terça-feira, 22 de junho de 2010

Cataventice ou puro oportunismo ?


1. Em textos de crítica à candidatura presidencial de Fernando Nobre, publicados neste blog, aludi à opção monárquica do candidato, por ele ocultada na sua identificação politico-ideológica que tornou pública. Apoiei-me no facto de ele ser o Presidente da Assembleia Geral do Instituto da Democracia Portuguesa, entidade directamente ligada à Causa Real, que "tem como Presidente de Honra, S.A.R. o Duque de Bragança, Senhor Dom Duarte", de acordo com informação disponível no próprio site da Causa Real. Actualmente, foi acrescentado nesse local que o referido candidato tem o seu mandato suspenso, o que mostra estarmos perante uma informação actual e actualizada.
Mais recentemente, em declarações prestadas ao DN, Fernando Nobre afirmou-se como republicano. Há uns dias atrás, no decurso de uma conversa com um cooperativista meu amigo, foi-me dito que ele próprio tinha ouvido, há cerca de dois anos atrás, num colóquio sobre economia social realizado em Cascais, Fernando Nobre afirmar-se publicamente como monárquico. Perante tais incongruências fiz uma breve pesquisa na internet, para procurar informações num ou noutro sentido.

2. Rapidamente, encontrei, no blog “Realistas – portugueses de corpo e alma” [http://www.realistas.orgr/bio.html],informação relevante. Realmente, é aí mencionado um pequeno número de monárquicos ilustres, entre os quais se inclui o nome de Fernando Nobre.

Por outro lado, no blog Esquerda Republicana numa postagem de 7 de Junho de 2010, sob o título “A pirueta de Fernando Nobre”, pode ler-se o seguinte texto:
"Fernando Nobre, quando lançou a sua candidatura, foi assinalado como monárquico. Numa entrevista de Fevereiro, respondeu:«Era monárquico? Pertenci há uns anos à Causa Real. Já não pertence e já não é monárquico? Sou simpatizante.»
Passam-se três meses e a resposta é esta:«É monárquico ou republicano? Não sou monárquico, sou republicano. É uma inverdade, acho isso espantoso. Pelo que me foi dito, ainda na última entrevista, o dr. Manuel Alegre salientou que até tinha apoios de monárquicos. Ninguém se lembra de perguntar ao dr. Manuel Alegre se ele é monárquico ou republicano. Eu sou português, sou respeitador de nove séculos, quase, da História de Portugal. Estou nesta candidatura para unir todos os portugueses, o que passa por unir os republicanos, os monárquicos, os imigrantes naturalizados, todos. Porque acredito que na fase em que o nosso país está não é o momento de ostracizar seja quem for. Nós precisamos de nos unir. Eu estou aqui enquanto candidato à chefia da Nação portuguesa. Posso dizer que não sou monárquico mas que respeito integralmente nove séculos da História de Portugal e que sou amigo do senhor D. Duarte, como sou amigo do Adriano Moreira, como sou amigo…»Enfim. Qual é o verdadeiro Fernando Nobre? "

3. Estes tópicos, no seu todo, mostram claramente que, quando o candidato em questão se afirmou, em declarações à comunicação social, como republicano, ou estava a anunciar uma mudança de opção (renegando a sua velha opção monárquica) ou estava a mentir. Ora, deve sublinhar-se que nas suas declarações ele nunca se apresentou como um republicano que tivesse deixado de ser monárquico. Pelo contrário, escamoteou a sua opção monárquica, talvez, por achar que ela prejudicaria a imagem política de si próprio que queria construir.

Uma tal ocultação da verdade, por parte de um candidato à Presidência da República, mereceria sempre uma forte censura ética. Mas quando essa ocultação é praticada por alguém que se apresenta como uma espécie de cidadão perfeito, muito superior aos toscos e suspeitos aglomerados partidários, melifluamente apontados como os grandes culpados de todas as dificuldades vividas pelo nosso país, estamos perante um verdadeiro embuste. Um embuste com uma enorme carga de desonestidade intelectual e política.


Quanto à possibilidade de Fernando Nobre ser monárquico e ser candidato a Presidente da República, nada há a objectar. No entanto, esconder a sua opção monárquica, renegando publicamente as suas convicções, por mero calculismo eleitoralista, representa um aleijão irremediável no perfil etico-político de qualquer candidato presidencial.


E é esse aleijão que torna legítimo pensar-se que a sua imensa e bem conhecida versatilidade política, que o levou, num período de pouco mais de seis meses, ao longo de 2009, a apoiar, primeiro, o BE e depois, em simultâneo, candidatos autárquicos do PSD e do PS, é um fenómeno mais perverso e censurável do que aquilo que sugerem as simples aparências.

Na verdade, tudo isso faz com que seja legítimo pensar-se que Fernando Nobre, apenas foi tão versátil na referida distribuição de apoios, por julgar que isso lhe convinha na perspectiva da candidatura presidencial que actualmente protagoniza. Ter-se-ia, assim, tratado, neste último surto de apoios, muito mais de cultivar boas vontades, encorajadoras de futuros apoios de que pensava vir a precisar, do que uma convicta "cataventice" política.

Mas, pense-se o que se pensar desta possível interpretação da multiplicidade de opções acima mencionada, do que parece não haver dúvida é que o candidato presidencial Fernando Nobre se assumia há muito publicamente como monárquico, só tendo descoberto o seu "republicanismo" , quando lhe pareceu que isso seria positivo na perspectiva de uma candidatura presidencial que, embora estruturalmente ambígua, não podia correr o risco de uma completa inverosimelhança da sua procurada tonalidade de esquerda.

Estamos pois, aparentemente, perante um embuste político friamente premeditado, que no essencial se traduz na tentativa, levada a cabo por uma personalidade claramente radicada na direita do espectro político, de se fazer passar por alguém impregnado pelos valores e pelas grandes opções estruturantes da esquerda.

Como acontece com quase todos os " grandes salvadores", eis-nos perante alguém que afinal precisa de ser salvo.

É por tudo isso que é para mim um mistério, cada vez mais denso, que ainda haja quem, considerando-se a si próprio de esquerda, se deixe envolver numa tão descarada mistificação.

3 comentários:

b m disse...

Meu querido Rui,

Como aqui há tempos disseste, citando um n/ querido amigo e teu companheiro de "República", estamos é perante um "salada de frutas".
Um abraço

( bento )

ahp disse...

Fernando Nobre, como director da AMI, era um cidadão com um certo prestígio. Pena é que o tenha desbaratado ingloriamente nesta sua desastrada incursão na política, em que se tem comportado como um troca-tintas.

aminhapele disse...

Em minha opinião,ahp disse tudo.
Parece-me que lhe estás a dar demasiado "tempo de antena".