quarta-feira, 4 de julho de 2012

RELVAS - o Magnífico

  Li hoje na página do Sapo a seguinte banalidade : "O ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares fez num ano uma licenciatura cuja duração é de 3 anos. O seu currículo profissional e a frequência em cursos de História e Direito ter-lhe-ão dado equivalências às restantes disciplinas". Ao que parece, a proeza foi conseguida na Universidade Lusófona.

A oposição deve ser firme , mas não pode ser sectária. Desde quando o facto de estarmos perante um óbvio sobre dotado constitui motivo de desconsideração intelectual ? Desde quando a circunstância feliz de estarmos perante alguém que o destino ungiu com o perfume da genialidade dá legitimidade à gente comum para se virar contra ele ?

Como acontece aos espíritos verdadeiramente grandes, como Relvas (que alguém, tocado por ressonâncias maquiavélicas, já foi ao ponto de considerar como um Magnífico), ele petiscou nos largos banquetes da História e sobrevoou as altas montanhas do Direito, sem se deixar prender nos formalismos pobres de ter que fazer cadeiras, nem escravizar pela destrutiva preocupação com as prosaicas notas. Pelo contrário, deixou a sua mente ser invadida sem peias  pelos ventos da História e deixou o seu raciocínio ser contaminado pela lógica férrea  e acutilante do mundo jurídico. Quanto ao seu currículo profissional, até onde a penumbra da sua lendária discrição nos deixa antever, ele consubstancia um casamento feliz entre a permanente tendência para as escaladas difíceis, só ao alcance dos verdadeiros alpinistas sociais, e o silencioso deslizar dos felinos, próprio dos predadores mais  subtis.

Por isso, a verdadeira notícia deveria ter sido: "O ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares aceitou despender um ano numa licenciatura, cuja duração é de 3 anos, apesar do seu currículo profissional e da frequência em cursos de História e de Direito serem mais do que suficientes para lhe ter sido passado o diploma". Este é realmente o  rosto adequado da notícia.

E, se alguma dúvida pudesse ilogicamente aflorar nos espíritos mais cépticos, bastaria recordar, como fez questão de revelar publicamente há poucos dias Helena Roseta, o célebre episódio da tentativa de favorecimento de uma empresa de Passos Coelho numa anterior passagem pelo Governo do licenciado Miguel Relvas, quando mostrou como é ágil a combinar a política com os negócios, para se compreender que tipo de Olimpo da gestão frequenta há muito o azougado ministro. Terá sido esse trabalho de campo o trabalho de licenciatura de Relvas ? Merecia.

E, se a essa revelação de um finíssimo sentido de oportunidade, acrescentarmos a dedicação que tem vindo a revelar para ajudar os jornalistas portugueses a encontrarem as sendas da verdade e da virtude, bem como a sua desenvoltura para se mover no pantanoso e perigoso terreno das secretas ( que podemos dizer, trata por tu) e a sua habilidade em dar vida a factos inexistentes e em esconder realidades desagradáveis, encontraremos razão não para um doutoramento, mas seguramente para um forte mestrado.

E, permitam-me , por fim, que me atreva ao incerto cometimento de uma hipótese conexa: as acusações depreciatórias das hostes apoiantes de Relvas às "novas oportunidades" são muito menos um epifenómeno irresistível das suas inclinações anti-socráticas do que a errada convicção de que elas tenham imitado o comportamento de algumas das suas figuras de referência. Erro. De facto, são coisas diferentes: as novas oportunidades implicavam esforço e eram uma porta aberta aos menos afortunados. Ora, o que está em causa na nova via relvática é apenas um acto de justiça prestada a uns poucos de eleitos que, tendo subido com modéstia os árduos degraus do mérito, desconsideraram as formalidades das avaliações e diplomas, pelo que de modo algum se pode considerar que estamos perante mais uma via para os menos afortunados. Pelo contrário, estamos  sim perante uma justa maneira de acrescentar fortuna a alguns afortunados.

Em suma, diga o que disser a maledicência invejosa da oposição, nós já sabíamos que tínhamos como oráculo do governo um expoente do ilusionismo virtuoso na gestão de oportunidades; sabemos agora que na sua ascética figura cabe também a profundidade do saber e o ascetismo de um pensamento , em boa hora, certificados.

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