domingo, 23 de março de 2008

O seu a seu dono

Afirma-se no diário AS BEIRAS que no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra(ISEC) se converteram 1.400 bacharéis em licenciados, sem que tivesse sido exigida a prestação de quaisquer provas ou cadeiras adicionais. Informa-se que não aconteceu assim noutras instituições, onde se obrigou ao cumprimento de um plano de transição como condição para a referida conversão. Mostra-se que o ISEC seguiu um caminho simplificador ao ter valorizado genericamente a experiência profissional adquirida por esses novos licenciados.


No entanto, parece-me um tanto precipitado atribuir ao ISEC todo o mérito dessa decisão criativa ou fazê-lo carregar em exclusivo a culpa por ter usado um tal atalho.


Na verdade, o que o ISEC fez foi seguir a lógica mais funda do Processo de Bolonha que, até agora, teve como um dos poucos efeitos práticos palpáveis, já adquiridos, passar a designar como licenciaturas os antigos bacharelatos. Aplauda-se ou apupe-se o ISEC pela sua criatividade, mas não se esqueçam os outros destinatários.


De facto, há mudanças profundas em curso no Ensino Superior em Portugal que podem vir a revelar um dia alguns aspectos positivos. A situação em que se estava ( e de onde está longe de se ter saído) exigia um processo longo de transformação. Essa necessidade, todavia, não torna automaticamente certa qualquer medida que procure responder-lhe. Podem tomar-se medidas erradas.


É ainda cedo para que se possa fazer um balanço objectivo dos méritos e deméritos do Processo de Bolonha, mas vai ficando claro que algumas das suas consequências mais receadas se revelam como cada vez mais prováveis. Em contrapartida, o que o Processo oferecia de mais esperançoso, cerne, aliás, do que foi apresentado como sendo a sua razão de ser, continua bem longe num horizonte temporal que parece afastar-se.


É que, por detrás de um ostensivo ímpeto de inovação, qualificação e enraizamento social que deu todo o seu brilho ao rosto do Processo de Bolonha, sempre se moveu subreptícia e corrosiva uma agenda oculta de cega poupança e de desresponsabilização financeira do Estado.


Ora, essa dissimulação genética, que contaminou o processo, pode transformar-se numa espiral perversa: falhada a poupança por impossibilidade política de levar as sequelas financeiras ao extremo da sua lógica, o poder político pode ser tentado a enveredar por uma atrofia lenta do nosso sistema público de ensino superior, ficando assim consumado tudo o que de perverso pode ter o Processo e cada vez mais distantes as suas virtualidades.


E tudo isso, que já é muito, tem ainda um pequeno problema suplementar: os estudantes podem romper com a sua actual e relativa mansidão.


3 comentários:

Anónimo disse...

Como arranjaste isso de bloquear os comentários?
EStou, no essencial de acordo contigo;Acho que a vida, quando é esforço e transpiração merece reconhecimento...
A falência do sistema educativo vê-se exactamente por aí: aqueles que o sistema não reconheceu e tornou egressos, são muitas vezes os bem sucedidos na vida activa... E são eles que vão dar emprego aos diplomados pelo sistema...
O sitema Educativo precisa de ser refundado e é nele que assentará o sucesso deste, ou de qualquer outro país... Como me dizia um dinamarquês, faz tempo, nós não temos outros recursos.... temos que apostar na massa cinzenta...

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

RN pergunta:

O que queres dizer quando fals em eu ter bloqueado comentários ?