quinta-feira, 18 de maio de 2017

UMA LIÇÃO BRASILEIRA





A "Caixa de Pandora" aberta pelos conspiradores que derrubaram Dilma e querem impedir Lula de disputar as presidenciais de 2018, não mostra sinais de poder ser fechada. A política antipopular do governo Temer, aliás,  mostra bem quem realmente são e o que querem os golpistas instalados no poder no Brasil.

O seu golpe foi uma operação sofisticada que começou longe e ainda está em curso. Não seguiu  o modelo de outros tempos: tanques nas ruas, polícia nas casas, militares no poder  e  povo nas prisões. Foi tecido com a participação de juízes e outros magistrados, de políticos, de polícias, de empresários e da grande comunicação social. Mas uma orquestra de indignidades, por mais subtil que seja,  não dispensa um maestro, um estado-maior competente  que meça os golpes a dar, que escolha os ritmos, que decida  as pausas, que doseie o ruído, que gradue  os estímulos que hão de encher as ruas. Era bem mais fácil no tempo dos militares: tudo  simples, brutal e linear. Para o comando bastavam alguns generais.

Mas com o novo tipo de golpe a história é outra. Vários tipos de protagonistas têm que ser coordenados, articulados, postos em sinergia. Falei numa orquestra, mas verdadeiramente são várias. Conjugá-las potencia a dificuldade que há  para reger cada uma delas.
Os maestros deveriam ser subtis e estar consonantes entre si.  

Ora, nós vimos ao vivo na televisão, quando se decidiu  o impeachment  de Dilma no Congresso brasileiro, que  noventa por cento dos seus membros, eram verdadeiras nulidades políticas. Eles seriam incapazes de reger sequer um conjunto de pífaros. A única coisa para que parecem habilitados é para dizerem meia-dúzia de alarvidades reaccionárias.

É o protagonismo de gente dessa que faz com que  hoje assistamos ao estrangular acelerado de um grande país. Uma clique de direita , politicamente  analfabeta e eticamente desqualificada dispara e foge em todas as direcções.  O processo golpista descarrilou. As hienas  que  protagonizaram o golpe mordem-se agora umas às outras.

Os chefes golpistas sentindo-se acossados  tendem a entre devorar-se. Os núncios atacam os mandantes. Os subalternos derrubam os chefes.  Os narradores já não sabem o que hão de narrar, de calar e de gritar. Os cães viram-se contra os donos.  A sinfonia golpista que se julgava  triunfante tornou-se num ruído insuportável de recriminações e renúncias.

Há uma lição brasileira que começa a ser esboçada: quem não sabe música não deve cantar ópera.

Sem comentários: