamava 'economia paralela' era a 'economia especulativa' da troca de capitais, em bolsa, por exemplo...

... e eu acho muito bem e bato palmas para que acabem os recibos verdes na função pública. fico é à espera que ilegalizem também a restante exploração - se foi 'criada por decreto', pode, sim, acabar da mesma forma.

beijinho
gui

RN disse...

Alguns dos aleijões da nossa sociedade são inerentes ao capitalismo. Podem ser episodicamente atenuados, mas só se pode esperar que desapareçam quando tivermos ultrapassado a causa que os suscita.

E o capitalismo não se extingue por decreto. E não se supera de qualquer maneira.

Durante mais de meio século uma grande parte da humanidade julgou ter saído do capitalismo em definitvo e afinal apenas enveredara por um atalho para lado nenhum. O modelo soviético desmoronou-se e o comunismo chinês tornou-se num capitalismo esquisito.