Em 2012, no dia em que a Académica ganhou a Taça pela segunda vez, escrevi o poema que abaixo reproduzo.
Difundi-o então no meu blog O Grande Zoo. No final de 2021, publiquei na Editora Lápis de Memórias, o meu livro de poemas mais recente. "A cidade do Tempo" é uma ressonância poética de Coimbra. Nele incluí o poema que hoje transcrevo.
Hoje, que a Académica atravessa uma grande tempestade de infortúnio é indispensável uma verdadeira respiração do futuro. Com verdadeira grandeza; com imaginação e ousadia.
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-em 2012
O jogo começou
há longos anos,
quando
ganhámos a primeira vez.
Em maio de mil
novecentos e sessenta e nove,
julgou-se
que tínhamos perdido.
Cinco anos
depois viu-se que não,
porque somos
de um outro campeonato.
Foi talvez,
por isso, que ganhámos
neste ano já
de um outro século,
como se tudo
tivesse começado.
E, no entanto,
o jogo continua.
Há sempre um
novo jogo a começar:
entram em
campo todas as memórias.
Mas também a
saudade e a alegria.
As capas são
os ventos que não param.
Os ventos que
são anos e são vida.
Há golos para
todas as balizas.
O Bentes virá
sempre pela esquerda.
No último
minuto, o Artur Jorge
Há de marcar o
golo de uma vida.
Ia ser golo já
sem remissão,
mas o Capela
voou mais que o possível
e a bola não
entrou.
E hoje, quando
a festa começou,
já o leão
rugia rudemente;
a bola
insidiosa veio da esquerda,
procurou a
cabeça do Marinho
e o golpe foi
desferido e foi mortal. .
Vamos entrar
em campo novamente,
sabendo que a
Briosa a entrar em campo,
é sempre muito
mais do que ali está.
Cada golo é
sempre mais que um golo:
milhares em
todo o mundo vão marcá-lo.
Cada vitória é
mais que uma vitória:
milhares em
todo o mundo vão erguer-se,
num gesto de
alegria.
E quando os
onze perdem nunca perdem,
porque a
Académica ganha moralmente.
E se, apesar
de tudo, ainda perderem,
os onze sempre
sabem que jamais
irão perder
sozinhos.
O sonho estará
sempre ao lado deles
e há sempre um
outro jogo para ganhar.
Ganhámos esta
taça.
Na praça da
saudade estão connosco
os que
partiram antes de a ganhar.
Vai haver nas
ruas de Coimbra
um fraterno Mondego
de pessoas,
um clamor de
alegrias.
E se nas
largas ruas da vitória
se abrir
alguma porta de silêncio,
não estranhem,
são aqueles
que partiram,
fazendo
recordar a sua ausência.
O que hoje
entrou em campo foi a lenda
e o mito de
uma eterna juventude.
Briosa é nome
de uma caravela,
mas o vento
que a leva só é vento
de quem saiba
sonhar sem desistir.
Por isso, se
percebe com clareza
que nós somos
de um outro campeonato.
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