segunda-feira, 4 de abril de 2011

O IMPORTANTE É A ROSA : um choque de qualidade.

Recentemente, num breve comentário feito num dos blogs de referência que temos à disposição, "A Nossa Candeia" da Ana Paula Fitas, usei a expressão "choque de qualidade", referindo-me àquilo que eu achava ser necessário submeter as listas de candidatos do PS às próximas eleições. Algumas das reacções suscitadas pelo texto, que a esse propósito aqui escrevi ontem, e algumas notícias vindas a público, ontem e hoje, levam-me a fazer agora um breve acrescento ao que ontem escrevi.

Na verdade, dada a impossibilidade objectiva de se realizarem agora eleições primárias para a escolha dos candidatos do PS, há que, pelo menos, exprimir, através da sua imagem global, uma metamorfose, no modo como eles têm sido escolhidos até agora. Metamorfose que, pela força das coisas, não sendo viável quanto aos métodos seguidos e quanto às instâncias que fazem as escolhas, se pode afirmar nos critérios de escolha. Ou seja, fazer-se uma escolha que designe os melhores, no sentido que indiquei no meu texto de ontem; uma escolha que garanta um grupo parlamentar competente, em todas as áreas polticamente importantes; um elenco de escolhidos que torne objectivamente evidente uma determinação inequívoca de separar o mundo da política do mundo dos negócios, dando assim vida a uma ética republicana, cuja simples proclamação será estéril.

Não achando inútil insistir nesta posição, não creio muito que ela seja adoptada. É certo que poucos ou nenhuns responsáveis se lhe oporão expressamente, talvez confiando na inércia das coisas para lhe barrar o caminho. E mesmo tendo havido quem exprimisse concordância com o que sugiro, a maioria vai certamente conformar-se com as rotinas.


Fazem mal. Um choque de qualidade, no conjunto das listas, é um dos poucos recursos ao alcance do PS , com potenciais efeitos positivos imediatos. Um choque que poderia contribuir para um acréscimo de prestígio muito significativo.


De facto, se o partido se conformar mansamente com a via sacra das rotinas instituídas, numa melancólica repetição de si própio, pode satisfazer expectativas e evitar dramas excessivos no processo de escolha, pode até permitir a execução de um catálogo de discursos previsíveis, que gritem unidade e vontade de vencer. Pode fazê-lo; mas será então uma simples girândola de previsibilidades, rodando sobre si próprias. Com que resultados ? Ao certo, não podemos saber. Mas já sabemos agora que, se for isso que acontecer, não terá sido feito tudo o que está ao nosso alcance, para que esses resultados sejam os melhores possíveis.


Anunciam-se já vários nomes no carnaval das hipóteses. Uns têm o peso fatal do "dejá-vu", outros não podem deixar de causar arrepios, mas alguns certamente seriam escolhidos, se fossem usados os critérios que sugeri. Dirão: podes então ficar parcialmente satisfeito. Engano, respondo eu.


Um conjunto nacional de listas de uma alta qualidade ostensiva só teria a ganhar com a inclusão de alguns dos nomes já alvitrados. Mas os mesmo nomes, num panorama nacional decepcionante, perderão uma grande parte da sua força, da sua energia política e do seu potencial irradiador de prestígio. Os mesmo nomes que podiam ser preciosos auxiliares na criação de uma imagem global de alta qualidade, podem não ser mais do que chamas mortiças, se fizerem parte de um panorama nacional previsível e medíocre.


É, na verdade, indispensável um choque de qualidade nas listas de candidatos do PS às próximas eleições legislativas. Um choque que pode contribuir para que se abram de novo para o PS as portas do futuro; mas cujo esquecimento pode, pelo contrário, ser a nuvem de desânimo que faltava, para abrir caminho à desesperança.


E, afinal, talvez seja pouco o que falta para se conseguir esse choque. Eventualmente, que cada potencial candidato se lembre e se convença de que não é a sua carreira o que é importante, que não são os seus legítimos sonhos pessoais que são importantes; e que todos os dirigentes compreendam que eles não são tudo no partido, que a perpetuação do seu poder não é tudo. Enfim, talvez baste que todos sintam com autenticidade que, como alguém disse um dia longe de Portugal, mas perto dos corações socialistas: o importante é a rosa !

4 comentários:

Ana Paula Fitas disse...

Caro Rui,
Honra-me e deixa-me a sorrir, feliz como as rosas!, a gentil referência ao A Nossa Candeia... e não só pela admiração e respeito que me merece o autor mas, também, pela pertinência perspicaz, séria e inteligente do texto em que tal referência foi feita.
Muito, muito obrigado!
Aproveito, entretanto, para lhe dizer que estou neste momento a redigir o Leituras Cuzadas (depois de uma interrupção de acesso à net, felizmente já superada) em que irei fazer dois links para 2 textos que escreveu e partilhou connosco, os leitores, aqui no O Grande Zoo.
Um grande abraço... e sim, "O importante é a Rosa"! :)

JM Correia Pinto disse...

Meu Caro Rui Namorado
Lá continuas na busca inglória do Santo Graal que jamais encontrarás por essas paragens.
Sobra-te a honestidade da procura, falece-te a possibilidade do achamento.
Mas sempre um grande abraço Amigo e um leitor atento

Rui Namorado disse...

Cara Ana Paula:

Agradeço o seu comentário e também o que escreveu nas suas "leituras cruzadas". Ser elogiado por quem escreve com inteligência, olhando para tantos horizontes, encoraja a persistência de continuarmos a navegar.
Grande abraço.

Rui Namorado disse...

Caro Correia Pinto:

Li o teu texto e não pude deixar de, intimamente, sorrir. De facto, descobri sem espanto, que eu poderia ter escrito exactamente o mesmo texto a teu respeito.

E essa simetria não deixa de, objectivamente, nos honrar a ambos.

Abraço antigo.