terça-feira, 4 de junho de 2019

MONTEPIO - as raposas andam por aí…







MONTEPIO

As raposas andam por aí…

Todos se recordam dos longos alaridos envolvendo o Montepio. Não está aqui em causa apurar em que medida havia críticas certeiras, em que medida se justificavam mudanças. Hoje, aqui, está apenas em causa sopesar a recordação dessas vicissitudes, à luz de uma notícia vinda hoje a público num jornal diário, dando conta de uma sofisticada estratégia de reconversão do Banco Montepio.

Banco que, mesmo separado organicamente da Associação Mutualista a que em exclusivo pertence, é ainda uma das três entidades bancárias portuguesas que subsistem entre nós; ao lado, da CGD e do grupo que congrega as Caixas de Crédito Agrícola Mútuo.

O que se anuncia é a separação do Banco Montepio do setor dos clientes mais importantes. Separa-se assim do todo uma parte especialmente rentável o que necessariamente prejudica o todo. Embora se alegue que o todo não é prejudicado pois é o único dono da parte, não deixa de se admitir  num sussurro que o capital desse Banco “filet mignon” possa ser aberto ao capital privado.

Tudo, alegadamente, respeitando a ordem jurídica vigente, tudo exprimindo a excelência de uma gestão bancária de fino recorte  banqueiro. E, no entanto, fica no ar um vago perfume de alarme, como se alguém estivesse apenas a dourar a intenção última e  perigosa da abrir a capoeira ao zelo suspeito das raposas.

Ora, sendo certo que podemos estar perante uma expressão transcendente de uma estratégia  de excelência  na gestão bancária, nada nos garante que afinal não estejamos apenas perante  uma espoliação ilegítima de uma associação mutualista. Uma espoliação  que leve a que os seus bens sejam capturados pelo capital financeiro privado, seja ele português, norte-americano, chinês ou colombiano.

E se o cenário mais pessimista se concretizasse, estaríamos perante um golpe muito mais profundo nos interesses dos seiscentos mil associados do Montepio do que aquele que teria tido  a soma de todas as malfeitorias propagandeadas nos últimos anos na comunicação social como tendo ocorrido dentro do universo Montepio, mesmo que todas elas fossem o espelho fiel da verdade. Desse modo, poderíamos até desconfiar, com alguma razão, que uma parte do alarido dos últimos anos à volta desse universo, tenha sido em parte promovido ou encorajado por protagonistas financeiros que querem apossar-se do negócio bancário do Montepio.

Assim, há duas coisas a dizer.
Primeira: seja qual for o labirinto jurídico inventado para dar uma aparência de legalidade à entrada do capital financeiro privado no Banco, que é propriedade exclusiva da Associação Mutualista Montepio,assim integrado nna economia social, essa operação é eticamente ilegítima, constitucionalmente duvidosa  e de questionável legalidade.
Segunda: julgo não atraiçoar o essencial das opiniões dos meus coassociados da Associação Mutualista Montepio se disser que, não transigindo nós naturalmente quanto a ilegalidades na gestão da nossa Associação e do seu banco, também não admitimos que nos espoliem enquanto associados, mesmo que o façam sob a capa de manobras de ilusionismo jurídico-financeiro.

Portanto, no mínimo, os seiscentos mil associados da Associação Mutualista Montepio merecem ( ou exigem?) ser consultados para que decidam se querem ou não que seja aberta a porta do seu Banco, direta ou indiretamente, às raposas financeiras que tão bem conhecemos.


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