terça-feira, 27 de outubro de 2020

Uma lição do povo boliviano

Na Bolívia, no último trimestre de 2019, um golpe de Estado desencadeado pela direita e pela extrema direita e materializado pelas polícias e pelas forças armadas, interrompeu o processo eleitoral, cuja primeira volta havia já decorrido, tendo derrubado o Presidente Evo Morales que havia concorrido a essas eleições e vencera a primeira volta.

  Os futuros golpistas não questionaram que ele tivesse obtido o maior número de votos, mas apenas que tivesse ganho a primeira volta com a margem suficiente para ser considerado vencedor sem ser obrigado a disputar uma segunda volta. A demora na difusão dos resultados e as oscilações nos que foram surgindo foram usadas como pretexto para que a direita e a extrema-direita instalassem o caos nas ruas, perante a complacência das polícias e dos militares que rapidamente se converteu em apoio e cumplicidade.

  O golpe de Estado nem sequer consentiu na realização da segunda volta das eleições, traduzindo-se em obrigar Morales a deixar o poder e em dissolver os órgãos políticos legítimos. Apenas foi conservado o poder político das minorias de direita na Câmara e no Senado, sendo instalada na chefia do Estado uma senadora de extrema-direita pertencente a uma pequena minoria. Sucederam-se tempos de revolta popular reprimida com violência.

Os regimes conservadores e direitista da América latina fizeram coro contra Morales e legitimaram o golpe. A OEA foi cúmplice. A União Europeia consentiu molemente no golpe de estado, numa atitude de ambígua hipocrisia. Na Bolívia esqueceu-se de agir com o mesmo critério que tem usado na Venezuela.

Recentemente, uma insuspeita instância internacional tornou público que afinal não detetara a real existência de irregularidades no processo eleitoral de 2019. As tais irregularidades que foram alegadas como pretexto para o golpe de estado. Os golpistas e seus patronos internacionais ainda conseguiram exilar Morales e o seu vice-presidente, anular as eleições e proceder a uma guinada àa direita da política boliviana. Não conseguiram evitá-las.

Decorreram há poucos dias, já durante este mês de outubro. O MAS ( Movimento para o Socialismo) apresentou como candidato Luis Arce ex-ministro da Economia de Morales durante os seus vários mandatos. Apresentou candidatos nas eleições parlamentares. Este candidato foi eleito à 1ª volta com mais de 55% dos votos, superando largamente os 47% de votos que Morales havia alcançado no ano anterior na 1ª volta das eleições anuladas. O candidato da direita ficou muito longe e o da extrema-direita ficou-se por um terceiro lugar inexpressivo. O MAS dispõe por si só de maioria parlamentar.

 Em breve, a democracia será restabelecida na Bolívia, para vergonha dos que tentaram afogá-la em 2019 e dos que como a União Europeia foram cúmplices dissimulados do golpe.

Este gráfico mostra os resultados das eleições da semana passada. A azul está a posição do do candidato do MAS, a castanho do candidato da direita e a roxo o candidato da extrema direita.

1 comentário:

Unknown disse...

Excelente, Rui.
É bem importante relembrar as ambiguidades de certos "democratas e democracias"

Forte abraço
José Veloso