domingo, 17 de outubro de 2021

O TRANSCENDENTE RANGEL E A LUZ

 


O transcendente Rangel e a luz.

O transcendente Rangel acendeu-se como um pirilampo mágico na alegada escuridão lusitana, tendo começado por transformar num discreto ribeiro o frondoso rio que afirmava sonhar que ganhou politicamente as eleições que perdeu. 

Antes de se ocupar generosamente de nos salvar a todos, não sabemos bem de que desgraças, propôs-se estancar sem piedade um espantado ribeiro. Não o deixando trovejar a sua imaginária vitória autárquica, confronto-o com uma refrega dramática que teve o país suspenso: as primárias do PSD eram ou não eram adiadas?

Os conselheiros espremeram rudemente as suas agitadas  mentes e deram ao transcendente Rangel um inesperado presente : não eram! O transcendente transcendeu-se ainda mais e ganhou um novo suplemento de alma, quando num esforço arqueológico reuniu apoios de velhas glórias de pretéritos desastres governamentais do PSD.

Concedendo subir à varanda da História, deu–nos a chave mágica das glórias futuras que nos oferecia e da fácil planície que nos levaria a percorrer. Desde logo ele prometeu oferecer-nos um elevador social que permitiria aos portugueses submetidos a um excesso de agruras, por uma sociedade desigual e injusta, que subissem na vida rumo à felicidade e ao sucesso. 

Os oráculos gregos esfregaram os olhos estremunhados perante a chegada abrupta de um novo colega capaz de inventar tão luminoso futuro. É certo que alguns deles se atreveram a estranhar que um tão forte defensor de um Estado fraco pedisse as rédeas do poder para dar corpo a um desígnio político tão intenso. Rangel acenava glorioso com a promessa de tornar o Estado paralítico para depois correr com ele os cento e dez metros obstáculos ─ um espanto.

 Alguns entre os mais céticos ainda perguntaram: “ Mas não seria melhor pensar um futuro em que não fosse necessário um elevador social por ninguém precisar de o subir?” Outros, mais presos a um presente que justamente  não suportam, acumulando-se desde já à porta do prenunciado elevador perguntam em uníssono : “Subimos todos?”

Embalado na ascensão irresistível, o transcendente deu mais um passo decisivo.  Como sinal de robustez do seu desígnio de subida, anunciou a sua ideia salvífica e decisiva de oxigenação da esfera pública: logo que lhe fossem dadas as rédeas internas do poder no PSD, sem mais delongas ele arrastaria os outros partidos na Assembleia da República para alimentarem atordoadamente o seu desígnio naturalmente transcendente. Os debates com o Governo deixariam de ser mensais e voltariam a  ser quinzenais. Os politólogos mais exigentes estremeceram de espanto, perante tão luminosa inovação político-institucional. A ciência política abriu a sua exigente porta e acolheu desvanecida este assomo de criatividade: Debates quinzenais!

Esta é a história que conta como o transcendente Rangel se acendeu como um pirilampo mágico na alegada escuridão lusitana.

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