quarta-feira, 13 de julho de 2011

QUEM FICA EM CASA QUANDO A LUTA COMEÇA

São dias de um chumbo aveludado, mas asfixiante. As vozes parecem veladas. Os gestos parecem tolhidos. As sombras ditam a lei, como se estivessem vivas. Os prégadores numerogam a desgraça, ficcionado-a como neutra. A maré lenta dos povos agita-se ao longe. A Europa é um outono melancólico que se recusa a andar. Ministros deixam os olhos perderem-se no Tejo como navios sem regresso. Aspiram um poder de fim de tarde com a volúpia constragida de quem não sabe muito bem se tem alguma coisa que possa fazer. Neste crepúsculo indolente, resolvi recorrer uma vez mais a Bertolt Brecht, sempre na sua versão portuguesa de Paulo Quintela:


QUEM FICA EM CASA QUADO A LUTA COMEÇA


Quem fica em casa quando a luta começa

E deixa os outros combater p'la sua causa

Tem que ter cuidado: pois

Quem não partilhou da luta

Partilhará da derrota.

Nem sequer evita a luta

Quem evita a luta: pois

Lutará p'la causa do inimigo

Quem não lutou p'la própria causa.


[Bertolt Brecht]

Sem comentários: