sábado, 9 de janeiro de 2021

BRANQUEAMENTO DOS NEOFASCISTAS

 


BRANQUEAMENTO DOS NEOFASCISTAS

 

Há dias mencionei um episódio de objetivo branqueamento do Chega, quando um órgão de comunicação da direita radical, para fazer contraponto ao PS, inventou uma categoria política estranha a “direita junta”, onde meteu o PSD, o CDS, a IL e o Chega. Categoria estranha porque mete no mesmo saco, como se isso fosse natural, três partidos democráticos e um partido neofascista.

Posteriormente, o JN (o jornal que leio mais frequentemente) cometeu uma proeza idêntica, quando, num comentário a uma sondagem que difundiu, resolveu repartir a parte direita do espetro político em duas categorias , a “velha direita” e a “nova direita”. Na primeira, colocou o PSD e o CDS, na segunda, a IL e o Chega. Mencionou a “velha” a descer e a “nova” a subir, como se fossem fungíveis, sublinhando que essa subida era obra do último. 

Através dessas categorias neutras anulou-se a identidade política de todos os abrangidos e banalizou-se por completo a aliança entre a direita democrática e os neofascistas, como se a diferença entre elas fosse uma mera questão programática.

Qualquer branqueamento político da natureza neofascista do Chega  é um auxílio objetivo a esse partido, como aliás se pode ver se atentarmos no modo como ele reivindica desde já diversos ministérios num futuro governo que apoie. E um arranhão na democracia.

Aliás, o  rosto mais mediático do Chega, embora conteste essa qualificação no plano formal, absorve-lhe por completo o conteúdo. E no decurso dos debates presidenciais ouvi-o por duas vezes rejeitar em bloco  as políticas seguidas nos últimos 46 anos. O que significa deixar de fora da sua rejeição o anterior regime fascista e meter dentro de um mesmo saco repudiado todos os governos do PSD. Apesar de ele ser dirigente do PSD quando era governo e seu candidato à Câmara de Loures em 2017. E apesar de querer ser ministro de um futuro governo do PSD. Radical contra o 25 de abril, manso se for essa a condição para ser ministro. Como se pode deduzir da rejeição desses 46 anos de democracia estamos perante um Chega de democracia, regresse o salazarismo.Ou haverá outro sentido a atribuir a essa posição ?

Acho estranho que os  que se lhe opuseram nesses debates tenham dado atenção a  aspectos parcelares  ainda que relevantes e tenham esquecido essa implícita  confissão de simpatia pelo fascismo salazarista. 

Em sentido idêntico, tenho ouvido  referir, como se isso fosse uma atenuante ao seu neofascismo , o facto de expressamente defender   um neoliberalismo económico radical.

Ora, isso é a fiel reprodução  do que foi a governação de Pinochet no Chile, o que  é afinal um outro vergonhosos parentesco. Espanta-me aliás que os seus adversários insistam na denúncia, ainda que justa do seu ódio aos ciganos, em especial, e aos excluídos, em geral; e deixem passar em claro a evidência de que o seu verdadeiro modelo de governação é o Chile de Pinochet.

Os branqueadores do neofascismo  podem discutir  se AV e o seu Chega são fascistas, salazaristas ou pinochetistas, mas nunca conseguirão demonstrar que ele nada tem a ver com nenhuma dessas posições políticas, se alegarem que elas diferem entre si.

Os aleijões sociais inerentes ao capitalismo e a desistência de os superar são um terreno fértil para fenómenos de desespero e irracionalidade colectivos, mas não são a causa única para a emergência de respostas politicas neofascistas. Não são fator um único, precisando de protagonistas e de cumplicidades No caso português, sem menosprezar o auto encurralamento que as direitas democráticas estão a cometer contra si próprias, a grande comunicação social tem contribuído muito para a banalização do neofascismos mesmo que se desdobre em tomadas de posição que digam o contrário.

Os dois casos acima mencionados são exemplos disso.

1 comentário:

José Teles disse...

Muito bom, Rui. Bem visto, factual, indisputável, precioso. Andamos todos muito distraídos.