O jogo começou há longos anos,
quando ganhámos a primeira vez.
Em maio de mil novecentos e sessenta e
nove,
julgou-se que tínhamos perdido.
Cinco anos depois viu-se que não,
porque somos de um outro campeonato.
Foi talvez, por isso, que ganhámos
neste ano já de um outro século,
como se tudo tivesse começado.
E, no entanto, o jogo continua.
Há sempre um novo jogo a começar:
entram em campo todas as memórias.
Mas também a saudade e a alegria.
As capas são os ventos que não param.
Os vento que são anos e são vida.
Há golos para todas as balizas.
O Bentes virá sempre pela esquerda.
No último minuto, o Artur Jorge
há-de marcar o golo de uma vida.
Ia ser golo já sem remissão,
mas Capela voou mais que o
possível
e a bola não entrou.
E hoje, quando a festa começou,
já o leão rugia rudemente;
a bola insidiosa veio da esquerda,
procurou a cabeça do Marinho
e o golpe foi desferido e foi mortal. .
Vamos entrar em campo novamente,
sabendo que a Briosa a entrar em campo,
é sempre muito mais do que ali está.
Cada golo é sempre mais que um golo:
milhares em todo o mundo vão marcá-lo.
Cada vitória é mais que uma vitória:
milhares em todo o mundo vão erguer-se,
num gesto de alegria.
E quando os onze perdem nunca perdem,
porque a Académica ganha moralmente.
E se, apesar de tudo, ainda perderem,
os onze sempre sabem que jamais
irão
perder sozinhos.
O sonho estará sempre ao lado deles
e há sempre um outro jogo para ganhar.
Ganhámos esta taça.
Na praça da saudade estão connosco
os
que partiram antes de a ganhar.
Vai haver nas ruas de Coimbra
um fraterno Mondego de pessoas,
um clamor de alegrias.
E se nas largas ruas da vitória
se abrir alguma porta de silêncio,
não estranhem,
são aqueles que partiram,
fazendo recordar a sua ausência.
O que hoje entrou em campo foi a lenda
e o mito de uma eterna juventude.
Briosa é nome de uma caravela,
mas o vento que a leva só é vento
de quem saiba sonhar sem desistir.
Por isso, se percebe com clareza
que nós somos de um outro campeonato.
[Rui Namorado]
1 comentário:
Belo, belo poema!
Obrigado Rui Namorado
Ontem só me saiu um mail que enviei a muita gente com um título:
Permitam-me este grito guardado há 43 anos! ACADÉMICA!
Um abraço
José Veloso
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