quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Sobre as Universidades



Vou transcrever um texto sobre a Universidade, que hoje me foi mostrado pelo João Clímaco.


Um grande escritor sul-africano, J.M.Coetzee, Prémio Nobel da Literatura, em 2003, foi quem o escreveu.


Em Portugal, as Universidades públicas têm vindo a ser sufocadas financeiramente, ao mesmo tempo que, possuídos por uma sanha salvífica, alguns reformadores iluminados naufragam lentamente nos problemas que vão criando. Mas com eles naufraga a própria Univerisdade. O texto , por isso, também se lhes aplica. Ei-lo:


Sobre as Universidades


"Constituiu sempre uma mentírola que as universidades fossem instituições com autonomia. Não obstante, o que as universidades sofreram nas décadas de 1980 e 1990 foi bastante vergonhoso, porque, sob a ameaça de verem-lhes cortados os orçamentos, se permitiram ser transformadas em empresas comerciais, nas quais os professores que anteriormente faziam as suas investigações em soberana liberdade se transformaram em empregados oprimidos obrigados a atingir quotas sob o escrutínio de gestores profissionais. É muito duvidoso que os antigos poderes do professorado alguma vez sejam restituídos.
Na época em que a Polónia se encontrava sob o regime comunista, havia dissidentes que davam aulas nocturnas em sua casa, que dirigiam seminários sobre escritores ou filósofos excluídos do cânone oficial (Platão, por exemplo). Não havia dinheiro a passar de umas mãos para outras, embora possa ter havido outras formas de pagamento. Para que o espírito da universidade sobreviva, pode ser preciso que surja qualquer coisa deste género nos países onde o ensino superior foi completamente subordinado aos princípios empresariais. Por outras palavras, a verdadeira universidade pode ter de se transferir para casa das pessoas e conferir licenciaturas cujo único apoio sejam os nomes dos académicos que assinam os certificados”

[J.M.Coetzee, in Diário de Um Mau Ano ]

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