Regresso
pardo do fantasma de Boliqueime
O fantasma de Boliqueime voltou, espumando uma raiva fria. O seu rosto foi assolado por
um ódio pardo, quase desregrado.
Na plateia laranja e chique pairava um cheiro acre a cavaquistão.
Montenegro, titubeante mas deleitado, hesitava em convencer-se que
estava a ser auxiliado pelo mago algarvio.
Houve então um conselho de urbanidade no debate político.
Mas o conselho sentiu-se perdido no
discurso do mestre. “O que é isto?” perguntou
assarapantado. “Que moleza é esta?” quase se indignou.
No entanto, foi o
próprio mago que lhe respondeu, fazendo-o perceber que a alegada
urbanidade era apenas um voto pied0so e descartável. E, para que tudo voltasse
ao normal, ele próprio mostrou como realmente devia ser a cartilha do PSD:
explodiu num discurso de desbragado ódio ao PS, ao seu Governo, a António
Costa. Sem nuances, sem reservas, sem excepções ─ um oráculo em fúria.
Um contraponto: o PS e os seus Governos foram e são o mal
absoluto; o PSD e os seus governos foram e garantem vir a ser o bem supremo. Equilíbrio,
imparcialidade e tolerância; forte sentido do ridículo…
Não hesitando em proclamar-se arcanjo do seu próprio céu, e em beatificar a memória de Durão, quebrando
o seu compromisso com os Portugueses após servir umas bicas aos senhores do
mundo que vieram a uma terra portuguesa fazer a dança da guerra; Santana dissipando-se; e
Passos na glória de querer ser pior que a “troika”.
Quanto ao PS, fulminou-o com um resumo das larachas rasteiras
da propaganda da direita, disparando-se num
festival de diatribes, com que admoestou severamente o povo português, censurando-o
indirectamente por lhe ter dado os seus votos há pouco mais de um ano. De facto,
o descavacado povo apesar de décadas de
experiências de convivência com os “diabos
cor de rosa” deu a um seu Governo um suporte maioritário que o pôs a coberto de
surpresas e traições parlamentares.
Na verdade, a democracia tem muito que penar até chegar aos
calcanhares da filosofia política iluminada do mago algarvio. Realmente votar é
um desporto ocioso; melhor seria pedir ao Senhor de Boliqueime a lista dos
ministros e um programa de governo e deixarmo-nos conduzir inebriados para o paraíso
caváquico. Lá CHEGARÃO: ( julgam eles!).
Por mim, permito-me um sorriso final: forte da sua consabida cultura poética, para deixar respirar um pouco a sua prosa cinzenta, não conseguiu recorrer a outro exemplo que não fosse uma leve e tosca evocação de Sofia, uma grande voz da poesia portuguesa que no seu tempo se sentou na bancada parlamentar do PS.
Embora espantadas, as musas sorriram. Mesmo na poesia, o comité laranja dos arcanjos prosaicos tem de se socorrer da tribo rosada dos sonhadores.
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