segunda-feira, 18 de abril de 2022

Ganhámos a taça!

 Em 2012, no dia em que a Académica ganhou a Taça pela segunda vez, escrevi o poema que abaixo reproduzo.



 Difundi-o então no meu blog  O Grande Zoo. No final de 2021, publiquei na Editora Lápis de Memórias, o meu livro de poemas mais recente. "A cidade do Tempo" é uma ressonância poética de Coimbra. Nele incluí o poema que hoje transcrevo.

Hoje, que a Académica atravessa uma grande tempestade de infortúnio é indispensável uma verdadeira respiração do futuro. Com verdadeira grandeza; com imaginação e ousadia.

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Ganhámos a taça!

          -em 2012

O jogo começou há longos anos,

quando ganhámos a primeira vez.

Em maio de mil novecentos e sessenta e nove,

julgou-se que tínhamos perdido.

Cinco anos depois viu-se que não,

porque somos de um outro campeonato.

Foi talvez, por isso, que ganhámos

neste ano já de um outro século,

como se tudo tivesse começado.

 

E, no entanto, o jogo continua.

Há sempre um novo jogo a começar:

entram em campo todas as memórias.

Mas também a saudade e a alegria.

As capas são os ventos que não param.

Os ventos que são anos e são  vida.

Há golos para todas as  balizas.

O Bentes virá sempre pela esquerda.

No último minuto, o Artur Jorge

Há de marcar o golo de uma vida.

Ia ser golo já sem remissão,

mas o Capela  voou mais que o possível

e a bola não entrou.

E hoje, quando a festa começou,

já o leão rugia rudemente;  

a bola insidiosa veio da esquerda,

procurou a cabeça do Marinho

e o golpe foi desferido e foi mortal. .

 

Vamos entrar em campo novamente,

sabendo que a Briosa a entrar em campo,

é sempre muito mais do que ali está.

Cada golo é sempre  mais que um golo:

milhares em todo o mundo vão marcá-lo.

Cada vitória é mais que uma vitória:

milhares em todo o mundo vão erguer-se,

num gesto de alegria.

E quando os onze perdem nunca perdem,

porque a Académica ganha moralmente.

E se, apesar de tudo, ainda perderem,

os onze sempre sabem que jamais 

irão perder sozinhos.

O sonho estará sempre ao lado deles

e há sempre um outro jogo para ganhar.

 

Ganhámos esta taça.

Na praça da saudade estão connosco

os que partiram antes de a ganhar.

Vai haver nas ruas de Coimbra

um fraterno Mondego de pessoas,

um clamor de alegrias.

E se nas largas ruas da vitória

se abrir alguma porta de silêncio,

não estranhem,

são aqueles que partiram,

fazendo recordar a sua ausência.

 

O que hoje entrou em campo foi a lenda

e o mito de uma eterna juventude.

Briosa é nome de uma caravela,

mas o vento que a leva só é vento

de quem saiba sonhar sem desistir.

 

Por isso, se percebe com clareza

que nós somos de um outro campeonato.

 

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