São dias de um chumbo aveludado, mas asfixiante. As vozes parecem veladas. Os gestos parecem tolhidos. As sombras ditam a lei, como se estivessem vivas. Os prégadores numerogam a desgraça, ficcionado-a como neutra. A maré lenta dos povos agita-se ao longe. A Europa é um outono melancólico que se recusa a andar. Ministros deixam os olhos perderem-se no Tejo como navios sem regresso. Aspiram um poder de fim de tarde com a volúpia constragida de quem não sabe muito bem se tem alguma coisa que possa fazer. Neste crepúsculo indolente, resolvi recorrer uma vez mais a Bertolt Brecht, sempre na sua versão portuguesa de Paulo Quintela:QUEM FICA EM CASA QUADO A LUTA COMEÇA
Quem fica em casa quando a luta começa
E deixa os outros combater p'la sua causa
Tem que ter cuidado: pois
Quem não partilhou da luta
Partilhará da derrota.
Nem sequer evita a luta
Quem evita a luta: pois
Lutará p'la causa do inimigo
Quem não lutou p'la própria causa.
[Bertolt Brecht]
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