A propósito da atual crispação política
no seio das esquerdas, escrevi hoje no FB estes dois textos. O segundo responde
a alguns comentários feitos ao primeiro.
1. As esquerdas têm as suas razões.
Batem-se entre si por elas com coerência. Sorvem-nas até ao fim com coerência.
Grande coerência mesmo em problemas pequenos. Será essa coerência suficiente
para derrubar o atual governo que todas elas apoiam? Ninguém sabe.
Duas delas foram apoiadas pelas direitas
contra a outra e o governo. Grande generosidade? Talvez. Mas também pode
acontecer que não seja uma ajuda das direitas, mas um empurrão. Para o abismo?
Cansar-se-ão os eleitores de esquerda de
votar nos seus partidos? Talvez. Se assim for as direitas agradecerão a boleia
e chegarão sem esforço ao poder.
Há casos em que uma fidelidade basáltica
a pequenas razões faz perder a razão. Será este o caso? Talvez . Mas mesmo que
não cheguem a perder a razão, se continuarem intransigentes, perderão
certamente o poder.
E quando festejarem a vitória as direitas unidas hão de olhar para as
esquerdas desunidas, mas fiéis ás suas razões mesmo pequenas e rir-se-ão delas.
Merecidamente…
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2. A
diversidade dentro da esquerda implica que cada uma das suas partes encare as
outras como protagonistas de opiniões diferentes, sem por isso as diabolizar.
Diferenças, mas não anátemas mútuos Só assim as ações conjuntas podem ter
consistência e perenidade. Só assim se pode construir um bloco social amplo que
dê suporte a verdadeiras mudanças sociais. As crispações atuais são o contrário
de tudo isso. E se eu estou convencido que a intenção subjacente de quem votou
em conjunto com a direita uma solução que o governo alega ser incomportável não
era o derrube do Governo, a verdade é que no domínio das possibilidades
objetivas isso pode acontecer. Se assim for politicamente constituiu-se uma
nova maioria integrada pelos partidos que se uniram contra o atual governo .Quererão
os partidos que a integram dar suporte a uma solução governamental alternativa
á atual? Não me parece. Mas nesse caso estarão apenas a dar força a uma
alternativa ao governo atual protagonizada apenas pelos partidos de direita que
votaram contra o atual governo neste caso. Ficarão os professores beneficiados
com essa mudança de governo ? Ficarão os eleitores desses partidos satisfeitos
com essa mudança? Ficará o povo português em melhores mãos? Se os protagonistas
em causa não ponderaram estas questões ou são irresponsáveis ou são políticos
amadores. É que como escreveu BOSSUET: " Não há pior desregramento do espírito do que tomar a realidade por aquilo que gostaríamos que ela fosse."
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