quarta-feira, 6 de junho de 2012

NADA MENOS DO QUE TODA A VERDADE


Uma neblina insalubre de suspeição tem vindo a rondar o PS, fazendo-o confundir com um ps em letra pequena, aparentemente protagonizado por jovens turcos com jeito para os negócios, uma pequena prótese desprestigiante que, no entanto, nos atinge no coração da nossa credibilidade política e de uma ética que devia ser natural e quotidiana. Uma pequena prótese é certo, mas talvez demasiado próxima, por vezes, de núcleos de poder político-partidário, dos quais deveria ter sido colocada bem longe.

É bem verdade que os que caiem agora sobre o PS como mastins de virtude são veludos de esquecimento, quando a suspeição recai em gente de outros quadrante políticos. Se, apesar disso, tiverem razão quanto às irregularidades que apontam, não é a sua parcialidade que diminui a censurabilidade dos comportamentos que denunciam. Por isso, também o PS só pode exigir que todos os factos sejam apurados, para que se verifique se houve erros, se mais do que erros houve irregularidades, se mais do que irregularidades houve crimes. Que se apurem os factos com celeridade, todos os factos, que se tirem deles todas as consequências jurídicas, todas as consequências sancionatórias que no quadro do nosso Estado de direito devam ser tiradas.

No entanto, para além desta perspectiva não devemos, sem prévia análise, descartar a hipótese dessas acusações serem suscitadas por uma insuficiente capacidade técnico-analítica dos acusadores. Por isso, é urgente que o PS crie internamente uma comissão de peritos que reanalise, com todo o rigor, tudo o que teve a ver com as parcerias publico privadas, começando por analisar as que estão agora no centro do debate público, com imputação de culpas a governos do PS pelo modo como as negociaram. As conclusões dessa peritagem devem ser tornadas públicas e delas devem ser tiradas consequências políticas internas, se for caso disso.

É imperativo que todo o PS garanta o máximo de cooperação e o máximo de empenhamento próprio no apuramento completo de tudo o que envolve as PPP em causa. Menos que isso, é eticamente inaceitável e politicamente suicida.

Mas esse intransigente rigor não pode funcionar apenas quanto ao que diz respeito ao próprio PS. Temos que ser também exigentes para com os outros, para com os nossos adversários, quanto a tudo o que envolva a hipótese de eles estarem envolvidos na prática de irregularidades ou de crimes, em atropelos da legalidade ou da ética política.

É certo que a nuvem de poluição oriunda das PPP parece uma oportuna encomenda destinada a desviar as atenções do aflito ministro Relvas, para fazer esquecer a enorme montanha de promiscuidades que se perfila no horizonte, misturando o actual governo, as secretas e os negócios, numa ressurreição de uma atmosfera pidesca que arrepia. Por isso mesmo, é urgente saber-se com objectividade o que há de verdadeiro em toda esta neblina insalubre. Conhecer a verdade para dela tirar em todos os planos as consequências jurídicas e políticas inerentes ao funcionamento de um estado de Direito democrático. Quanto ao PS, mas também quanto aos partidos que suportam o actual governo.

Não esqueçamos: não se trata apenas da habitual esgrima política em cada um se procura limpar e sujar o outro. Trata-se da exigência para com o nosso lado, mas também para com o outro, de desembaraçar a nossa democracia de uma atmosfera corrosiva que só pode debilitá-la. Por isso, nesta circunstância a actual direcção do PS tem pela frente no imediato  uma enorme exigência da qual não tem como escapar. É essencial para a nossa democracia que esteja  realmente à altura do que as circunstâncias lhe impõem.

2 comentários:

antonio miguel disse...

"Por isso, é urgente que o PS crie internamente uma comissão de peritos que reanalise, com todo o rigor, tudo o que teve a ver com as parcerias publico privadas, começando por analisar as que estão agora no centro do debate público, com imputação de culpas a governos do PS pelo modo como as negociaram. As conclusões dessa peritagem devem ser tornadas públicas e delas devem ser tiradas consequências políticas internas, se for caso disso."
Obrigado Rui pelo teu escrito e pelos demais que vais publicando. Que a voz e as mãos não te doam.
O PS que queremos tem que ser o PS que imaginamos onde o oportunismo, o chico-espertismo, a corrupção, a incompetência, o caciquismo, a irresponsabilidade, os camaliões e o medo não podem ter lugar.

Anónimo disse...

É, eu também aceito como principio a descoberta de toda a verdade...Também aceito que todos sejam levados à Barra de Tribunal Popular, bem dito,Tribunal Popular, em que os Juizos sejam capazes de julgar fora das formais cantilenas juridicas ditas de Direito.

Já estamos fartos de ver crimes, casos torbulentos, passarem em branco, por prescrição.

É que as leis últimas aprovadas no Parlamento, Casa da Democracia, «são obra das forças dominantes» E assim lá se vai o desejo de uma democracia aberta tal qual Antero e Outros Revolucionários do século XIX tudo fizeram para que este nosso Povo vivesse em Liberdade de Liberdades.
Com a devida vénia de "O Catraio"