sexta-feira, 4 de julho de 2014

Ainda o PS e as coligações


Voltemos à questão das coligações como importante tema de debate, no quadro da atual campanha eleitoral em que o PS está envolvido.

Há duas maneiras de os militantes e simpatizantes entrarem nesta campanha. Escolherem um dos candidatos, apostando definitivamente nele, aconteça o que acontecer e diga ele o que disser. Ou subordinarem a sua preferência, seja qual for a sua intensidade, a um confronto constante entre aquilo que cada um de nós pense e aquilo que os candidatos forem revelando como eixos principais das suas opções. Esta segunda via parece-me mais saudável e mais fecunda. Obrigará cada candidato a ter em conta as opiniões dos militantes, não lhe permitindo que se limite a tentar obter o seu apoio sem realmente os ouvir. Mas pressionará cada um de nós no sentido de exteriorizarmos as nossas opiniões, em especial quanto aos assuntos mais relevantes.

Vem isto a propósito de um texto que foi ontem publicado no jornal I sobre as posições de António Costa quanto a coligações, da autoria da jornalista Ana Sá Lopes. Em conjugação com este texto, parece-me apropriado trazer à colação um excerto  de Vital Moreira publicado no seu blog Causa Nossa, em 1 de Julho passado: Perante a extensão e heterogeneidade dos apoios que vem somando a cada dia que passa, António Costa tem de cuidar em não se deixar condicionar nem identificar com nenhum deles, devendo recusar-se a aparecer como expressão de uma tendência ou de uma facção contra outra, desde logo pela transversalidade daqueles apoios, dentro e fora do PS.
Na geografia da disputa para a liderança do Partido, ele não deve deixar posicionar-se nem à esquerda nem à direita da actual direcção, mas sim acima dela. Perante os diversos "ismos" com que se costumam identificar as correntes e "sensibilidades" dentro do PS (soaristas, guterristas, ferristas, socratistas, etc.), ele deve protagonizar uma nova síntese mobilizadora, um novo mainstream, ou seja, o "costismo". “

Vital Moreira indica com clareza a via que preconiza para o PS e seria bom que Costa tivesse a mesma clareza, mesmo que no seu caso,  num acto de virtuosa modéstia, confessando embora a sua legítima aspiração em ficar “acima” da atual direcção, admitisse contudo o risco de vir a ficar “abaixo” dela.

Por mim, que defendo a necessidade de uma viragem à esquerda do PS, que acho suicida qualquer coligação de governo com qualquer dos partidos do atual governo e que não votarei no António Costa, não corro o risco de me vir a sentir desiludido pelo facto de, no caso de ele vencer, poder  vir a coligar-se com a direita. Discordarei, certamente, mas não me sentirei enganado. Aliás, é também por eu ter fundados receios, quanto a esse risco, que ele não tem o meu voto.

Mas há muitos camaradas que optaram por Costa na convicção arreigada de que ele representaria uma viragem à esquerda do PS , ou pelo menos a garantia de que não haveria coligações com a direita. Esses camaradas devem reflectir sobre os textos que aqui transcrevo. Devem reflectir e devem fazer ouvir as suas opiniões nesse e em todos os temas que achem relevantes. Por enquanto, pelo menos até às eleições de 28 de Setembro, nenhum dos dois candidatos pode encarar como descartável a opinião de cada um de nós.

Eis agora o artigo que, com referi,  é da autoria de Ana Sá Lopes, intitulado. Costa rejeita o pisca-pisca. Porquê?”; e tendo como subtítulo a seguinte frase:“Acreditar numa aliança à esquerda com Costa é cegueira ou propaganda”:

"António Costa decidiu não entrar na discussão daquilo a que chama a teoria do pisca-pisca – o PS sem maioria coliga-se à esquerda ou à direita? A pergunta deveria ser obrigatória no debate interno, já que uma das mais ferozes teses anti-Seguro é que este teria na agenda, depois da “abstenção violenta” ao primeiro Orçamento de Passos, uma coligação futura com o PSD. Para desespero de alguns que propagandearam Costa como o “candidato da esquerda”, o próprio optou por excluir a questão.
A eliminação do debate do pisca-pisca revela a aguda capacidade estratégica de Costa e protege-o de, se ganhar o partido, ter de aparecer a justificar uma aliança com o PSD. Não deixa de ser um aborrecimento: a proclamação desarma alguns dos seus mais próximos (e, vá lá, um bocadinho ingénuos) apoiantes. Depois de os ter levado aos píncaros com aquela frase agradável no arranque da campanha interna – “se pensarmos como a direita, acabamos a governar como a direita” – e de ter recolhido apoios de pessoas-mesmo-muito-à-esquerda convencidas de que o PS finalmente ia transmutar-se, Costa manda acalmar as hostes. É mais sério para António Costa não se comprometer naquilo que nunca poderá fazer: tirando o Livre (que não sabemos quanto vale em legislativas se efectivamente o PS se tornar uma força política mais forte), não há programa para coligações à esquerda. E quanto a currículo sobre coligações à esquerda na Câmara de Lisboa, é bom registar que Costa se coligou com o PS (Helena Roseta era uma militante socialista desavinda que entregou o cartão por motivos conhecidos) e com José Sá Fernandes, que nunca militou no Bloco de Esquerda. Os pergaminhos de coligações à esquerda do PS recuam ao século passado, quando Jorge Sampaio conseguiu aliar-se com o PCP na mesma Câmara de Lisboa. E uma câmara é uma câmara. Como é que se governa o país submetido ao tratado orçamental e ao “consenso europeu” com os partidos de esquerda? Infelizmente isso não existe no nosso mundo.

O que resta a Costa é a esperança no “outro PSD” que suceda a Passos e tenha alguma chama social-democrata mais acesa. Esse “outro PSD” chama-se Rui Rio, que uma vez por mês “não exclui” vir a ser líder na próxima vaga. É com ele – e com outros notáveis de direita que “estão contra este governo” – que Costa vai consensualizar no futuro. Acreditar noutra coisa é cegueira ou propaganda. As duas, infelizmente, costumam andar de mãos dadas." 

3 comentários:

Anónimo disse...

"Há duas maneiras de os militantes e simpatizantes entrarem nesta campanha. Escolherem um dos candidatos, apostando definitivamente nele, aconteça o que acontecer e diga ele o que disser. Ou subordinarem a sua preferência, seja qual for a sua intensidade, a um confronto constante entre aquilo que cada um de nós pense e aquilo que os candidatos forem revelando como eixos principais das suas opções. Esta segunda via parece-me mais saudável e mais fecunda."

Já vi que escolheste a menos saudável!

Não ´há textos com a posição do AJS sobre o assunto?

Anónimo disse...

Viste? Estás ceguinho.
Rui Namorado

Anónimo disse...

O que está a acontecer no PS é tudo menos "Claro". Quem Perfilha um Estatuto ou Programa desajustados, atira-se a tudo para encostar a sardinha á sua brasa...
Os homens de bem que contém o PS devem por mãos há Obra deixada por insignes Socialistas.
Para que se não percam os princípios e os valores Socialistas republicanos Universais...O Povo português merece mais do que isto - tratamento inqualificável - á porta-fechada e aberta. ´W demais o que se está a passar..!
Se o "Catraio" respeitosamente